Antonio Martins foi uma peça chave para montarmos o Bahia Hoje, em 1993
Tasso Franco , da redação em Salvador |
01/11/2017 às 11:20
Antonio Martins, hoje, aos 57 anos de idade
Foto: BJÁ
Semana passada almocei com Antonio Martins para lembramos do projeto do Bahia Hoje, o primeiro jornal informatizado da Bahia, ousadia do empresário Pedro Ijujo, nossa e de um grupo de 100 pessoas.
Martins foi um achado que encontrei em Belo Horizonte no projeto do Hoje em Dia, de Newton Cardoso. Baiano, estava nas Gerais neste projeto do Newtão quando o trouxe para a Bahia, aos 32 anos de idade. Jovem e competente nesse segmento da informatização de um jornal que, na Bahia, não se tinha o mínimo 'know how'.
Sem Martins e mais uma galera jovem que trouxemos de Minas seria impossível montar o Bahia Hoje. Caimos de cabeça no projeto, primeiro em BH, e depois toda essa turma morando em Salvador, num total de 9 pessoas (os mineiros, como chamávamos) montamos o jornal: 14 meses de intenso trabalho. Havia uma reserva de mercado e importar computadores e equipamentos eletrônicas era uma novela. Põe novela nisso. Mas, felizmente, tudo deu certo.
Depois que o Bahia Hoje fechou em 1995, Martins foi para A Tarde onde é gerente industrial. Os mineiros voltaram para BH e aqui ficaram Caúh (A Tarde) e Luisinho (área hospitalar). Lembramos, então, no almoço, bebericando o red, ao menos 23 inovações que o Bahia Hoje trouxe ao jornalismo impresso na Bahia (e no Brasil, em parte). Viramos modelo. E nossa propaganda dizia: O Jornal mais Moderno da América Latina.
As inovações:
1. Sistema de computação integrado em todo jornal, da portaria a circulação. Os jornalistas baianos nunca tinham manuseado computadores e passaram a fazê-lo a partir do Bahia Hoje, 1993. Até então, as redações funcionavam com máquinas de datilografia, papel, caneta, borracha e cola. Nas editorias nacionais e internacionais as matérias vinham via telelitpo e eram coladas (literalmente).
2. Produção de páginas eletrônicas com paginadores na diagramação com SP2000 incluindo fotos a cores. Até então, os diagramadores trabalhavam com papel, lápis, borracha, calculadoras e esquadros para por as matérias nas páginas. As fotos também eram paginadas no papel e marcadas no fundo o tamanho a ser usado pela oficina com os códigos de cada página. As páginas, depois de prontas, eram levadas para a oficina por boys.
3. Arquivo digital para guardar o que produziamos a partir do núnero zero e um banco de dados que passou a ser alimentado nos computadores. Até então, os arquivos eram estruturas imensas nos jornais com exemplares encadernados e pastas e mais pastas com diversos assuntos. Quando se precisava fazer uma pesquisa era nessa base, tudo manual, uma imensa trabalheira. Os aquivos pareciam as antigas bibliotecas públicas. Os profissionais de chamavam: arquivistas.
4. Policromia total. Fotos coloridas em quaisquer páginas do jornal com nitidez e em alta resolução. Ninguém fazia policromia na Bahia, nem na primeira página, e os jornais usavam tarjas azuis, laranjas, etc, nos segundos cadernos. As fotos a cores nos jornais eram mais borrões do que qualquer outra coisa. O Bahia Hoje foi impresso sem borrões e sem sujar as mãos dos leitores.
5. Uso dos pictogramas coloridos que permitiam fazer artes nos computadores (Editoria de Arte) a cores sem uso do papel. Até então, chargistas, desenhistas, etc, usavam papel e tinta nankim e outras. E trabalhavam em mesas especias (mesas de luz) com vidros.
6. Minilab japa na fotografia acabando com o laboratório de fotos com suas bacias de químicos, câmara escura, papel, ácidos e outros. As tiras das fotos em vinil saiam da minilab para um leitor ótico computadorizado que reproduzia imagens numa tele tipo TV. Daí, se escolhia a foto a ser usada, visualmente, e mandava para o computador.
7. As páginas eram integralmente diagramadas eletrônicamente. Página inteira num jornal standard. Uma ousadia e tanta.
8. Fomos o primeiro veículo a fazer anúncios eletrônicos e ajudamos as agências de públicidade a se modernizarem.
9. Fim do papel na redação, fim do papel fotográfico, fim dos revisores - repórteres com texto final -, fim das máquinas datilográficas, fim dos boys, fim dos arquivistas.
10. Recepção eletrônica das fotos vindas das agências estrangeiras que, até então, também eram repassadas via câmara escura acoplada ao sistema e depois reveladas em laboratório.
11. Implanetação de classificados eletrônicos acabando de vez com a montagem manual na base da cola e do estilete. Os jornais - especialmente A Tarde - tinham áreas enormes e pessoas só especializadas nesta arte.
12. Implantação do telemarketing de classificados e dos postos eletrônicos.
13. Uso do titulo do jornal Bahia Hoje em caixa baixa o Bahia em azul e o Hoje em vermelho.O segundo Caderno se chamava Cidade da Bahia. As colunas e titulos das cabeças das páginas tudo em caixa baixa. Um jornal clean.
14. Implantação dos classificados coloridos em quaisquer lugares da página, com nitidez de leitura.
15. Depois de Silvio Lamenha, creio, a segunda vez que se usava um colunista social man, Jaques de Beavoir.
16. Pela primeira vez no Estado, um jornal passou a circular todos os dias da semana. Os concorrentes ficaram enloquecidos com esse pioneirismo e correram atrás para nos pegar e também lançar os jornais todos os dias.
17. Uso dos encartes de posteres de artistas e times de futebol um sucesso para vendas. O primeiro poster foi de Marcos Palmeira. O jornal teve sua circulação esgotada rapidamente. Encartamos posteres com flores e artistas da Axé. Todo mundo veio atrás depois.
18. Implantamos as grandes charges em destaques em várias páginas especialmente na primeira (tudo a cores) com Caúh Gomes e no Esporte com Flávio Luiz. Isso deu uma leveza enorme ao jornal.
19. Valorização da editoria de arte fazendo com o jornal tivesse a cara da TV no modelo USA Today.
20. Linguagem moderna e leve na redação com textos curtos e sem bolodórios.
21. Circulação com controle eletrônico com cadastro das bancas e dos encartes.
22. Páginação dos fotolitos em equipamento Nuarc.
23. Uso de motos para atender os assinantes.
*** Nem todas as inovações estão aqui listadas. Essas foram as que nos lembramos, as principais.