Cultura

A HISTÓRIA BAIRROS DE SERRINHA, CAP 21: ESTÁDIO, ANTIGO BARRO VERMELHO

Bairro da Zona Leste estruturado e um dos melhores da cidade e que nasceu no antigo Barro Vermelho com a construção do estádio Marianão
Tasso Franco , Salvador | 12/04/2023 às 09:56
Rua principal do bairro
Foto: BJÁ
      O bairro Estádio, em Serrinha, tem similaridade com outros bairros às margens da BA-409 (ligação Serrinha-Coité, 1985, governo João Durval Carneiro) embora sua matriz original, a construção do Estádio Mariano Santana (Marianão) - que daria nome ao bairro - seja da década de 1970, nos governos Roberto Santos, estadual (1975/1979) e Mariano José de Oliveira Santana (01/02/1973 a 31/01/1977), municipal. A obra, no antigo campo do barro vermelho, começou - salvo engano no início de 1976 e concluída em janeiro de 1977 - quando Mariano passa a Prefeitura a Aluízio Carneiro da Silva, segundo mandato, 1977/1983. 
 
   Quem conta a história é Ruy Pinheiro, filho do ex-vereador Nequinha do Correio: "A turma da Rua Coronel Joaquim Silvio Ribeiro - onde eu morava - batia o baba no barro vermelho quando começaram as obras do "Marianão" e a gente fazia as traves de flechas do sisal. Havia a Rua Nova onde tinha a ACS, o quartel (delegacia de polícia) vizinho do Sr. Dos Reis e dona Lió - pais de Gó, Juarez e Maneca do Abrigo Casablanca - que vendiam carvão -; o bar de Rubem, o bar de João de Souza que era como se fosse um armazém onde se vendia de tudo - pão, farinha, feijão, arroz, óleo, querosene para candeeiro e as famosas 'foias podres', que 6 horas da manhã seus clientes já estavam na porta esperando abrir, todos se tremendo para tomar a primeira do dia".
 
   Então, destrinchando em miúdos esse depoimento de Ruy, o que existia nessa quadra que se transformou em bairro (a Câmara Municipal ainda não me informou quem foi o autor do projeto de lei, embora já pedi ao presidente da Casa, vereador Alex Menezes, há 1 ano) é que havia a área da ACS (Clube) que partia da Rua Nova até a antiga delegacia (quartel dos presos) onde, depois, se instalou o Bar do Rubem (Rubão) e anos depois, a Brisa Morena - Espaço Fest, de Zé Martins, uma imensa área - o barro vermelho - que se situava à margem da Av Capitão Apolinário que segue até o bairro do Cruzeiro (Novo Horizonte) onde moravam o fazendeiro Novaes e o professor e historiador Lafayete Coutinho.
 
  A IMPORTÂNCIA DE NOVAES
 
   Toda esta área que ia do "Marianão" até a linha do trem, na direção Sul, pertencia ao fazendeiro Manoel dos Santos Novaes que morava no local e tinha um matadouro particular que fornecia carne verde ao Mercado Municipal e também exportava carne de sol e chouriços para Alagoinhas, Mata de São João e Salvador. A família Novaes - durante muitos anos teve um boxe no mercado onde vendia linguiças (feitas a mão) e carne do sol, tradição que ainda é mantida por seus descendentes Marli e Tuica.
 
  Jorge Matos, sobrinho de Novas (filho de Lurdes - irmã de Novaes - e Benedito Matos) conta que nasceu nas proximidades do bairro, morou no bairro, numa área próxima a fazenda de Novaes e conta que sua mãe e seu tio chegaram em Serrinha na década de 1940 provenientes de Cedro de São João, Sergipe, e mais Maria José, Magnólia e Jiminólia. "Novaes se tornou um fazendeiro poderoso abatedor de gado e exportava a carne de sol enfardadas em esteiras amarradas com caroá com fardos de quase 100k enviados para Salvador pelo trem da Leste", conta Jorge.
 
  Havia, já na década de 1950, um caminho (ou trilha) que dava no bairro do Matadouro (além da linha do Trem, na área Leste) e esta rua, hoje, margeia o estádio num prolongamento da Graciliano de Freitas e se chama Av Capitão Apolinário. A família Novaes, posteriormente, loteou o fundo de sua residência-chácara.
 
