Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA: CAP 6 - O BAIRRO DA BOMBA E O TREM

Bairro dos mais antigos que nasceu em função da estrada de ferro e o abastecimento das locomotivas com uso de uma bomba
Tasso Franco , Salvador | 21/12/2022 às 09:50
Vanuza de Sêo Adão e Eliane fazem pose na antiga bomba, década de 1980
Foto: Rep

  O bairro da Bomba é o 2º mais antigo de Serrinha e algumas de suas áreas se confundiam, na origem, com o Centro Histórico, hoje, Centro. Nasceu com a implantação da Estrada de Ferro inaugurada em 18 de novembro de 1880, ainda no Império, com Dom Pedro II. A Vila de Senhora Sant'Anna de Serrinha era a maior localidade entre Alagoinhas (Estação São Francisco) e a Vila Nova da Rainha (Senhor do Bonfim), portanto, precisava ter uma base para as máquinas - oficina de consertos, engenharia, residências - e a necessidade de água para abastecer todo esse sistema. 

  Ademais, a linha do trem estava prevista no projeto original da Junta da Lavoura para ir até Juazeiro. De Serrinha e Bonfim as obras duraram mais 7 anos e entre Bonfim e Juazeiro mais 9 anos (1896). A base inicial de apoio a extensão da linha até Bonfim - Barrocas, Santaluz, Queimadas - era Serrinha e o governo imperial decidiu construir um açude à jusante da estação, área Oeste da Vila com a missão de fazer esse abastecimento. 

  Depois de pronto o açude, a Rede Ferroviária iniciada no Brasil pelo Barão de Mauá (Estada de Ferro Petrópolis, 1854) colocou uma bomba manual para levar água às máquinas, ainda nos troleys - uma espécie de carroça ferroviária com quatro rodas movido a mão - que levavam a água em tonéis (ou bombonas).

  As locomotivas - apelidadas de Maria Fumaça - eram impulsionadas por um motor a vapor composto por caldeira, responsável por produzir o vapor com energia (lenha ou carvão), a máquina térmica, transformando a energia do vapor em trabalho mecânico e a carroçaria. 

  Era um trabalho braçal duro, infernal: o combustível (lenha seca) era queimado na fornalha (colocada manualmente), o calor da queima passava para a caldeira (é ai que entra a água) que, ao ferver, gerava vapor, se acumulava no domo criando pressão para movimentar os cilindros fazendo a máquina andar nos trilhos. 

  Esse sistema precisava de dois elementos chaves: combustível (lenha) e água. E, claro, um operador capacitado para controlar as pressões dos gases quentes gerados através dos tubos da caldeira para dentro da caixa de fumaça, de onde eram expelidos para cima, através da chaminé. Por isso as máquinas eram chamadas de Maria Fumaça.

  Em Serrinha, a máquina 500 explodiu na estação exatamente por descontrole dessa pressão.

  As bombas manuais que, na origem, abasteciam as máquinas, foram substituídas por uma bomba hidráulica enorme movida a óleo diesel que transportava a água por canos de metal até uma caixa d1água construída a 100 metros da estação (na direção Leste) e através de uma mangueira abastecia as máquinas, a estação que possuía um salão de passageiros, bar, sanitários, o Hotel da Leste e as casas dos ferroviários. 

  É exatamente a partir dessa bomba que a população da vila e depois da cidade (a partir de 1891) apelida o reservatório de água da Leste Brasil com o nome de Açude da Bomba. E, com o passar dos anos, o bairro passou a ser chamado e efetivado na divisão territorial como Bomba. Com o advento das locomotivas a óleo diesel a bomba entrou em desuso e o sistema ferroviário, como um todo, entra em decadência quando o Brasil adotou de forma mais dinâmica o sistema rodoviário, em Serrinha, com Mário Andreazza e a abertura da BR-116 Norte (Rio-Bahia) asfaltada. 

  O BAIRRO DA BOMBA

  Até Serrinha ainda Vila e depois na República Velha (1891/1930) o bairro da Bomba não existia com essa designação. Tudo era Serrinha nessa área Oeste da Cidade. Já nos anos 1960/1980 uma parte dessa área da cidade passou a ser conhecida como Coréia, zona de prostituição, com o Cabaré do Viana e boites de Zinho e Cecílio. Ganhou esse nome em função da Guerra da Coréia, meados da década de 1950, com a invasão dos EUA e a divisão da Coreia em duas, do Norte e do Sul. A Coreia serrinhense se concentrava em duas ruas e no beco da Galinha Morta e se estendia, numa delas, até a Getúlio Vargas (linha do trem). Na década de 1990, a Coreia deixou de existir e uma dessas ruas, hoje, chama-se Bernardo da Silva (fundador do povoado).

