Enquanto o tempo passava e os números da balança avançavam geometricamente, aquele sono reparador foi se deteriorando. Primeiro veio o ronco, em volume e sonoridade inimaginável, mistura ensurdecedora dos apitos da velha fábrica de tecidos de Noel Rosa com um motor a diesel de Toyota em ponto morto.
O barrigão do balofo roncador sobe e desce com mais frequência do que o elevador Lacerda em dia de festa da Conceição. Assusta quem assiste à cena, digna dos melhores filmes de terror de Vicent Price. Sem contar que, quando aspira, puxa o ar pela boca com tanta força que atrai tudo à sua volta, parecendo um tornado dos filmes-catástrofe de Hollywood.
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Durante o sono, como o gordo também engorda por dentro, o relaxamento da musculatura estreita a faringe e a inspiração acontece com maior velocidade, para compensar, fazendo vibrar os tecidos moles do sistema respiratório. O ronco é essa vibração. Se a passagem de ar se fecha completamente, acontece a apneia: a respiração é interrompida por vários segundos e só volta ao normal por um reflexo natural do organismo, que reabre a passagem de ar.
É um dorme e acorda sem fim - e pode se repetir inúmeras vezes, em uma só noite. É uma aterrorizante sensação de morte, diz Jeffinho. Mesmo quando a ventilação retorna, a sensação de falta de ar permanece por mais algum tempo. Jeffinho precisa se levantar da cama, respirar fundo várias vezes, até que se sinta confortável de novo para voltar a dormir.
Pior é se ele for para a cama meio melado, relaxadão, depois de tomar umas quatro. Aí, então, a agonia é maior ainda, pois o dorme-e-acorda com falta de ar se repete mais vezes durante toda a noite.
Diante de situação tão crítica, é preciso correr atrás da solução. Imediatamente, dormir sempre de lado ajuda a manter abertas as vias respiratórias. Ainda bem, pois Jeffinho jamais conseguiu dormir de barriga para cima, nem quando era magro - e de barriga para baixo, obviamente, é impossível, pois a própria inviabiliza esta posição.
Tem gordo que recorre ao tubo de oxigênio ao lado da cama, para dormir a noite inteira, sem apneia, e assim prevenir as consequências irreparáveis de um dano cerebral, por falta de oxigenação do sangue.
Então, o recurso é procurar os médicos especialistas dedicados exclusivamente a tratar dos distúrbios de sono, entre eles o ronco e a apneia. Para começar tem que fazer uma polissonografia: o paciente dorme muito mal, de barriga para cima, ligado naquela parafernália de fios colados ao corpo.
De posse dos resultados do exame, quando o paciente é gordo o médico vai logo avisando: para iniciar o tratamento, o primeiro passo é emagrecer, com urgência.
Ora, doutor, isso as torcidas do Bahia e a do Vitória, juntas, já sabiam há muito tempo.
Jeffinho vem tentando emagrecer a vida toda, levando nas costas mais problema do que os quilos apontados na balança. O sono de morte é mais um obstáculo a vencer. Gordo sofre!
Resta, então, cuidar do sono e seguir na luta, jamais desistir. Como diz o padrinho de Jeffinho, "e vamo que vamo!".
* Otto Freitas ([email protected]), 59 anos, é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há quase 40 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.