Ninguém consegue dar um jeito na pobreza da cidade da Bahia a visibilidade dos negros-mestiços é maior, na consciência, porém, a pobreza segue adiante
Tasso Franco , Salvador |
07/04/2025 às 12:36
Os negros seguem nos serviços ausiliares
Foto: BJÁ
A República foi instalada no Brasil em 1891. Entre este ano e o final do século XX (1999) se passaram um século e 9 anos (109 anos) e a pobreza em Salvador ao invés de reduzir, aumentou. E, claro, nas comunidades euro-negro-mestiças da periferia, do gueto.
Já comentamos aqui que a explosão demográfica mais intensa aconteceu nos anos iniciais de 1970 quando a cidade atinge 1.000.000 de habitantes e agora vamos comentar sobre o período conhecido como o da Quinta República que vai de 1983 a 1999, tempo democrático de eleições diretas.
Lembrando aos eleitores que as Repúblicas foram a primeira com o golpe de estado do marechal Hermes da Fonseca, entre 1891-1929, também chamada de República Velha; a segunda vai entre 1930 a 1946, com outro golpe de estado, a era Getúlio Vargas da Revolução Tenentista do Estado Novo; a terceira, vai de 1947 a março de 1964, período democrático; a quarta ditadura militar entre 1964-1982 quando os governadores e prefeitos de capitais eram nomeados; a quinta, a partir de 1983, que passou a ser denominada de Nova República, que segue até os dias atuais, embora, nesse comentário pararemos em 1999, ano em que a cidade do Salvador completou 450 anos de existência.
Os governadores da Bahia, nesse período, todos eleitos pelo voto direto, secreto, em urnas, foram João Durval Carneiro (1983/1986), Waldir Pires (1987/maio de 1989 quando renuncia para ser candidato a vice-presidente da República; Nilo Coelho (maio de 1989/1990); ACM (1991-1994): Paulo Souto (1995-1998); César Borges (1999/2003). E os prefeitos Manoel Castro (substituiu MK ainda nomeado (final de 1982/1984); e os eleitos pelo voto Mário Kértész (1985-1988), Fernando José (1989-1992), Lídice da Mata (1993-1996), Antônio Imbassahy (1997-2004), dois mandatos.
Importante observar que ACM voltou ao topo do poder no estado, em 1991, mas só reconquista a Prefeitura de Salvador, com Imbassahy, em 1997, nesse período intermezzo o governo do estado fazia alguma coisa na cidade e os prefeitos outras (MK, Lidice e Fernando) e esse descompasso só fez prejudicar Salvador. MK fez uma gestão inovadora com escadarias para os pobres e outras ações, Fernano e Lidice afundaram a cidade e Imbassahy começou uma espécie de restauração com a ajuda do governador Paulo Souto, o qual destaca Carrera para promover um mutirão de limpeza.
Observa-se que no plano da pobreza entre 1983 e 2000 quando a cidade do Salvador já ultrapassava a marca de 2.200.000 habitantes nada foi feito de maneira direcionada para o emprego e renda da pobreza.
O governo Durval enfrentou a recessão da economia nacional, com queda de 2.3% do PIB e suas ações maiores se concentraram no interior do estado. A agenda mais relevante na Bahia, de acordo com Noélio Dantas Spinola, em “A Trilha perdida: caminhos e descaminhos do desenvolvimento baiano no século XX” (Editora UNIFACS) foram as “articulações para consolidar a indústria petroquímica a revisão e atualização do Plano diretor do Copec, implantação da CETREL e do Distrito Industrial de Calçados (DICA), no CIA; e a Bahiaálcool que se transformou na Agrobahia”.
No Brasil, o período 1983/1993 é também considerado como o da “década perdida” na economia e a Bahia, por se situar no Nordeste sofreu ainda mais. Waldir, quando assumiu em 1987 ainda encontrou esse quadro e disse que “para mudar a Bahia era preciso muar o Brasil” e se lançou numa campanha quixotesca a presidente da República, pior, aceitando ser o vice na chapa de Ulysses Guimarães e passando o governo a Nilo Coelho. Parecia uma coisa do outro mundo e nem seus correligionários acreditavam.
