Esporte

Filipe Toledo vence em Gold Coast, assombra até WSL e sonha alto

Filipinho é filho de Ricardo Toledo, bicampeão brasileiro de surfe em 1991 e 1995
waves/terra | 13/03/2015 às 13:29
Filipinho tem estilo agressivo e costuma ousar nos aéreos
Foto: Divulgação / WSL

Gabriel Medina? Mick Fanning? John John Florence? Kelly Slater? Esqueça os quatro primeiros colocados do Circuito Mundial de Surfe (WCT) no ano passado. O vencedor da tradicional etapa de Gold Coast, que abriu a temporada 2015 da Liga Mundial de Surfe (WSL), não tem o peso dos grandes nomes do esporte no momento, mas promete escrever uma bonita história em um futuro não tão distante. Filipe Toledo, ou Filipinho, como preferir, derrubou favoritos, ignorou torcedores locais, passou por cima de qualquer previsão precoce e faturou o cobiçado título na lendária praia de Snapper Rocks, nesta sexta-feira, na Austrália. Mas quem é Filipe Toledo?

Para começar, é necessário ressaltar que o jovem de 19 anos, nascido em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, é simplesmente o mais novo dos 34 surfistas que disputam a elite do esporte em 2015. Só isso. E ele ganhou na Gold Coast. Mas não foi uma simples vitória... Filipinho deu show em um dos picos mais conceituados do planeta.

Depois de derrota para Dusty Payne e Adriano de Souza na primeira rodada (que não é eliminatória), o brasileiro emendou uma sequência de triunfos dominantes sobre rivais como Adam Melling, Kolohe Andino, Jordy Smith, Matt Wilkinson, Bede Durbidge, Adriano de Souza e Julian Wilson. Tudo foi coroado com uma nota 10 na última onda do campeonato.

Filipinho é um dos principais expoentes da chamada Brazilian Storm (ou “Tempestade Brasileira”), como é chamada a atual e promissora geração do surfe brasileiro. Ela tem Gabriel Medina como maior nome, Adriano de Souza como o mais experiente, e Miguel Pupo, Jadson André, Ítalo Ferreira e Wiggolly Dantas como excelentes valores. Dos quatro semifinalistas na Gold Coast, três eram brasileiros (Pupo, Toledo e Souza). Deles, só o caçula sobreviveu. Isto espantou. O site da WSL, por exemplo, classificou como “expressiva” a vitória de Filipinho na Austrália. “Você ainda está impressionado?”, perguntava a manchete da publicação, ainda atônita com o triunfo do jovem.

Quem acompanha a carreira do jovem, contudo, sabe que não... a vitória dele na Gold Coast não é tão surpreendente assim. Filipinho está em franca evolução na ainda curta carreira e pode fazer verdadeiros estragos na elite mundial daqui a alguns anos. O brasileiro foi o 17º colocado no WCT do ano passado e terminou 2014 como líder do ranking da WQS – espécie de categoria de acesso do surfe. A participação na WSL de 2015 é apenas a terceira da carreira do ubatubense, que ingressou entre os “gigantes” do esporte com somente 17 anos – ele foi 15º colocado em 2013.

Mesmo antes de integrar o WCT, porém, Filipinho já chamava a atenção. Primeiro, por ser filho de Ricardo Toledo, bicampeão brasileiro de surfe em 1991 e 1995 – o ex-atleta agora atua como espécie de mentor e técnico do filho. Depois, óbvio, pelo seu talento. Em maio de 2011, ainda com 15 anos, por exemplo, o ubatubense faturou a categoria Sub-16 do ISA World Junior no Peru. Em agosto do mesmo ano, superou ninguém mais ninguém menos que John John Florence, Kolohe Andino e Conner Coffin para conquistar o Pro Junior do US Open. “Como campeonato de surfe não é concurso de popularidade, ser conhecido não fez diferença e ganhou aquele que surfou melhor”, relatou, na ocasião, o conceituado site Surfline.

Desde então, Filipinho só cresceu – foi, por sinal, campeão mundial ISA Sub-16 também em 2011. Fã de Mick Fanning, Jordy Smith, Taj Burrow, Joel Parkinson, Gabriel Medina e Kelly Slater, o surfista é regular (atua com o pé esquerdo à frente) e consegue ter um estilo “agressivo e responsável” ao mesmo tempo. Se sabe ousar e tem nos malabarísticos aéreos o seu grande diferencial, também já demonstrou capacidade de adotar um surfe mais clássico em condições não tão boas. Além disto, é conhecido pela frieza e força psicológica – ponto fraco de seu pai, um dos talentos do surfe brasileiro na década de 90.

Não há dúvidas de que Filipinho é um dos mais talentosos surfistas do planeta em ondas pequenas. O desempenho em tubos e picos maiores ainda deixa a desejar, mas com certeza deve melhorar em 2015. Basta ver o que ele fez em Pipeline no ano passado... Chegou às quartas de final no pico mais emblemático do planeta e só foi eliminado por um iluminado Gabriel Medina, que acabava de ser campeão mundial. Foi o jovem de 19 anos, aliás, quem, ainda dentro da água, deu o primeiro abraço no surfista de Maresias logo após o histórico primeiro título do Brasil. Quem sabe esta cena não o inspire a seguir pelo mesmo caminho nos próximos anos. Quem sabe...