Política

A REALIDADE DA POBREZA EM SSA QUE VIRALIZOU NO BJÁ: + DE 262.000 VIEWS

Viva o jornalismo e a exposição da cidade como ela é, sem maquiagem
Tasso Franco ,  Salvador | 06/03/2025 às 12:58
Alguns comentários dizem que essa foto é montagem
Foto: BJÁ

    O BAHIAJÁ vai completar 19 anos de existência e somos uma empresa pequena, com equipe diminuta, muito amor ao jornalismo e respeito à atividade mostrando a Bahia com fidelidade à informação respeitando a todos e dando espaços igualmente a todos.

   Eventualmente, uma das nossas noticias viraliza e ficamos orgulhosos disso. Ano passado, uma crônica sobre a cidade de Salvador enjaulada que estará em meu livro "O Andarilho da Cidade da Bahia" recebeu mais de 100.000 views.

   Agora, no Carnaval, uma matéria comentário que fiz publicado no último dia 25, editoria Direito, titulo "A Favela mostra sua cara no Carnaval e expõe sua pobreza na avenida" com uma foto mostrando colchonetes e panos na murada da Av. Sete trecho do Farol da Barra (vendo-se ao fundo o farol) em que atesto uma realidade que todos viram (quem foi ao Carnaval), já ultrapassou 262.000 views e 3.585 comentários de todo o país e do exterior.

   Nosso objetivo não foi de condenar essa ou aquela autoridade, os atuais gestores que estão nos comandos nos planos federal, estadual e municipal (como citados sem nomes na matéria de apenas 7 pequenos parágrafos) porque essas cenas já acontecem desde quando colocamos o BJÁ, em 2006, e já havia antes disso (são históricas), e cresce a cada ano. 

  O que mostramos foi apenas uma realidade. É isso que o jornalismo faz. A matéria viralizou com comentários de várias partes do Brasil e do exterior, muitos dos quais, politizados da turma do politicamente correto, o que em nada nos abala (muitos dizendo, até, que houve montagem da foto) porque nada do que disse é irreal, mentiroso ou coisas desse gênero. 

   Quem vive em Salvador e acompanha o crescimento populacional da cidade e da pobreza sabe que não estamos dizendo inverdades. 

   Em "A Trilha Perdida - caminhos e descaminhos do desenvolvimento baiano do século XX", Noélio Dantaslé Spiniola, (Editora Unifacs, 2009, pag.85) diz: "A pobreza na Bahia originou-se, inicialmente, no modo de produção escravista, característico do processo de exploração colonial realizado pelo capitalismo agrário-mercantil europeu que consumiu 400 anos da histórica brasileira. A passagem desse regime para o do trabalho livre foi marcado pela ausência de um conjunto de reformas estruturais no sistema sócio politico e econômico do país, notadamente naqueles que se faziam necessários na área educacional e no meio rural".

   São muitos os fatores a considerar e Noélio cita que, até "1875, a Bahia foi o maior centro têxtil do Brasil, mas sua perda de posição, dai por diante, seria constante e irreversível. Persistiu, para além do século XIX, um tipo de economia originária da Colônia, enquanto no Sudeste do Brasil, instalou-se um tipo de desenvolvimento capitalista calcado no modelo europeu ocidental pós-revolução industrial".

   E Salvador sofreu muito com isso porque era a capital da colônia até 1763 (e importadora de escravos), a indústria açucareira desintegrou-se e as indústrias têxteis desapareceram do mapa já em meados do século XX e houve um processo migratório intenso à cidade (as secas foram também determinantes) atingindo, em 1970, 1 milhão de habitantes.

    Veja: faça as contas: de 1549 (data de fundação da cidade) a 1970 (431 anos de existência) pulamos das aldeias tupinambás e da cidade de Thomé de Souza com algo em 10 mil habitantes para 1 milhão; e nos últimos 75 anos (1970 a 2025) saltamos para 2.900.000 de habitantes. 

   O território do município Salvador não estica, não se amplia, está quase todo ocupado sem planejamento prévio urbanístico; nem familiar. Nesse ritmo em mais 75 anos Salvador estará com 6 milhões de habitantes no ano 2.100. 

   É isso que é preciso se enxergar: a pobreza duplicou, triplicou, e não é culpa de A ou B e sim de um conjunto de fatores e também não se pode colocar todas as mazelas no modelo escravista colonial português, porque, se louvamos a independência du jugo português desde 1822/1823, e implantou-se uma República, em 1889, já teria dado tempo demais para fazer as mudanças estruturais. 

   A República já tem 136 anos de existência e Salvador embora tivesse a primeira escola médica do país em nível superior (1808) ainda com Dom João VI só vai ter sua primeira Universidade em 1946. O metrô de Paris roda desde 1900. E o de Salvador ainda está na juventude.

   Muita coisa já mudou, já melhorou, muitas politicas públicas foram implantadas e implementadas, mas, não acompanharam a níveis desejados o crescimento da população dos guetos e favelas, em Salvador, chamadas de invasões ou assentamentos subnormais, estimados em mais de 500.

   Então, nossa matéria que viralizou é apenas a constatação de uma realidade nua e crua. E posso atestar aqui porque tenho 80 anos de idade e 55 de jornalismo e acompanho e ando pela cidade que isso não vai se modificar como desejado porque não há projetos estruturantes nessa direção.(TF) 

* Veja video no YouTube no canal de Sêo Franco sobre a materia que viralizou.