Cultura

LANÇAMENTO DE "ICONOGRAFIA BAIANA NA COLEÇÃO FLÁVIA E FRANK ABUBAKIR"

Obras de arte, mapas e livros raros produzidos entre os séculos XVII e XIX trazem à luz o período de formação do Brasil através dos olhares de viajantes, pintores, exploradores e visitantes
Paula Catunda , Salvador | 03/12/2024 às 19:01
Lançamento de "Iconografia baiana na Coleção Flávia e Frank Abubakir"
Foto: Divulgação

A maior e mais importante coleção privada do país reunindo a iconografia baiana entre os séculos XVII e XIX chega ao público neste mês de dezembro, em volume publicado pela Capivara, com organização de Pedro Corrêa do Lago. São raros e importantes óleos, uma longa série de aquarelas, sketchbooks, gravuras, livros ilustrados (muitos dos quais existem apenas poucos exemplares no mundo), e alguns dos primeiros mapas do Brasil. O patrocínio é da Unipar através da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal.

 

Primeira capital da colônia (até 1763), Salvador, ponto estratégico no processo de ocupação português, despertou a cobiça de navegadores de outros países. Mesmo antes da chegada da família real portuguesa em 1808 e a abertura dos portos, a Bahia já havia sido visitada por artistas, navegadores e exploradores basicamente holandeses, que reproduziram paisagens e personagens. A partir de 1808, a iconografia cresce, especialmente pelo encanto com as paisagens locais.

 

O recorte escolhido para o livro enfatiza a diversidade de interesses dos artistas estrangeiros pelas terras e populações baianas. Os textos são de autoria de sete historiadores/professores/arquitetos. As apresentações de cada uma das seções trazem textos do professor, historiador e consultor, mestre e doutor em História pela Universidade Federal da Bahia Daniel Rebouças. “Essa é uma obra de grande peso, um marco para iconografia sobre a Bahia e sobre o Brasil de modo geral”, afirma Daniel.

 

Flávia e Frank Abubakir vêm reunindo sua coleção há mais de duas décadas, no desejo de contribuir para a memória, a pesquisa e a preservação da arte que retrata a Bahia, democratizando e ampliando o conhecimento sobre o Brasil e as terras alcançadas pelos portugueses em sua pioneira globalização. O Instituto Flávia Abubakir soma mais de 50 mil itens, a maioria dos quais com acesso digital pelo site Instituto Flávia Abubakir (institutoflaviaabubakir.org) que disponibiliza o acervo para consulta.

 

Alguns destaques

 

Entre os documentos bibliográficos referenciais estão, por exemplo, o livro Jornada dos Vassalos – narrando a reconquista de Salvador aos holandeses, em 1625, escrita pelo jesuíta português Bartolomeu Guerrero; o clássico Rerum per Octennium in Brasilia, de Caspar Barlaeus – conhecido como “o Barléu” - e a primeira edição inglesa do famoso livro sobre piratas de Alexandre Olivier Exquemelin (c.1645 – c.1707), com o curioso retrato de Rocky Brasiliano, pirata holandês que atuou como corsário na Bahia.

 

Das raridades cartográficas da coleção destaca-se o mapa elaborado por Joos Coecke, engenheiro holandês, durante a ocupação de 1624. Os holandeses tomaram Salvador por um ano, até serem expulsos pelos portugueses. Esse mapa tem impressionante precisão, a ponto de corresponder à cartografia atual da cidade. Na mesma seção, o grande mapa de parede de Georg Marcgraf, de 1647, na sequência da ocupação de Pernambuco por Mauricio de Nassau – uma peça de grandes dimensões que mostra o Nordeste brasileiro, com vinhetas de Frans Post.

 

A coleção de óleos tem telas especialmente importantes de Righini, Selleny, Grenier e Moreaux, entre outros pintores. São 22 exemplares apresentados, alguns fazendo par complementar com telas do acervo do Museu Nacional de Belas Artes e do Museu de Arte da Bahia.

 

“Os desenhos, guaches e aquarelas foram as principais formas de registro visual dos viajantes que passaram pelo Brasil, sobretudo no século XIX”, aponta Daniel Rebouças. Dentre as aquarelas, destacam-se exemplares de cenas panorâmicas de Manley Hall Dixon e os belos e detalhados retratos da vida urbana de Salvador por William Smyth – ambos, integrantes da Marinha inglesa de passagem


pelo país. Desenhos e esboços, tanto independentes quanto inseridos em livros e sketchbooks, trazem inclusive informações sobre costumes – tal como a planta de um casarão do século XIX. 

 

As gravuras são o maior grupo de imagens do livro, desde as obras ligadas à época dos holandeses até o trabalho dos viajantes Carl von Martius, Rugendas e Maria Graham, sobre a Bahia oitocentista.

 

Há ainda diversas obras, em vários suportes, baseadas em fotografias, cujos originais são exibidos na mesma página – a arte fotográfica estava em ascensão no século XIX.

 

Iconografia baiana na Coleção Flávia e Frank Abubakir estabelece um novo patamar de conhecimento e apreciação deste importante recorte da produção artística no Brasil - que, de fato, é crucial para compreender o período e os elementos de formação do país. 

 

Organizador

 

Pedro Corrêa do Lago, economista de formação, é editor, autor de vinte livros sobre a arte e a cultura brasileiras e sobre manuscritos, historiador, colecionador, curador de importantes exposições no país e no exterior, com atuação destacada na história da arte. Formou aquela que é considerada a maior coleção privada de manuscritos do mundo. Em 2001, fundou com sua esposa, Bia Corrêa do Lago, a editora Capivara, especializada em arte brasileira, que publicou os primeiros levantamentos completos das obras dos maiores pintores viajantes. Foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional de 2003 a 2005, lançando a Revista de História da instituição. Em 2022, publicou, pela Gallimard, na França, o livro Marcel Proust: une vie de lettres et d’images (premiado no país do escritor) e apresentou a exposição A magia do manuscrito no Sesc Avenida Paulista, depois da mostra na Morgan Library, de Nova York, em 2018, com livro homônimo publicado pela Taschen.