Assim, permitiu a volta de ACM, em 1990, pelo voto direto, o qual na economia amplia-se a Copene, inicio da operação da Bahia Sul Celulose, ampliação da Refinaria Landulfo Alves, construção da Linha Verde (turismo) e recuperação do Centro Histórico.
Como já tinha sido prefeito da capital dedicou atenção a Salvador e o turismo deu um salto, projeto que, de fato, melhorou a vida das pessoas da baixa renda criando alternativas novas de empregos e rendas.
Na cultura é também nesse período ampliado (1983-2000) não obra do governo e sim de artistas que surge a Axé Music (teve apoio da Prefeitura nos carnavais) e a geração de empregos em boa escala para técnicos de som, instrumentistas, compositores, cantores, produtores, blocos carnavalescos implantando-se uma enorme rede de negócios, diferente do movimento da Tropicália, da Era do Rádio e da época de Caymmi, da Bossa Nova, porque chegou a pobreza e retirou dos guetos e do anonimato muita gente.
Voltando a macro economia baiana, já no governo Paulo Souto houve uma tentativa de se criar um pólo automotivo na Bahia com a Ásia Motors, frustrada, o que só vai acontecer no governo César Borges, mais adiante, com a Ford. Houve investimentos no governo Souto na produção agrícola, na mineração e no distrito industrial eletrotécnico de Ilhéus.
Esses investimentos da macroeconomia não chegavam a atender a pobreza, em Salvador, que continuou se virando como podia no comércio e serviços.
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Devemos também analisar que nesse período ampliado aconteceram, ao menos, dois fatos políticos e nos campos social e do sindicalismo importantíssimos que foram a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), avanços e ampliações do sindicalismo e conscientização dos negros-mestiços do seu papel na sociedade e de uma reparação.
O PT nasceu com mais força em São Paulo e embora estivesse voltado com maior atenção para o operariado das indústrias se espalhou pelo país como o partido dos trabalhadores de uma forma geral e vai crescer e chegar ao poder no século XXI.
Essa raiz implementada na década de (1982/1992) a partir do Pólo Petroquimico de Camaçari (donde saíram dois governadores Jaques Wagner e Rui Costa) e da área Petrobras em Candeias chegou forte a capital que era a cidade dormitório e de maior visibilidade na mídia, sobretudo depois que o PT elegeu representares para a CMS, Assembleia e Câmara Federal.
A ampliação do sindicalismo que inicialmente se centralizava na petroquímica, química, etc, se estendeu em direção aos pobres – rodoviários, empregadas domésticas, auxiliares de enfermagem, etc,, e ampliou-se o movimento negro (UNEGRO e outros) com a criação de entidades com voz voltadas sobretudo para a conscientização. Demorou de pegar, mas pegou.
Esse movimento exigia mais espaços aos negros mestiços nos empregos dos shoppings, das novelas de TV, mais qualificação profissional, reparações diversas, universidades novas, e em 2003 o prefeito Imbassahy criou a Secretaria Municipal da Reparação colocando como titular Arani Santana, professora licenciada em Letras, UFBA, integrante do Movimento Negro e do Ilê Aiyê, que fora apresentadora do Beleza Black (1988/19980), na TV Itapoan, e essa mesma Arani vai ser secretária da Cultura do Estado, em 2017, com Rui Costa, governador.
Bem, o relevante a situar é que, a cidade do Salvador, em 2000 já tinha 2.200.000 de habitantes e, apesar de todos esses movimentos, a pobreza continuava centralizada nos negros-mestiços, em sua maioria, porque faltava algo mais direcionado especificamente para eles. É o que vereamos no próximo capitulo período 2001 a 2025.