Política

REGIÃO DE DONBAAS É OBJETIVO MÍNIMO DA RÚSSIA NA UCRÂNIA, SEM VITÓRIA

A cidade de Mariupol foi destruída, mas ainda não conquista
Tasso Franco ,  Salvador | 26/03/2022 às 09:54
Em Mariupol, moradores recolhem madeira para cozinhar
Foto: Alexander Ermochenko
   “Os objetivos da primeira etapa da operação militar especial na Ucrânia foram cumpridos”, anunciou o comando russo na sexta-feira, 25 de março, explicando que agora concentraria seus esforços no “objetivo principal: a libertação de Donbass”. Adaptando-se a uma situação militar mais difícil do que o esperado? Não, responde o exército russo.

Sem uma ofensiva em outras frentes mais distantes, "as forças ucranianas teriam deixado de ser reconstituídas", assegurou o vice-chefe do Estado-Maior russo, Sergei Roudskoy, durante uma coletiva de imprensa convocada mais um mês após o início desta " operação especial". Os esforços centraram-se, portanto, em primeiro lugar na “desnazificação e desmilitarização” da Ucrânia, objetivos que estariam a caminho de serem alcançados.

Este anúncio de reorientação das forças russas deve ser tomado com cautela, assim como o número de perdas russas revelado ao mesmo tempo – 1.351 mortos e 3.825 feridos. Seja qual for a realidade das intenções de Moscou, seu exército não deve relaxar a pressão nas outras frentes, de Kiev no norte a Mykolaiv no sul. "A captura das cidades ucranianas cercadas não foi planejada", assegurou o general Rudskoy, mas continua sendo "possível".

Apoiar a continuidade territorial
Seja o objetivo principal da operação desde o início ou uma adaptação dos planos, a prioridade dada ao Donbass é lógica, tanto em termos de estratégia quanto de comunicação. A “libertação” das regiões de Donetsk e Luhansk é mesmo o objetivo mínimo da ofensiva russa: sem resultados nesta frente particularmente simbólica, é impossível encerrar a operação ou reivindicar qualquer vitória.

A extrema violência dos combates em Mariupol, a segunda maior cidade da região de Donetsk, confirma esta observação. A mídia russa retrata a cidade como à beira do colapso total. Pela primeira vez, imagens aéreas da destruição foram exibidas na televisão nos últimos dias: "Ao se retirar, os nacionalistas estão tentando não deixar um único tijolo de pé", dá a única explicação do comentário. As perdas civis são atribuídas aos “nazistas” do regimento Azov, que supostamente atiraram em civis pelas costas tentando fugir.

A captura de Mariupol é tanto mais vital quanto permite ratificar uma continuidade territorial entre Moscou e a Crimeia, anexada em 2014. Os generais russos nada dizem sobre os "planos" planejados para esta conquistada porção sul da Ucrânia, onde uma administração é implantada.