Diz o taoísmo que para todo elemento do mundo físico existe um respectivo complemento nele mesmo — esse equilíbrio de forças opostas entre si é chamado "yin yang". Quer se acredite ou não na filosofia oriental, é difícil não enxergar o barco neozelandês da categoria Dois Sem masculina, medalha de ouro nesta Olimpíada do Rio, como um potencial exemplo na prática.
O equilíbrio perfeito do "Kiwi Pair" ("Dupla Kiwi"), apelido da dupla Eric Murray e Hamish Bond, resultou em um bicampeonato olímpico nesta quinta-feira, na Lagoa Rodrigo de Freitas - a prata foi para o barco da África do Sul, enquanto o bronze foi da Itália. Com o resultado, Murray e Bond alcançaram 69 regatas de invencibilidade, mantendo uma hegemonia de oito anos que inclui um hexacampeonato mundial e o recorde olímpico e mundial, estabelecido em Londres-2012, com 6:08:50 minutos, mais de 50 segundos abaixo do tempo com que venceram confortavelmente a final olímpica no Rio.
— Em Londres estávamos pensando em ganhar, e neste ciclo olímpico tratava-se de fazer tudo de novo. É incrível que tenhamos conseguido permanecer invictos nos últimos oito anos — afirmou Murray, antes de explicar o início de prova apertado, com a liderança assumida só depois dos primeiros 500 metros:
— É uma corrida de 2000 metros e nunca vamos muito fortes no início. Não somos os melhores velocistas. Tentamos apenas manter um ritmo que os outros não consigam sustentar ao longo de toda a corrida. Sabíamos que o início poderia ser apertado, mas tratava-se de confiar no treino e de que manter esse ritmo era tudo o que precisávamos fazer hoje.
Murray, de 34 anos, remador de proa (que senta na dianteira do barco), é o mais extrovertido da dupla. Na terça-feira, após a semifinal, chegou a explicar o sucesso da dupla da Nova Zelândia afirmando que ele e Bond eram "mais bonitos" do que os outros, em tom de piada. Bond, por outro lado, se define como alguém que não consegue escapar da tensão pré-corrida, embora a canalize para ter o melhor desempenho. É uma espécie de "yin yang" exemplificado na prática.
— Ele (Murray) sempre acha que somos capazes de ganhar, que basta confiar nos treinamentos. Já a minha personalidade me faz pensar em tudo que pode dar errado, por isso quero sempre ir mais rápido e isso pode ser bastante desgastante. Nunca me parece que vamos ganhar a medalha de ouro, sempre tenho que me dedicar mais no dia (das competições) — explicou Bond.
— Nós temos vidas completamente diferentes, sempre tivemos - esclareceu Murray na terça, após a semifinal. — Quando estamos no barco, o foco é total no trabalho que estamos fazendo. Não ficamos vivendo a vida um do outro.
Bond, de 30 anos, deixou no ar após a conquista da medalha de ouro que a dupla pode se separar após esta Olimpíada. Caracterizando a preparação para o Rio como "desgastante" em diferentes respostas, o neozelandês disse que ele e Murray vão esperar a poeira da vitória baixar antes de tomarem alguma decisão para o futuro. Ninguém duvida, no entanto, que o "Kiwi Pair" segue em seu auge físico e técnico. Especialmente quem competiu próximo a eles, como o sul-africano Lawrence Brittain, prata no Dois Sem masculino com Shaun Keeling.
— Nem pensamos em causar uma surpresa a eles - admitiu Brittain, referindo-se à dupla neozelandesa após a cerimônia de medalhas. — Durante a corrida estávamos olhando somente para os italianos e também para os britânicos. Para esses dois (Murray e Bond) não tinha como olhar.