Cultura

BAIANA DE 20 ANOS APRESENTA ARTIGO EM CONGRESSO ACADÊMICO NOS EUA

Liz Varela é a primeira estudante universitária a apresentar um artigo no Congresso Brazilian Studies Association

Samuelita Santana ,  Salvador | 07/04/2024 às 13:21
Liuz Andrade Varela, 20 anos de idade
Foto: DIV


Num país onde a qualidade em educação alcança os piores índices no ranking das pesquisas mundiais, chegando a ocupar o último lugar entre 64 nações avaliadas pelo IMD Wordl Competitiveness Center, além de ser o terceiro pior em investimento por aluno, à frente apenas do México e da África do Sul, segundo dados recentes levantados pela OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento, é promissor observar jovens brasileiros fazendo a diferença e se destacando nos ambientes acadêmicos internacionais.

É o caso da jovem baiana Liz Andrade Varela, 20 anos, bolsista da Davidson College, uma das universidades mais reconhecidas dos Estados Unidos. Liz é estudante de Ciências Políticas e Estudos Educacionais, na Davidson, com foco em justiça social e, nesta sexta-feira, 4, carimbou a marca de ser a primeira estudante universitária a apresentar um artigo no Congresso da BRASA - Brazilian Studies Association, em sua sétima edição, em San Diego, EUA.

"É louco imaginar que estou aqui, junto de tanta gente importante e brilhante", disse emocionada, lembrando que o Congresso reúne os mais renomados pesquisadores sobre o Brasil, a maioria doutores. "Me sinto privilegiada, feliz e extremamente honrada de estar presente nesse espaço", revela modestamente, sem condecorar o empenho, a dedicação e o esforço pessoal que, certamente, originária de um país em que a educação não é priorizada como deve ser, lhe fez chegar até ali.

Liz ingressou no Colégio Militar de Salvador (CMS) através de concurso em 2015, onde estudou até completar o segundo ano do Ensino Médio. Logo depois, empenhada e com uma ideia na cabeça, conseguiu uma bolsa para estudar no Colégio Leffler, também em Salvador, escola que a ajudou a se preparar para conquistar o sonho de estudar fora do país. E, nessa sexta-feira, 4 de abril, lá estava Liz Varela apresentando o seu artigo para notórios acadêmicos, após passar cinco semanas na Irlanda do Norte, estudando Segregação Educacional, em Belfast, cenário dos violentos conflitos entre católicos e protestantes, conhecidos como “The Troubles”, iniciados nos anos 1960 e minimizados com o Acordo de Belfast, em abril de 1998. O pacto estabeleceu bases para um novo governo compartilhado entre os dois segmentos religiosos.

O cenário de estudos de Liz Varela, ainda hoje é extremamente marcado pelas divisões sociais geradas pela guerra entre a maioria protestante, que quer manter laços com a Grã Bretanha e a minoria católica, que se considera irlandesa e quer se juntar à República da Irlanda. A estudante fez uma revisão da literatura produzida por pesquisadores acerca da segregação na Irlanda do Norte, fazendo um paralelo com a real segregação no Brasil, entre brancos e negros, ricos e pobres, traçando um recorte entre estudantes de escola pública e aqueles de escola particular. Liz Varela argumenta que a segregação que impede que estudantes de origens diferentes interajam e normalizem suas diferenças, intensifica a polarização política e prejudica o acesso e a qualidade da educação, em ambos os casos. 

 A experiência da baiana Liz Varela, como única estudante universitária na conferência, da BRASA, é um exemplo de não conformismo com uma realidade adversa e com o sistema educacional brasileiro, que deixa fora da escola nada menos que 9,6 milhões de jovens de 15 a 29 anos, equivalendo a 19,8% da população brasileira. Os dados são da Pnad /2022- Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua, divulgados pelo IBGE, Mais que um incentivo aos jovens brasileiros que lidam com essa árdua realidade, o bom êxito de Liz Varela no centro de um espaço acadêmico internacional, nos remete a um sentimento de futuro, fundamentado no próprio objetivo da estudante. Ela revela que o seu maior sonho é voltar ao Brasil e impactar a educação do país, tornando-a mais igualitária, inclusiva e focada nas habilidades sócioemocionais, tão necessárias e essenciais ao estudante, à pessoa e ao profissional do século XXI.