  A formatação do bairro da Bomba é a seguinte: o eixão longitudinal (Sul/Norte) é a Avenida Manoel Novaes. O que está à direita da Manoel Novaes no sentido Sul/Norte é Centro; e o que está à esquerda é Bomba. Na linha Sul, situa-se a Av Getúlio Vargas (a linha do trem); o outro eixo é a Avenida Antônio Rodrigues Nogueira (antiga Rua Direita) que sai do centro em direção a Barrocas. Nessa direção, o que está à esquerda é Bomba; o que está à direita é Santa. E, na zona Oeste, situam-se o enclave Os Treze (noroeste) e a Vila de Fátima, antiga Coruja, sudeste. 

  O açude da Bomba não existe mais. Virou um pinicão, pois recebe o esgotamento sanitário dos bairros Rodagem, Santa e Oseas. Ainda existe uma lâmina d’água (fio d'água) com um capinzal e todos os quadrantes do antigo açude foram sendo aterrados, aos poucos, com a construção de casas até mesmo em cima do antigo pontilhão. Existe até uma capela no local e várias casas comerciais e de serviços - oficinas de automóveis e de tratores. Há, ainda, o campo da Lixa (de futebol) hoje cercado e com uma arquibancada e liga constituída. 

  A tendência é desaparecer de vez na medida em que o esgotamento sanitário seja concluído. Na atualidade, encontra-se na Baixa de Dr Samuel e se avançar na direção Sul deve por fim a lâmina d'água do que resta da antiga bomba. Hoje, são centenas de casas em torno da bomba sendo o enclave principal a rua dos Tamarineiros. O bairro cresceu e está quase todo urbanizado com calçamento em paralelepípedos com uma boa área comercial na sua zona Norte. Na parte Sul tem uma pracinha - da Bandeira; e no centro do bairro um colégio.

  Quando ainda havia o açude pescava-se na bomba, mas o local não era piscoso. Há muitas histórias de pessoas que morreram aprendendo a nadar na Bomba, a maioria conversa fiada. Muitas pessoas de minha geração aprenderam a nadar na Bomba, local que era considerado o nosso mar. O pontilhão da Bomba - área onde passava o trem - na zona Norte - era o local ideal para dar caídas quando o açude estava cheio. Diz-se que, nesse local, morava o lobisomem de Serrinha, numa loca. Havia, ainda, quando o açude estava cheio uma lâmina d'água que se formava onde está Os Treze que chamávamos de açudinho, bom para aprender a nadar. Na parte Sul ficava o pontilhão - também estrada antiga que se dirigia s Barrocas - área de escape da água quando o açude enchia. 

  A Bomba, também, era um local turístico para a população serrinhense e as pessoas iam com as famílias para fazer fotografias e até pic-niques. 

COMENTÁRIOS BAIRRO DA BOMBA

(Jorge Matos) Muito bom, pura história, local onde aprendi a nadar e adquiri o sistosoma mansoni, comi muito peixe traíra, corró, marinheira e piaba pescadas pelo Sr Amadeus, pai do cantor Manoel Messias.

(Antonio Ronaldo De Lisboa Oliveira) E a gigantesca bomba não abastecia de agua a cidade não tinha agua encanada, aos seus pés, e sim sistema de água para as locomotivas da RFF Leste Brasileira, cujos trilhos passavam sobre a barragem represa com destino ao interior Barrocas e outras, em um abastecimento desses que explodiu uma locomotiva, fato marcante até hoje na cidade.

(Carlos Nery) Vivi muito tempo da minha adolescência no bairro da Bomba, aproveitei o máximo que pude. Nas tardes de calor íamos tomar banho na bomba e no pontilhão pulávamos na água assim que o trem estava se aproximando todos nós se jogávamos nas águas. Saudades desta época.

(Margarida Maria de Souza) Cresci brincando na Bomba em frente à Caixa D'água tinha uma pontezinha que puxava a água que enchia a Caixa D'água. Tinha uma escada enorme e nós ainda criança tínhamos medo de descer. Tenho saudade do açude e tristeza de vê-lo desaparecido podia ter sido bem aproveitado pelo Poder Público. Tudo isso ainda quando a Avenida Manoel Novais hoje recebeu uma parte da rua da Matança, Joaquim Hortélio dos anos até 1962.

(Gercina Souza) É muita recordação do bairro da Bomba. Morei na rua Henrique Menezes o meu quintal dava fundos pro pontilhão a gente ia pegar água na bomba e ver a molecada tomando banho e pulando do pontilhão assim que avistava o trem era adrenalina pura hoje só saudade de daqueles tempos. Nós domingos íamos assistir jogo de futebol num campinho q tinha nos trezes era maior festa

(Romilce Lopes) Tenho muita saudade, tenho boas recordações de minha infância e adolescência na bomba... só resta lembranças!