No domingo de Carnaval, a Praça Castro Alves já estava lotada de folião às três da tarde. O público que aguardava os trios que fazem a volta no prédio da Sulacap esperava ansioso pelas atrações tradicionais que desfilam todos os anos no Circuito Osmar. Tudo parecia igual aos anos anteriores, a não ser por uma estrutura montada em frente ao antigo Cinema Glauber Rocha, o atual Espaço Unibanco de Cinema. 

"Eu não sei o que vai ser ali não, deve ser alguma coisa de música" afirma Marcela Rocha, 24 anos, que brincou os outros dias no circuito Dodô. Eu vim para assistir Ivete Sangalo que acabou de passar. Ivete agitou a multidão com o sucesso "Na Base do Beijo" de autoria de Alain Tavares e Rita Mendes. Logo depois que Ivetão passou, acordes eram tocados na Varanda do Glauber. Os músicos de Márcia Castro já afinavam os instrumentos "mas não vai dar pra tocar agora não, temos que esperar o Gandhy passar", afirmou um deles.  

Na praça, o tapete branco já estava formado. Quem não perdeu a saída do bloco do último andar do camarote da Varanda do Glauber, foi o músico Caetano Veloso e Paulo Borges, idealizador da São Paulo Fashion Week. "É muito lindo ver os Filhos de Gandhy passar" afirmou Borges.  

A tradicional saída tem início nas ladeiras do Pelourinho, quando eles fazem o Padê. O ritual é feito para pedir que Exú abra os caminhos e garanta alegria e paz. Como oferenda, farofa branca e azeite de dendê, além de água e acaçá, feito de milho branco. Com a passagem do "tapete branco", a cantara Márcia Castro inicia a festa na Varanda do Glauber. 

No repertório, músicas do Cd Pecadinho gravado em 2006, "Nega Neguinha" e "Frevo Pecadinho", mas o destaque foi as canções carnavalescas. "Noite dos Mascarados", "Vassourinha Elétrica", "Eu quero botar meu bloco na Rua", "Zamzibar" e "Chão da Praça" animou quem estava na Praça Castro Alves.

"Foi minha primeira vez tocando para o público do carnaval. Eu já dei canja em shows de outros artistas, mas assim, tocando como artista principal foi a primeira vez. Foi maravilhoso e curioso ao mesmo tempo. Principalmente pela proposta da Varanda, de revitalizar a Praça Castro Alves", conta Márcia Castro.

Para ela, o mais importante é a diversidade de ritmos nesse carnaval. "É muito boa essa diversidade. Tem opção para todo tipo de folião. Amanhã  eu sou convidada de Lucas Santanna para tocar no Trio Guetto Tech, patrocinado pela Secult. Estou muito ansiosa para ver o que vai dar, por que o público de carnaval ainda não está muito acostumado com a música eletrônica nos dias de festa, e é isso que vamos tocar lá", afirma a cantora. Márcia deu espaço para do DJ Mangaio comandar a festa, com uma roupagem eletrônica e muita influência do hip hop e reggae. 

Apoteose - O diálogo mais intenso nesses três dias aconteceu quando Grupo Bambeia subiu ao palco da Varanda do Glauber. Com repertório focado principalmente no pagode samba duro, a galera da praça foi a loucura. "O diálogo aconteceu com Sarajane na sexta feira, com Juliana Ribeiro no sábado e hoje com o grupo Bambeia a praça se voltou para a Varanda" afirma Cláudio Marques, idealizador do Espaço Unibanco. 

Dentro do camarote, confetes e serpentinas se espalhavam pelo chão enquanto os convidados requebravam no molejo do grupo que saudou Neguinho do Samba e fez um pout pourri com os clássicos "Faraó", "Elegibô", "Eu sou Negão" e "Mama África".  "A festa de hoje ficou com um gostinho de quero mais", afirmou Marques. 

A Varanda do Glauber é uma parceria entre a Secretaria de Cultura do Estado através do Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural - IPAC, Bahiatursa e Espaço Unibanco de Cinema, com intuito de revitalizar a Praça Castro Alves.