Veja a estratégia usada por Bolsonaro no debate o que não permitiu ter debate propriamente dito
Tasso Franco , Salvador |
29/10/2022 às 10:55
Estratégia bem utilizada e documentada com números
Foto: Sérgio Zalis- Rede Globo
Do ponto de vista estratégico de uma campanha política, o presidente Jair Bolsonaro saiu-se melhor do que o ex-presidente Lula da Silva no debate da Rede Globo, ontem, à noite, mediado pelo jornalista William Bonner, o qual teve pouco trabalho, apesar dos tons agressivos dos dois candidatos, um chamando o outro de mentiroso e vice-versa; o primeiro classificando o segundo de corrupto e vice-versa, o que não acrescentou nada a quem estava assistindo a contenda.
Digo que Bolsonaro se saiu melhor porque seguiu a cartilha dos seus orientadores não permitindo que houvesse um debate de propostas e novas ideias desarmando o ex-presidente Lula, reconhecidamente mais experiente do que ele em confrontos dessa natureza, bem treinado no assembleismo petista e com aquele palavreado antigo e repleto de chavões que todo mundo já conhece.
Bolsonaro não deu paz a Lula, desde o primeiro bloco, o colocando na defensiva como já ocorrera no debate da Band. No segundo bloco, Lula saiu das cordas e melhorou o seu desempenho sobretudo quando abordou o tema da saúde e da pandamenia da Covid.
Queixam-se alguns analistas que não aconteceram propostas de governo e ideias novas e sensibilizadoras ao eleitorado, tanto Bolsonaro quanto Lula repisando o que já fizeram em prol do Brasil, o que já é de conhecimento público. E a cada uma dessas questões um atacava o outro de mentiroso, Bolsonaro mais contundente chamando Lula de ladrão e associado ao crime organizado.
Aí está o fulcro do debate, a parte essencial e mais importante, adotada pelos estrategistas de Bolsonaro e seguida a risca por ele, de não deixar Lula falando o que quisesse, fazendo argumentações ao modo da cartilha do petismo, exatamente no ponto em que Lula é bom, bem treinado e sabe de cor e salteado o que fazer, sobretudo quando fala aos trabalhadores, o que ainda conseguiu fazer nos blocos terceiro e quarto, Bolsonaro sem lhe dar trégua e apresentando números comparativos, não aleatórios, e com base em dados concretos, não deixando Lula transitar à vontade aos olhos dos eleitores.
Quem esperava ver planos e promessas para o futuro se frustrou. Educação, tema tão bem abordado por Simone Tebet em debates anteriores, passou batido, sequer foi citado; economia e desenvolvimento, temas que o professor Ciro Gomes também abordou com excelência, os candidatos desconheceram; a robótica, as novas tecnologias e o que mexe na atualuidade com todos os "sapiens" nem as sombras foram citadas; vida urbana, nova era industrial, qualificação profissinal, os candidatos desconheceram.
Bolsonaro se apresentou, propositadamente, desde o primeiro bloco, para desnortear Lula, e logo de cara levou à telinha um assunto que deixou o petista sem resposta, como os programas de TV em que o PT afirma que, se eleito, o presidente acabará com o 13º e o FGTS.
A partir daí o que se viu foram ataques dos dois lados, Lula tentanto sair da defensiva, num confronto repleto de ofensas. Perdeu Lula, portanto, porque só conseguiu algum êxito no quarto bloco, quando falou para os aposentados, e até nas considerações finais Bolsonaro foi mais contundente, ainda que a fala de Lula, de harmonia, tenha sido mais civilizada.
Um ponto que poderia ter sido mais desfavorável para Bolsonaro, a citação de Lula da aliança política de Bolsonaro com o ex-deputado Roberto Jefferson e o lançamento de uma granada e tiros em direção a policiais federais, o presidente lembrou que o Jefferson era aliado de Lula e foi quem denunciou o "Mensalaão". E, na troca de acusações, Lula não se saiu bem quando Bolsonaro o associou a Marcola, do PCC, e falou de possíveis desmandos do governo Geraldo Alckmin.
Temas mais populares como o salário mínimo e o Auxílio Brasil foram a maior confusão e o telespectador se perdeu com informes de cada lado, ainda que, o Auxílio Brasil de R$600,00 tenha sido relevante e Lula se embaralhou um pouco nas explicações. No item da fome, Lula apresentou dados da Folha de SP e Bolsonaro voltou a menosprezar as informações.
No geral, o que presenciamos, foi o presidente Bolsonaro levando Lula no deboche, a ponto de dizer para não ficar perto dele, e o ex-presidente tentando ser afirmativo o tempo todo. Se o ex-presidente imaginava que poderia transitar como um professor, um lider a dar aula e até usou no final um óculos estiloso e ensinamentos do seu amrketeiro para se parecer assim, professoral, até conseguiu algum coisa, mas não tanto como se supunha.
Bolsonaro foi, estrategicamente falando, para não ter debate, não ter confronto de ideias, e isso ele conseguiu.