Cultura

BIENAL DO LIVRO DA BAHIA TEM PREDOMINIO DE JOVENS NOS ESTANDES DO CCS

Veja video na home do BahiaJá e também video no canal YouTube de Sêo Franco
Tasso Franco , Salvador | 28/04/2024 às 12:45
A Bienal dos Jovens
Foto: BJÁ
  A Bienal do Livro da Bahia segue neste domingo no seu terceiro dia com o Centro de Convenções de Salvador lotado. Chegue cedo porque o domingo promete. O evento está sendo dominado pelos jovens que estão comparecendo em massa e adquirindo livros e outras peças e objetos à venda todos ligados a literatura.

   Ontem, segundo dados da equipe ViaPresse, o primeiro painel do Café Literário reuniu Jeferson Tenório, Lívia Natália e Conrado Hubner, numa conversa sobre censura e liberdade de expressão. Tenório, que teve o livro 'O avesso da pele' recolhido em três estados neste ano, narrou a sequência episódica do caso, que terminou com a justiça decidindo pela devolução dos livros às escolas.

  "Foi feito um vídeo por uma diretora de escola, que viralizou. Ela pescou frases e palavrões e disse que o livro era erótico. Não é um livro erótico, é a história de um filho que perde um pai numa abordagem policial, fala sobre racismo estrutural. Quando vi a diretora falando dos palavrões, eu estava terminando meu próximo livro, e eu pensei até em colocar mais palavrões, já que fez tanto sucesso", ironizou ele, acompanhado de risos da plateia. 

   A violência policial é assunto frequente também nas obras de Lívia Natália e a autora recordou quando seu poema Quadrilha foi censurado em outdoors em Ilhéus, em 2016, por trazer à tona o caso conhecido como Chacina do Cabula. "Policiais militares entraram no meu Facebook e começaram a reescrever o poema. Eu printei tudo porque me chamou a atenção. Eu acho que isso rende um estudo. É uma tentativa de apagar, de censurar, 'eu já tirei seu outdoor, e vou reescrever seu poema", avalia.

  Bruno Paes Manso, por sua vez, trouxe um pouco mais sobre o histórico desse medo das pessoas em ocupar a cidade. As cidades passaram por booms populacionais com o movimento de êxodo rural e esses adensamentos produziram desigualdades. Ao mesmo passo, as drogas tornaram-se uma commodity proibida vinculada à cultura urbana.

O terceiro painel trouxe a médica psiquiatra Natália Timerman e o professor e psicanalista Christian Dunker falando sobre a complexidade dos lutos e afetos. Natália contou que decidiu escrever o livro após a perda do pai, mas carrega com ela os receios da exposição, já que, apesar de fictícia, a obra tem muitos elementos autobiográficos.

"Eu entendi como a escrita do luto organiza uma experiência disforme, perturbadora. Escrever, para mim, serviu para eu simplesmente fazer alguma coisa. Quando alguém morre, a gente se vê numa impotência, e escrever é fazer alguma coisa", analisa.