Salvador

Centro LGBT promove roda conversa sobre riscos cirurgias clandestina

Secom
Tasso Franco , da redação em Salvador | 29/06/2017 às 11:38


A busca pela aplicação de silicone para modificação do corpo faz com que muitas travestis e transexuais procurem meios clandestinos. Os riscos que a aplicação de modo ilícito e furtivo traz para as pacientes que se submetem ao procedimento foi alvo de uma roda de conversa nesta quarta-feira (28), no Centro Municipal de Referência LGBT, no Rio Vermelho. O evento integrou a programação para celebrar o Dia do Orgulho LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex), comemorado hoje em todo o mundo, e contou ainda com exibição do documentário “Bombadeira”, de Luis Carlos de Alencar.

O diálogo abordou o tema "Travesti, Transexual, Homem Trans e a Necessidade da Transformação do Corpo", sob orientação da coordenadora do Projeto Esperança, Andrezza Bellushi. “O assunto escolhido é algo muito atual. Existem grupos no Facebook que divulgam esse tipo de intervenção. A questão é como se dá a mudança do corpo, pois o material que é aplicado pelas ‘bombadeiras’ (travestis que transformam clientes com aplicações clandestinas de silicone) não possui procedência confiável”, pontua.

Bellushi também ressaltou que muitas  travestis e transexuais sentem a necessidade da transformação do corpo e escolhem não optar pela área médica para fazer as cirurgias estéticas por causa do custo elevado. “Uma intervenção chega a custar de R$ 8 mil a R$ 10 mil. A dificuldade financeira para conseguir o valor é atenuada ainda mais pela dificuldade que os travestis e transexuais têm de arranjar emprego formal, algo que não ocorre mais com os gays”, explana Bellushi. “Por isso, estamos trabalhando com redução de danos sobre o uso do silicone, questionando para elas se há necessidade de correr riscos”, acrescentou.

Passar por um procedimento cirúrgico sem a figura de um profissional devidamente capacitado para realizá-lo pode acarretar em problemas sérios de saúde e até levar o paciente à morte. A profissional do sexo Ranella Márcia, 46 anos, conta que passou por diversos procedimentos estéticos com uma ‘bombadeira’ e chegou a ter complicações. “Coloquei silicone líquido nos seios, quadril, perna, braço e no rosto e cheguei a ter inflamação no corpo. Muitas dizem que têm curso de enfermagem, mas não têm. A verdade é que as ‘bombadeiras’ vão aprendendo umas com as outras. O risco de acontecer algo fora da normalidade é muito grande”, confessa.

Para o coordenador do Centro de Referência LGBT, Vida Bruno, a função social da instituição, como um agente do município é comunicar o risco que há quando se opta por um procedimento clandestino. “Esse espaço é referência de instituição pedagógica para orientação. Sempre abrimos as portas para debates. Aqui não é tribuna de justiça para condenar ou absolver atitudes e procedimentos", observou.

Mudança de nome – Independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, o Centro Municipal de Referência LGBT auxilia no processo de alteração do nome civil de um transexual. O órgão, através de um setor jurídico habilitado, recolhe toda a documentação e encaminha para o Ministério Público. O candidato é submetido ainda a algumas sessões do setor psicológico para construção de um laudo, que é exigência da Justiça, para anexar esse procedimento de solicitação de alteração prenome. “Nossa parte é feita com celeridade, o que demora são os trâmites judiciais que chegam de 8 a 10 meses para atender o pedido. Fizemos um mutirão em dezembro passado e encaminhamos 50 nomes para mudança”, conta Vida Bruno.