Milton Cedraz – Engº Agrº Técnico em Desenvolvimento Econômico pela Cepal/ONU
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Milton Cedeaz , Salvador |
04/01/2019 às 11:56
Um simples capitão elegeu-se presidente contrariando a todos
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A trajetória econômica do Brasil, depois dos mais estapafúrdios planos econômicos, começou a tomar rumo promissor a partir do governo Itamar, quando foi implantado o Plano Real. Com o sucesso deste, elegeu-se Fernando Henrique Cardoso, que em paralelo, enveredou por uma série de providências coerentes com a magnitude do Plano Real.
Principalmente, a Lei das Responsabilidades Fiscais! Com a firmeza que conduziu a economia e algumas politicas sociais, diz-se de inspiração e influência de D. Ruth Cardoso, o Fernando Henrique cometeu uma das maiores heresias, ao copiar o sistema americano da reeleição. Para isso, utilizou-se das mais torpes medidas fisiológicas junto aos demais poderes, particularmente, o toma lá da cá junto aos partidos e aos parlamentares.
Nesse momento, abriu-se de vez, a porteira da corrupção que já medrava desde o início do regime republicano. Dessa forma, iniciou-se o processo de desmontagem das excelências do Plano Real. Mesmo prosseguindo com políticas públicas salutares, o segundo período governamental de Fernando Henrique, terminou, melancolicamente, metendo os pés pelas mãos, de forma tal que não consegui fazer o sucessor.
Veja-se o lamentável e torpe episódio, articulado para banir a candidatura de Roseane Sarney que se mostrava viável, até então. Ao se desentender com as principais lideranças politicas, por achar que tinha de fato, o cabedal político necessário, lançou um candidato com DNA de seu próprio grupo político. Enquanto isso, ACM, Sarney, Maluf e outras velhas raposas, tateavam em busca de uma alternativa, cogitando-se finalmente pelo Ciro Gomes que, como sempre, acabou dando tiros nos pés.
Assim sendo, não restou alternativa, senão apoiar um candidato capaz de derrotar o grupo paulista, o Lula. Esse, liderando um partido politico, com apelos populistas, mostrava que, aliado aos velhos caciques, tinha condições de derrotar a oligarquia paulista. E assim foi feito! Mas, não antes de firmarem compromisso em manter as politicas públicas, principalmente, aquelas coerentes com o Plano Real.
Daí nasceu a Carta ao Povo Brasileiro. Iniciou-se assim, um governo que tinha tudo pra dar certo, pelo menos da forma que estava articulado. Surfando sobre os resultados do Plano Real, mercado mundial favorável às principais commodities, pincipalmente pela forte entrada da China, no mercado comprador e algumas politicas públicas assistencialistas e com apoio das mais importantes oligarquias políticas, Lula conseguiu popularidade suficiente para reeleger-se e ainda por cima, posteriormente, eleger uma ilustre, politicamente, desconhecida!
Desde o início do primeiro governo Lula sentia-se que havia certa má vontade em manter-se no rumo do Plano Real! Criou-se assim, um enganoso clima de ufanismo sobre os resultados das politicas públicas que se vinha adotando, contrariando os pressupostos das politicas públicas coerentes com o Plano Real e, sobretudo, com a Lei de Responsabilidades Fiscais.
Já aí, anteviam-se nuvens negras no horizonte, embora difícil de serem detectadas por falta de transparência suficiente e de alto crítica. Mesmo assim o governo conseguiu manter a popularidade, escorada em muita doutrinação, eficiente programa de comunicação, com base em grandes verbas para manter a permanente boa vontade da mídia, ao lado de políticas públicas assistencialistas, escoradas, cada vez mais, em um forte viés ideológico!
