Cultura

LISBOA, CAP 27: PADARIA SÃO ROQUE, A CATEDRAL DOS PÃES DO BAIRRO ALTO

Um local especial pela arquitetura e decoração com muita história
Tasso Franco , Lisboa | 17/08/2022 às 08:55
A belíssima padaria de Lisboa
Foto: BJÁ

O motorista de táxi estranhou que eu tivesse pego um carro a partir do Largo da Figueira até o Bairro Alto, em Lisboa, na direção da Rua Rosa, para conhecer uma padaria. Imaginava o moço que eu fosse comprar pães quando, na Figueira e na praça Marques de Pombal, há bons locais para vender pães e a dois ou três passos donde estava na rua Augusta está a Paul, uma das melhores padarias de pães artesanais de Lisboa.

  Mas eu insiste. Ele não teve alternativa a não ser me levar até a São Roque. Minha neta, que consultara seu iPhone disse que estava fechada, mas, não dei bolas para o que falou. Havia olhado pelo celular e a indicação é que não estaria funcionando. Mas, insisti e venci. Afinal, cheguei numa das padarias mais antigas e belas de Lisboa, a São Roque.

  Conhecida como a “Catedral do Pão” fica localizada na esquina da D. Pedro V com a Rua da Rosa e é uma das padarias mais antigas da cidade ainda em funcionamento. A senhora que nos atendeu, de humor contido, disse-me que tem mais de 100 anos de existência. Há muitas portuguesas mal humoradas nos balcões de Lisboa precisando de uma reciclagem.

  A construção do edifício onde se encontra é de 1899, data em que foi entregue o projeto nos serviços municipais. Ocupa parte do terreno do antigo Palácio dos Salemas, demolido em 1883 para alargamento da Rua do Moinho de Vento, hoje D. Pedro V. Sua fachada para a Dom Pedro V é belíssima e o interior da padaria de cair o queixo, assemelha-se a uma catedral com pé-direito alto, colunas romanas e mármores rosa. É muito bonita, embora não tenha mais o movimento em clientes de antigamente. São poucos os que entram para comprar pães e rosquinhas.

  Revela-nos a história que, em 1961, teve lugar a unificação das padarias do Bairro Alto, por decisão governamental, tendo passado a integrar a Panificação Reunida de S. Roque Ltda, sociedade comercial da qual fazem parte sete padarias, uma fábrica de pães e bolos e um depósito. 

  A São Roque destaca-se das restantes pela longevidade e pela exuberante decoração interior de inspiração Art Noveau. É também aqui que encontra, além de pão e pastelaria de fabrico próprio, a broa de Coimbra, especialidade da casa que não comprará noutro lugar.

   Não vi diferença nos produtos oferecidos pela São Roque que não sejam encontrados em qualquer outro em Lisboa. Pelo contrário, achei seus produtos pouco atraentes. Os sanduíches vistos na vitrine me pareceram desagradáveis. A atendente - pelo menos no dia em que lá estive - era contida em dar informações e retraída. Não diria que tivesse mau humor de todo, pois, ainda trocamos algumas palavras. 

   La señora Bião de Jesus solicitou uma cerveja Bock. Pareceu-me uma boa pedida, pois, a marca é boa. E, minha neta, viciada em croissant, assim quis dois deles. E, yo, fiquei a acompanhá-las e a apreciar a arquitetura da São Roque, o que de melhor há no local. Esperava algo melhor em pães e broas diante do que já tinha visto na internet.

   Mas, nada melhor do que tirar a prova dos nove. Vendo-se, ao vivo, é que se tem uma ideia do real. Tenho a impressão, agora, que o taxista desconfiado é quem estava certo. Sair da Filgueira para comprar pães no Bairro Alto não tem sentido. Mas, meu objetivo era outro: apreciar a arquitetura do prédio e a decoração da São Roque. Nesse aspecto, acertei e gostei. 

   Os frequentadores são as pessoas do bairro e pouquíssimos turistas. O que realmente encanta é a bela arquitetura do local. É muito bonita e poderia ser melhorado na oferta de pães. O mobiliário é desinteressante enquanto que a estrutura e motivos de decoração mereciam bem um acompanhamento ao nível.

  Rua da Rosa, 186 com dom Pedro V, 57,  das 7 ás 22 horas de segunda a domingo.