Cultura

CRÔNICAS CANDANGAS: A CATEDRAL DE BRASÍLIA E OS ANJOS, por NARA FRANCO

A edificação tem o formato de uma coroa de espinhos ou mãos em oração, composta por 16 colunas curvas de concreto.
Nara Franco , Brasília | 27/04/2025 às 18:26
A catedral de Brasília e os anjos flutuantes
Foto: NF
Ir à Catedral épasseio obrigatório na Capital do país. Eu tinha uma lembrança da catedral de muitos anos, quando estive em Brasília na casa dos meus  vinte e poucos anos. Lembro da minha surpresa ao entrar e ver uma catedral para baixo, dando a sensação de estar em um aquário. 

Sensação que se repetiu agora muito tempo depois. Projetada por Oscar Niemeyer, a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, surpreende pela simplicidade, que é justamente o que nos pega de surpresa. Os anjos flutuando, o branco mesclado com o azul, o som dos pássaros e o canto gregoriano. É de tirar o fôlego. 

A estrutura principal foi concluída em 1970, mas a pedra fundamental foi lançada em 1958. A edificação tem o formato de uma coroa de espinhos ou mãos em oração, composta por 16 colunas curvas de concreto. 

 A poucos metros da estação Central do metrô e logo na entrada da Esplanada dos Ministérios, a Catedral chama a atenção por seu formato inusitado. Saí do metrô correndo do sol e sugiro chapéu em dias quentes, pois o caminho, apesar de curto, é aberto. Uma boa.opção são as bicicletas e os patinetes de aluguel (há uma estação de bicicletas ao lado da.catedral).

 A entrada é gratuita e uma vez lá dentro, aprecie o silêncio e o imensos vitrais desenhados pela artista Marianne Peretti. O efeito de luz é maravilhoso criando essa sensação de estar no céu ou flutuando. Tudo com luz natural. Roubam a cena as três esculturas de anjos suspensos por cabos de aço, também criadas por Marianne Peretti

A Catedral, junto com o Plano Piloto de Brasília, é parte do conjunto reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. Reconhecimento mais que merecido pela beleza da obra e sua origininalidade. 

Há quatro estátuas de bronze representando os evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João), feitas pelo escultor Dante Croce, logo na entrada, que seguem o estilo original do lugar e apesar da inauguração oficial ter sido em 1970, a estrutura da Catedral foi o primeiro monumento de Brasília a ser concluído, em 1960 — antes mesmo da cidade ser oficialmente inaugurada.

Imagino a surpresa dos mais conservadores ao se deparar com um projeto tão inovador. Tanto é que a Catedral rendeu a Oscar Niemeyer o Prêmio Pritzker (considerado o “Nobel da Arquitetura”) anos depois, em 1988.

Vista de fora, a Catedral parece pequena. Mas ao entrar, a sensação de espaço é enorme — um efeito proposital criado por Niemeyer. O teto envidraçado e os anjos suspensos reforçam a ideia de que estamos sempre em contato com o divino. 

Inicialmente, a Catedral não teria vitrais — a ideia era que o teto fosse completamente aberto (ousado denais). Posteriormente, Niemeyer aceitou incluir o projeto de vitrais para proteger o interior da chuva e do sol.

A Catedral é o monumento mais visitado de Brasília e, seu entorno, merecía mais cuidado. Há moradores de rua e ambulantes vendendo agua, gritando, quebrando um pouco o clima da entrada. 

Ainda assim é um lindo passeio desses que devem ser feitos e registrados.