   UMA LONGA HISTÓRIA
 
   Vale observar que toda essa área que pertencia ao bairro Centro, nas décadas entre 1930/1940, no terreno onde foi construído a ACS, em 1952, existia o Estádio André Negreiros Falcão - um campo de futebol, sem arquibancadas - cujo clássico era São Cristovão x Serrinhense onde brilhavam Eurico Paes, Zé Ramos (Coqueiro), Panema e outros. Com a construção da ACS, a Liga Serrinhense de Desportes Terrestres (LSDT), fundada em 24 de setembro de 1947, por Pedro Burgos Soares, José Ramos de Menezes e José Deusdédito de Carvalho, os jogos passaram para o Estádio Serrinha ou Campo do Cemitério - área, hoje, ocupada por residências próxima a Morena Bela, com o clássico Fluminense x ACEC. 
 
   O "Marianão", portanto, nasce para sustentar uma tradição futebolística de Serrinha que data do ano 1919 - o início - quando José Pinheiro Alves fundou os times Guanabara e Botafogo com partidas que se davam na praça Miguel Carneiro (da Catedral). Os times ainda tinham designações em inglês (Sport Club Foot Ball Botafogo e Sport Club Foot Ball Guanabara) - o futebol organizado nasceu na Inglaterra, em 1863 - e era a paixão local. Ninguém jogava volei ou basquete ou praticava outro esporte.  
 
   PAI APAIXONADO POR FUTEBOL
 
   Mariano José Santana de Oliveira era filho de Paulino Santana (Biêta) e Lindaura Moreira Santana e, embora não jogasse futebol, seu pai era apaixonado pelo esporte e criou, inclusive, na década de 1950, uma liga de futebol infanto-juvenil com os times Ypiranga x Bahia. 
 
   No governo Roberto Santos (1975/1979) este nomeou para a Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social uma serrinhense ligada ao PSD de André Negreiros Falcão, Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, de tradicional família local, filha de Manoel Geraldo de Oliveira e Alzira Ribeiro.
 
    Veja, portanto, que a raiz do estádio vem da política do antigo PSD de André. Manoel Geraldo foi o candidato derrotado por Carlos Mota para prefeito, em 1958. Ivete, que era formada em Enfermagem e estava desvinculada de Serrinha, era diretora da Escola de Enfermagem da UFBA quando Roberto Santos levou-a para ser secretária, obviamente, para a política. Ivete organizou e instalou Centros Urbanos no Estado (o CSU Dalva Negreiros vem daí) e estádios de futebol entre outros. E incluiu Serrinha no contexto.
 
   O Estádio de Serrinha nasceu com o nome de Municipal de Serrinha, mas a população colocou o nome popular de Marianão - um superlativo de Mariano Santana. E esse estádio foi fazendo sua história com a seleção de futebol amadora de Serrinha sendo tri-campeã baiana nos anos de 1982, 1988 e 2009. 
 
   No ano de 2019, na gestão do atual prefeito, Adriano Lima, o estádio abrigou o São João sendo um equipamento de multiuso - sem as condições de infra necessárias - e virou uma terra arrasada. Mas, felizmente, em 2020, houve numa reforma com instalação de gramado sintético, pista de atletismo, quadra de areia, alambrado móvel para realização de eventos e vestiário. Hoje, está subutilizado porque Serrinha deixou de ter um campeonato local, salvo aqueles que existem nos bairros.
 
   DEPOIMENTO DE LOURDES PINTO
 
   "Isso mesmo! Bons tempos de Serrinha. Meu filho mais velho era zagueiro da seleção de Serrinha. Bons tempos Era a grande diversão aos domingos os jogos no estádio. Mas era quando os prefeitos como: Josevaldo e o saudoso Popó que gostavam de jogos de futebol. Eles traziam times de outros lugares para jogar com a seleção de Serrinha: Bahia, Vitória, Ponte Preta. Era um domingo alegre para nós. Mas, hoje, não tem prefeito que se interesse pelo futebol Serrinhense acabou o futebol"
 
   A ACS E A POLICLINICA
 
   Em 2021, a Secretaria de Saúde do Estado (SEAB) adquiriu parte do terreno da ACS (não se sabe, até hoje, como conseguiu esse feito por se tratar de uma área de dominío coletivo - e instalou a Policlínica Serrinha para atender pacientes originários de diversos municípios com investimento de R$29 milhões. Esse é um projeto consorciado com vários municípios que bancam financeiramente a manutenção juntamente com a SESAB.
 
