Em ano de revisão da situação da anta brasileira na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção do ICMBio, projeto ressalta a importância da espécie para a biodiversidade
iPÊ Raquel Alves , Brasil |
27/04/2025 às 10:38
Anta brasileira
Foto: Ipê
Neste ano, a anta, maior mamífero terrestre da América do Sul, está entre as espécies brasileiras em processo de avaliação para a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Apesar da anta estar presente em cinco biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal – cada uma dessas regiões apresenta diferentes combos de ameaças que colocam em risco esse animal de extrema importância para a formação e manutenção das florestas, serviços ambientais e biodiversidade. No dia 27 de abril, comemora-se o Dia Mundial da Anta, que ressalta a importância dessa espécie, particularmente no contexto de crise climática e ambiental em que vivemos.
O Dia Mundial da Anta, instituído em 2008, pelo australiano Anthony Long, um grande entusiasta das antas, celebra as quatro espécies de anta existentes ao redor do mundo e ressalta sua importância.
"O Dia Mundial da Anta nos oferece uma oportunidade incrível para divulgar a causa da conservação dessa espécie com a qual temos trabalhado há quase três décadas. A comunicação tem sido parte fundamental de nosso trabalho de conservação da anta. Disseminar nossos achados científicos, particularmente no que diz respeito ao papel ecológico que a espécie tem na manutenção de nossas florestas e nossa biodiversidade, é de suma importância. As pessoas precisam conhecer a anta, os desafios que ela enfrenta na natureza, o que vem sendo feito para garantir que ela sobreviva e o que a sua extinção significaria para todos nós", ressalta Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.
Arte e Ciência
Entre as ações comemorativas da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, para o Dia Mundial da Anta em 2025 será realizado o sorteio de uma obra de arte, pintada por uma anta asiática que vive em um zoológico norte-americano parceiro do projeto. Essas pinturas são realizadas como parte de atividades de enriquecimento ambiental. O sorteio da tela será realizado através das redes sociais do projeto.
Aliar arte e ciência é também uma forma de mostrar que não se trata de um animal com falta de inteligência.
Apesar de todo os serviços que esse animal realiza, no Brasil, ele ainda é visto por muitos como um ser de pouca inteligência. “No entanto, a ciência já mostrou por meio de estudos que a anta tem um número elevado de neurônios e é um animal de extrema importância para a sociobiodiversidade. Essa percepção errônea sobre a anta afasta o interesse das pessoas pela conservação da espécie. Afinal, com esta associação pejorativa, como as pessoas podem desenvolver um senso de orgulho por este animal?”, questiona Patricia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.
A pesquisadora revela que uma das hipóteses para a origem dessa falsa percepção (algo difundido apenas no Brasil) está no período colonial. “Quando os portugueses chegaram à costa do Brasil, conheceram a anta e pelo tamanho e porte do animal tentaram domesticá-la para o transporte de cargas. No entanto, como um animal selvagem, a espécie não se submeteu. Pelo fato de não conseguirem domesticá-la, passaram a relacioná-la a um animal de pouca inteligência, o que a ciência já mostrou que não é verdade”.
Para desmistificar essa ideia, desde 2015, a INCAB-IPÊ conta com a campanha permanente de disseminação da hashtag #antaÉelogio. O objetivo é transformar essa injustiça em reconhecimento pela importância da espécie para a sociobiodiversidade. Campanhas nas redes sociais, camisetas, ações nas áreas de pesquisa estão entre as iniciativas realizadas por pesquisadores do projeto na busca por esclarecer essa fake news!
O papel da anta nos ecossistemas
Em suas longas caminhadas pelas florestas, a anta dispersa as sementes dos cerca de seis a oito quilos de frutos que consome diariamente. Sementes que tenham passado pelo trato digestivo das antas têm a germinação potencializada, o que acelera a recuperação das florestas.
Uma floresta sem antas é certamente menos diversa e, considerando o cenário de crise climática atual, é essencial que as nossas florestas estejam em seu pleno funcionamento ecológico para garantir a sobrevivência das espécies que ali habitam, inclusive a espécie humana. As florestas desempenham papel fundamental no sequestro de carbono, além de contribuírem com a segurança hídrica, com o fornecimento de alimentos e com a própria regulação do clima.
A anta também é uma espécie sentinela, ou seja, ela indica o estado de saúde do ambiente e dos outros seres que ali vivem, inclusive seres humanos. Um exemplo disso é a pesquisa realizada pela INCAB-IPÊ, em 2018, que identificou a contaminação de antas por agroquímicos e metais no Cerrado de Mato Grosso do Sul. A equipe da INCAB-IPÊ encontrou 13 compostos químicos diferentes nas antas amostradas, incluindo nove pesticidas e quatro metais. A descoberta fez com que a equipe retornasse à área cinco anos depois, em 2023, para amostrar as pessoas vivendo ao redor das áreas onde as antas contaminadas viviam. O estudo encontrou cinco agroquímicos e dois metais nos humanos amostrados.
Recentemente, a INCAB-IPÊ descobriu que a anta ainda ocorre no bioma Caatinga, onde a espécie havia sido declarada regionalmente extinta. A descoberta é um grande feito para a conservação da espécie, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Durante as expedições realizadas pela equipe na Caatinga, foram detectadas ameaças como perda de habitat, caça, fogo e mudanças climáticas afetando a disponibilidade de água. Por isso, o Dia Mundial da Anta é um dia para fomentar ações concretas para conservar a anta de forma que a espécie não deixe de existir antes de ser estudada.
Para saber mais sobre as comemorações do Dia Mundial da Anta e participar do sorteio da tela pintada por uma anta, confira as redes sociais da INCAB-IPÊ (@incab.brasil).
Sobre o IPÊ
O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas é uma organização brasileira sem fins lucrativos que trabalha pela conservação da biodiversidade do país, por meio de ciência, educação e negócios sustentáveis. Fundado em 1992, tem sede em Nazaré Paulista (São Paulo), onde também fica o seu centro de educação, a ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade.