Criador de linhas, manobras e inovações, Gabriel Medina é um artista contemporâneo do surfe. Sobre suas pranchas coloridas, ele desliza pelas ondas, ora transformando-as em rampas de decolagem, ora se entocando em tubos cristalinos. Porém, o líder do ranking mundial precisou se adaptar aos competitivos padrões do Circuito Mundial de Surfe (WCT) e agradar aos juízes. Observou como faziam os campeões mundiais Kelly Slater, Mick Fanning e Joel Parkinson e passou a dançar conforme a música.
Conhecido pelo estilo radical, o atleta que foi apelidado de "Neymar do surfe" percebeu que era parte do jogo deixar por vezes os aéreos e as manobras mais arriscadas e inovadoras para dar lugar a um surfe mais clássico, arriscando apenas se estivesse em uma situação confortável. A mudança de estratégia surtiu efeito. Desde a primeira etapa da temporada, nas ondas de Snapper Rocks, na Gold Coast australiana, Medina tem apresentado uma boa regularidade.
- Eu mudei meu jeito de surfar nas baterias este ano. Antes, eu arriscava mais. Se caísse, beleza, eu levantava e tentava de novo a manobra na outra onda. Comecei a observar como os mais experientes faziam, via as ondas do Kelly, do Mick e do Parko e vi que eles tiravam notas altas surfando normal. Eu descobri o que os juízes queriam. E é isso que eu tenho feito e tem funcionado, tem dado certo - contou Medina, que venceu nesta temporada as etapas de Gold Coast, na Austrália, Fiji e Teahupoo, no Taiti.
Padrasto e treinador de Gabriel, Charles Saldanha endossa as palavras. Ele ressaltou que, embora tenha 20 anos, o filho já demonstrou maturidade para descobrir o caminho das pedras. E mesmo optando por manobras de força, ainda encontra espaço para o espetáculo.
- A maturidade fez a gente aprender a jogar as regras do jogo. Estamos dançando conforme a música. O Gabriel cresceu com manobras de força, mas continua dando show. Ele sabe que passar baterias é o mais importante, mais do que dar show. O Gabriel está mais maduro, mais técnico e mais focado quanto ao julgamento. Desde pequeno, confia nos instintos dele, sempre confiou em si mesmo. Apesar de ele ter só 20 anos, tem muita maturidade. Lá em Snapper Rocks, ele virou para a mim e falou que agora sabia como ganhar as baterias. Às vezes, eu fico apreensivo, e ele diz para eu ficar tranquilo, porque ele sabe exatamente o que fazer - analisou Charles.
Medina é o único surfista que depende apenas de si mesmo para conquistar o tão sonhado título mundial, que seria o primeiro do Brasil na história da modalidade. Além dele, o americano Kelly Slater, dono de 11 títulos do mundo, e o australiano Mick Fanning, tricampeão mundial, também estão na briga pelo caneco na última etapa do WCT, de 8 a 20 de dezembro, em Pipeline, no North Shore de Oahu.