Depois de um breve cochilo, a escuna segue para a área do porto de Salvador, que fica
próxima, para se incorporar à procissão do N. S. dos Navegantes
Otto Freitas , Salvador |
17/12/2012 às 08:22
Escuna de Jeffinho está pronta para o grande réveillon dos gorodos
Foto: DIV
Jeffinho está organizando o revellion do gordo. Será uma festa de arromba, com tudo o que se tem direito, para entrar em 2013 no maior astral. É negócio de profissional, praticamente uma rave no mar da baía de Todos os Santos, pois vai durar a noite inteira e todo o dia seguinte. A alegria e o bom humor já estão garantidos pela lista de convidados, rigorosamente selecionados an petit comitèe.
Será o baile da igualdade, contra o preconceito e a discriminação. É festa de gordo, mas convidado pode ser magro, de qualquer cor, credo e preferência sexual. Quem quiser se fantasia (Jeffinho, por exemplo, vai de Sargento Garcia disfarçado de Zorro). Só há uma restrição: será atirado ao mar, sem apelação (mas com um colete salva-vidas), o primeiro que perguntar a qualquer gordo por que ele não faz cirurgia bariátrica.
A produção é de alto nível, com apoio capaz de realizar reabastecimento rápido no mar. Primeiro de tudo, o barco é adequado ao evento: aguenta peso e tem bastante espaço, pois gordo não gosta de aperto, fica logo com falta de ar. Além da tripulação, do DJ, do barman, dos garçons e do pessoal do buffet, uns dois salva-vidas estarão a postos, por garantia.
No convés, tem pista de dança e lugar para acomodar o buffet, o barman e o DJ ; e na cabine, além do toilette, um lounge com estofados confortáveis para a galera descansar, tirar um cochilo, pois a peleja será grande.
Escolhido a dedo, o DJ é eclético e criativo, toca bate-estaca, rock and roll , samba, reagae, funk, soul e blues, passando pelo arrocha de Silvano Sales e o afro-pop pós-moderno de Carlinhos Brown.
O buffet atenderá a todos os paladares: frutas, sushis e saladas; patês variados, como o bom e velho foie-gras, com torradinhas e nachos; pernis de porco e de cordeiro bem suculentos; farofas de miúdos e de feijão verde com lingüiça e carne seca; cuscus marroquino e paulista. De sobremesa, muitas cocadinhas de todos os sabores e consistências.
Para beber, além da cerveja, dos tintos, brancos e espumantes, e drinks coloridos, não vão faltar os destilados (uísque, tequila, vodka, cachaça, etc) para quem gosta dos líquidos que fazem mais a cabeça, por assim dizer. E água, muita água, com e sem gás, incluindo a tradicional Perrier.
O café da manhã será clássico: frutas e sucos variados; café, chá, leite e chocolate quente; iguarias nordestinas, como mingaus e cuscuz de milho e de tapioca; bolos de aipim, de carimã e de milho; queijos e geleias; biscoitos e pães, incluindo brioches e croissants; sem contar os sagrados ovos de quintal, em apresentações diversas - fritos, mexidos, pochê e beneditinos.
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Com o barco abastecido, decorado com muita cor, luz, crítica e ironia, e todos a bordo, chega a hora da partida, por volta das 21 horas, marina da Contorno. A nave elétrica estará pronta para voar, já que o mundo não vai mesmo acabar, como imaginavam os Maias.
O navio doido zarpa tomando o rumo do farol da Barra, onde ficará ancorado ao largo, para o espetáculo dos fogos e os brindes da meia-noite. Após a virada do Ano Novo, deixa o farol e segue em velocidade de cruzeiro, para bordejar bem perto das praias da península de Itapagipe.
Nesse canto da baía de Todos os Santos, o mar é calmo; a brisa de verão sopra preguiçosa na madrugada. O barco desliza lento sobre o espelho que reflete a beleza das luzes e dos contornos da Cidade Alta, da Cidade Baixa (com o brilho colorido da igreja do Bonfim) e do subúrbio de Salvador. É um visual emocionante, inesquecível.
A nave não balança, vai tão devagar que parece imóvel. Bom para dançar. A essa altura, no convés, a galera já pegou pressão. É sobe som na caixa, hora de comer e beber bem, sem medo nem culpa, e se divertir até o sol raiar. Perto do amanhecer, o barco já está de volta e ancora no Porto da Barra, para o café da manhã a bordo e um banho de mar nas águas transparentes.
Depois de um breve cochilo, a escuna segue para a área do porto de Salvador, que fica
próxima, para se incorporar à procissão do N. S. dos Navegantes. Embarcações de todos os tipos e tamanhos acompanham a galeota com a imagem do santo, até a casa dele, a igreja da Boa Viagem, na Cidade Baixa. A fé se incorpora, mas a farra e a festa permanecem a bordo.
No final da manhã do dia 1º de janeiro, quando a procissão acaba, o barco dos gordinhos aponta a proa para o último compromisso da programação: almoço em restaurante, previamente reservado, na Ilha de Maré. De preferência, salada, moqueca ou ensopado de peguari. Quem não quiser se deliciar com essa raridade, típica da região, pode comer peixe, camarão, lagosta, ostras.
Após o café e os licores, é hora de voltar para casa - mais gordo, mais feliz, todo mundo pronto para o novo ano, com dieta, malhação e tudo o que faz parte dessa difícil vida de gordo.