Sobre esses pressupostos, em seguida, elegeu-se e reelegeu-se um governo que primou em adotar politicas econômicas que não condiziam com o momento internacional e que, mesmo assim, com base nos preços e demanda das commodities, que ainda lhes eram favoráveis, cometia desatinos de diversas naturezas, tanto que permitiu a disparada do déficit público acompanhada de inflação e desemprego, sem se falar no tsunami da corrupção que grassava por todos os lados! Por outra via, o povo dava demonstrações de impaciência através de manifestações públicas, sem definição clara das reinvindicações e lideranças, como se deu em 2013, em Brasília!
Resultado culminou-se pelo afastamento do mandatário do governo, por um doloroso processo de impeachment. Assim, iniciou-se uma nova etapa com um governo impopular, sinalizando que o caminho era outro, mesmo sem se saber qual! Mesmo assim, embora constituído por velhos caciques, muitos dos quais sob suspeita de envolvimento em maracutaias, foi possível que identificassem e retomassem politicas públicas salutares para iniciar-se a recuperação e retomada do crescimento econômico, debelando-se a inflação e o estancamento do processo de desemprego que beirava os 14 milhões.
Louvem-se as decisões do Temer, convicto que, possivelmente estava, de que sua trajetória política, ali se findava. Assim sendo, resolveu patrocinar políticas públicas impopulares, mas capazes de tirar o país do buraco em que se encontrava. Embora assediado pelos partidos políticos e por diversos segmentos sociais, manteve sua determinação em tentar a recuperação econômica e o estancamento do processo de desemprego.
Conseguiu feitos notáveis, tais como, reduzir a inflação de 14% para 4%, reduzir o desemprego de 14% para 11%, além de introduzir uma série de medidas salutares na governança, como reduzir a taxa CELIC de 14 para 6,5%, por exemplo. Não conseguiu muito mais, porque a Procuradoria Geral da República com toda razão, mas sem o devido senso da oportunidade, fez duas tentativas para desestabilizar o governo através de denúncias, quando poderia, conhecendo os graves problemas que afligiam o país e a urgência em soluciona-los, esperar para, no momento oportuno, se fosse o caso, fazer a justiça necessária.
Setores sociais, parte do público e a mídia, ajudaram fazer marola, em um momento tão delicado. Mesmo assim, o governo conseguiu fazer parte importante da reforma trabalhista e outros avanços.
Contudo, a mais importante reforma, a da Previdência, não foi possível ser incrementada porque o Presidente teve que negociar duas vezes com os parlamentares para se manter no governo e aí, se imagina que tipo de negócio foi possível de ser realizado! Algumas sórdidas medidas foram tomadas em face dessas negociações, que redundaram em elevação de gastos, independente do escandaloso déficit público, uma das quais, o famigerado e inescrupuloso aumento dos maiores salários públicos do país, os dos ministros do STF, que, como consequência, acarreta, em cadeia, os de todo o judiciário e, naturalmente, do restante do funcionalismo público. Claro que o STF sabe bem disso, mas, pouco está se lixando!
Por conta disso tudo, um simplório capitão do exército, integrante do baixo clero da Câmara de Deputados, se lança candidato á presidência da republica, sem respaldo político algum, sem ser conhecido, a não ser por alguns evangélicos e eleitores, suficientes para lhes dar quatro mandatos, elege-se presidente da república e, sobretudo sem recursos financeiros, ainda que fossem do Fundo Partidário, porém com um discurso que a maioria da população ansiava!
O que prova que o Fundo Partidário e dinheiro público não são necessários para se fazer politica e sim criatividade, discurso consistente e ficha limpa. O povo acordou da sua letargia e indiferença. Os integrantes do velho sistema estão pagando o preço por não terem acordado antes do povo e se preparado para novos rumos que a sociedade sinalizava e novos horizontes que se abriam. Se algum dia quiserem voltar, vão ter que mudar, totalmente o estilo, principalmente de que dinheiro sujo, nem mesmo limpo e discurso mofado, já não mais elege ninguém, embora enriqueça!