Com análise do Diário de Noticias de Lisboa
Tasso Franco , Salvador |
11/03/2024 às 10:36
Partido AD conseguiu a maioria e deve indicar o primeiro ministro
Foto: DN
O país virou à direita. E essa é uma notícia que anima a AD, mesmo que a euforia do início da noite eleitoral tenha sido substituída por uma cautela nervosa. Esse entusiasmo inicial foi notório entre as centenas de militantes e simpatizantes de PSD e CDS - muitos deles muito jovens - que ao longo da noite eleitoral se foram juntando na sede da campanha da coligação de centro-direita, no Hotel Epic Sana, em Lisboa, até se tornar difícil circular pela sala escolhida para ir acompanhando as transmissões televisivas. Doze andares acima, a essa hora, o entusiasmo era refreado pelas contas que Luís Montenegro e o seu núcleo duro terão de fazer, mesmo ficando em primeiro lugar. Numa suite reservada aos dirigentes da AD, foram-se analisando cenários de matemática eleitoral e geometria política variável.
À medida que a noite foi avançando e os votos sendo contados, os rostos foram-se fechando no quartel-general da AD. A vitória, que já era ensombrada pela hipótese de não ser possível uma maioria sem o Chega - ao qual Luís Montenegro disse que “não é não” - pareceu ficar mais tremida e eventualmente pendente dos votos da emigração.
Entre os dirigentes ouvidos pelo DN, há uma opinião quase unânime: o próximo Governo - que acreditam que será da AD - terá uma vida curta, mas deverá aprovar pelo menos um Orçamento. As contas fazem-se partindo-se do princípio de que não haverá uma moção de rejeição e de que o PS ajudará a viabilizar o Programa de Governo.
No PSD não falta quem ache que Luís Montenegro deve apresentar um Orçamento Retificativo em maio (contando que o Governo tome posse no final de abril), ainda antes de arrancar a campanha das europeias, que começará na última semana desse mês. “É uma questão de afirmar uma opção política. Não faz sentido governar com um Orçamento do PS”, comenta ao DN um dirigente social-democrata. Há, contudo, quem lembre que para baixar impostos - como prometeu a AD - não será preciso um Retificativo. E quem entenda que será mais eficaz uma estratégia como a de Cavaco Silva, obrigando o Chega a ficar com o ónus da queda do Governo.
Em qualquer cenário, será preciso negociar - e muito - para fazer aprovar orçamentos. E é aí que ganha peso a figura de quem ficar com a Pasta dos Assuntos Parlamentares. Hugo Soares, secretário-geral do PSD e o verdadeiro braço-direito de Luís Montenegro, será o nome mais provável para assumir um trabalho que envolverá capacidade política, habilidade negocial e muita estratégia.
Mesmo com a contagem ainda a decorrer e enquanto da sede do PS vinha a informação de que os socialistas ainda esperavam dar a volta ao tabuleiro, sociais-democratas e centristas animavam-se com a perspetiva de voltar ao poder. “O próximo Governo vai ter de ser um Governo de combate político”, defendia um social-democrata, já pensando em pastas.
Essa reação - particularmente efusiva entre os mais jovens - não significa, porém, que os apoiantes da AD esperem dias tranquilos. Nos corredores do Hotel Epic Sana não faltava quem projetasse já uma vida curta ao Governo de Montenegro.
Do Altis, onde estava montado o quartel-general socialista, o secretário-geral adjunto do PS, João Torres deixava claro que o seu partido “não criará impasses constitucionais”, mas também não ajudará a viabilizar orçamentos. “Ninguém espera do PS que viabilize orçamentos da direita em Portugal”, disse.
Uma declaração que não apanhou desprevenido ninguém na AD, onde a expectativa será a de negociar orçamentos com a IL, o Chega e eventualmente até o Livre, negociando medida a medida para conquistar esses apoios. Uma solução frágil que faz os dirigentes de PSD e CDS acreditarem que o Governo de Montenegro terá uma esperança de vida curta. Eventualmente, até setembro de 2025, mês a partir do qual o Presidente da República perde os poderes de dissolução da Assembleia da República, por faltarem seis meses para as presidenciais.
Serão precisos nervos de aço no centro-direita. E a noite eleitoral, contada voto a voto, foi já um teste a isso. “Isto vai ser mandato a mandato”, comentava um social-democrata. Análise parecida fazia António Costa, à chegada ao Altis, que dizia não ser provável que o vencedor ficasse claro na noite de domingo. Um comentário que lhe valeu uma vaia numa sala cheia de apoiantes da AD que o viam em direto.
“A perspetiva de vitória mantém-se. Mesmo que tenhamos de esperar mais uma semana pelos resultados da Europa e de Fora da Europa”, reagia no Sana Carlos Carreiras, que falava “num imbróglio” eleitora. “Já se esperava um imbróglio, não se esperava era que o imbróglio fosse tão grande”.
Também a mexer com os nervos dos apoiantes da AD esteve o ADN, o partido de extrema-direita que cresceu de forma surpreendente e parece poder ter capitalizado a confusão entre as duas siglas. “Ninguém na sede nacional viu isto?”, impacientava-se um apoiante da AD. “Devíamos ter feito queixa antes”, comentava outro. “Ainda vão ter 70 mil votos. Isto não pode ser só confusão”, reagia uma militante do PSD.
A noite eleitoral da AD acabou por ficar manchada a vermelho, de forma muito literal, quando um grupo de jovens com uma faixa da Climáximo - segundo relatos feitos ao DN - lançaram tinta vermelha e artefactos pirotécnicos com fumo para a fachada do Hotel Epic Sana. “A polícia ficou a ver e não fez nada”, queixava-se uma apoiante da AD, enquanto mostrava um vídeo com um jovem a retirar balões com tinta de um saco ao lado de um PSP.
Durante uns minutos, o ambiente ficou tenso no átrio do Hotel Epic Sana. Os seguranças fecharam as portas de vidro, mas a tinta vermelha ainda salpicou o chão e entre os apoiantes era evidente o mal-estar. “Isto é mau perder”, atacavam.