   O ex-professor Waldyr Cerqueira impetrou uma ação para evitar que a ACS ficasse para um dono, mas faleceu sem conseguir que a ação prosperasse. Há, hoje, outros movimentos políticos debatendo o assunto na cidade.
 
   A VILA PINHEIRO 
 
   A Vila Pinheiro é um corredor de casas (área privê com portão eletrônico) criada por Sêo Pinheiro, antigo oficial de Justiça de Serrinha, pessoa queridíssima que se estabeleceu com a família e amigos neste local. Aí mora uma de suas filhas que atuou na UNOPAR, Eliana.
 
    O BAR DO SOUZA
 
      O Bar de João de Souza era o 'point' dos jovens serrinhenses que iam 'molhar o bico' ou fazer o 'esquenta' antes de começar as festas do Clube. Gerações de serrinhas fizeram isso enquanto o clube durou, entre 1952 até início da década de 1990. Souza morreu recentemente com mais de 100 anos de idade e morava próximo do bar, na Graciliano de Freitas. 
 
   O Bar do Souza abrigava, diariamente, também, velhos boêmios da Serra como Dwilson e Dodô de Dona Maninha e biriteiros de carteirinha que chegavam cedo para molhar o palato: Jujuba, Irineu, Gino. Por posto, participei de algumas farras neste bar (estilo boteco) ouvindo os velhos seresteiros e também antes de ir para as festas no clube. Souza era um figuraço, sempre de bom humor, servia uma cerveja geladíssima e adorava curtir com os biriteiros'.

   Souza morreu com mais de 100 anos de idade, recentemente.

   O BRISA MORENA
 
   O Brisa Morena - Espaço Fest - nasceu no século XXI no local onde, originalmente, era um matadouro, depois o quartel (delegacia dos presos) e o bar do Rubem. A ideia foi de José Martins - o mais refinado cantor da Serra - a voz de veludo que criou uma casa de serestas, eventos que estavam em moda no Nordeste com alguns cantores famosos percorrendo as cidades, inclusive Diógenes, o rei das serestas.
 
   Zé Martins, no entanto, já estava idoso - aposentado da Coelba, morador do bairro em rua vizinha ao Clube - e fez o que pode para manter a casa, que durou poucos anos. Martins cantou muito nos carnavais e outras festas no Clube com Azevedo e Sua Orquestra, Celso e Sua Orquestra e também com suam Charanga. Bati vários papos com Martins, em sua casa, antes dele falecer. E sou fã de uma de suas netas, Duda Andrade.
 
   A CADEIA
 
   A cadeia pública ou quartel ficava ao lado da ACS. Quando eu era menino - na década de 1950 - uma das nossas curiosidades era ir até esse local para ver os presos. Causava uma sensação enorme, a adrenalina ia parar nas alturas. Era uma construção simples com celas e grades robustas de ferro.
 
   O HOSPITAL SANTANA
 
   O Hospital Santana - que foi dirigido durante anos por Hamilton Safira - é um equipamento médico mais antigo do bairro. Ainda presta relevantes serviços à população.
 
   COMO ESTÁ HOJE
 
   O bairro, na atualidade, tem como divisor territorial na zona Leste, a BA-409 (estrada Serrinha-Coité) e a Oeste o bairro Centro; na zona Sul vai até a linha do trem na divisa com o bairro Novo Horizonte; e na direção Norte com a Av ACM topando com o Parque Santana. 
 
   É um bairro misto - residencial, comercial e serviços - com áreas de expansão no Loteamento Novaes e áreas próximas ao Maracassumê. Na última visita que o governador Rui Costa fez a Serrinha (inauguração da Policlínica) prometeu asfaltar as áreas no entorno da Policlínica. 

   A parte da Av ACM, a partir do ex-hospital Antunes até a BA está repleta de casas comerciais e de serviços, tempos religiosos e outros. No entorno do estádio ruas com residências. A infra-estrutura do bairro é boa, mas ainda faltam calçar ou asfaltar algumas ruas.