Cultura

ULLA VON CZÉKUS INAUGURA MOSTRA INDIVIDUAL "ÁRVORE DE MIM"

A artista expõe trabalhos de duas séries fotográficas “A Dúvida” e “Arredores”, no Ativa Atelier Livre, no Rio Vermelho

Doris Pinheiro , Salvador | 29/03/2022 às 19:46
Ulla von Czékus
Foto: Divulgação

A artista visual e fotógrafa Ulla von Czékus inaugura no próximo dia 2 de abril, sábado, a partir das 16h, no Ativa Atelier Livre, no Rio Vermelho, sua mostra individual “Árvore de Mim”, onde expõe trabalhos de duas séries fotográficas: “A Dúvida” e “Arredores”.


Com curadoria de Fábio Gatti, a exposição, que estará aberta ao público de 3 a 24 de abril, reúne sete imagens da série “Arredores”, impressas em papel fotográfico e a instalação “A Dúvida”, constituída de várias imagens diferentes recompostas a partir do arquivo fotográfico de família da artista e impressas em tecido.


“Todo o trabalho é fotografia e uso técnicas diversas para obter os resultados desejados. Produzo imagens a partir de apropriações de fotos existentes no meu arquivo pessoal de família, assim como fotografias de autorretrato que podem ser pensadas sob a ótica da fotografia encenada, revela Ulla von Czékus, que conta que ambos os trabalhos tiveram suas particularidades no que diz respeito ao modo como ele foram concebidos, elaborados e finalizados. [UC1] 


Para “Arredores” a questão principal estava no modo como ela conseguiria estabelecer uma relação com as plantas, entendidas como a própria natureza, da qual a artista também faz parte. “Meu impulso criativo se direcionou para a produção de autorretratos que apontam para uma reflexão entre natureza versus cultura”, reflete Ulla.


Já “A Dúvida” é uma pesquisa que teve como embrião a relação afetiva entre a artista e sua avó materna, Anália. “Mergulhei no arquivo de fotografias de família que possuo, o qual conta com cerca de duas centenas de itens entre imagens, objetos, cartas e documentos, para com ele reconstruir essa nossa memória ao longo de todos esses anos” diz Ulla von Czékus.


Mas apesar dos dois trabalhos terem questões específicas, eles se entrelaçam no que diz respeito à ideia de tempo. Esse tem sido o elemento principal das pesquisas visuais de Ulla, com fotografia, há quase uma década.


A exposição “Árvore de Mim” nasceu da vontade conjunta de Ulla, de Lanussi Pasquali, que está à frente do Ativa Atelier Livre, e de Fábio Gatti, com quem a artista faz cursos no espaço do Atelier desde 2020. A partir da inauguração da “A Galeria”, que hoje existe no espaço, foi se fortalecendo a ideia de uma exposição individual dos trabalhos de Ulla von Czékus surgidos no âmbito das suas atividades dentro do Ativa Atelier Livre. E assim a artista convidou Fábio Gatti para assinar a curadoria, uma vez que ele a tem acompanhado desde o início e a orientado junto aos processos criativos em fotografia.


Curador Fábio Gatti fala sobre a exposição “Árvore de Mim” e sobre Ulla von Czékus


“Meu interesse pelo trabalho de Ulla se iniciou quando nos conhecemos no primeiro curso que ela fez comigo, Fazer & Pensar, em 2020. A partir dali tenho acompanhado o crescimento e maturidade que o seu trabalho vem alcançando, bem como a reverberação dessas séries com suas publicações em diversas revistas, participação em salões de arte e convocatórias e eventos de fotografia, nacionais e internacionais.


Tudo isso fruto de muito trabalho, de uma enorme capacidade organizativa, uma escuta apurada e uma disposição para compreender as necessidades do trabalho junto às suas expectativas poéticas. Um ponto chave no estabelecimento de nossa relação foi e tem sido baseado no lema do próprio Ativa Atelier Livre, onde dou aulas, que é amor, força e arte.


Conhecemo-nos no Ativa (à época virtualmente porque estávamos no auge da pandemia do novo coronavírus, em 2020) e não teria melhor lugar para pensarmos uma individual de seus trabalhos, ali gerados, do que na própria galeria do Atelier. A partir de várias conversas chegamos à conclusão que eu faria a curadoria e, assim, ajudaria a pensar as saídas dos trabalhos, quais seriam seus suportes, como eles seriam montados, que conceito estaria envolvido nessa mostra, se haveria mudança do espaço expositivo para receber essas séries, de que forma eles se organizariam no espaço, qual seria o título da mostra, dentre outros detalhes.


A partir disso, e tendo a facilidade de acompanhar todo o seu processo desde o começo, me pus a pensar sobre quais as camadas, os eixos discursivos e as ideias que envolviam essa produção e qual a melhor maneira, a partir do meu entendimento sobre os trabalhos de Ulla, de organizar as imagens. A forma das séries já havia sido definida, cada qual ao seu modo, durante os cursos e os acompanhamentos que fizemos.


 A questão aqui seria como distribuir essas imagens e colocá-las em diálogo. A junção desses trabalhos, aparentemente tão diversos, se dá por um dos elementos centrais da pesquisa visual de Ulla que é o tempo. Ele pode ser entendido como cronologia, aquele que começa, segue seu enredo e termina, é o modo como mais se percebe a ação do tempo em nossas vidas. Porém, o tempo no trabalho de Ulla pode ser visto como algo diverso do cronológico quando ela retorna às suas memórias familiares e onde tudo isso - arquivo, imagens, lembranças - é já uma invenção. Não há marcação de início e de fim específicos porque tudo é meio. É como um portal que se abre diante de si no qual o tempo ora se suspende, ora se locomove em direções outras que não as esperadas e/ou conhecidas. 


Pensando nisso, na sua relação com as plantas, no modo como ela estruturou o seu fazer e o seu pensar sobre elas e as vinculações que daí surgiram para que ela então pudesse acessar o seu arquivo familiar de imagens, vislumbrei uma conexão com a imagem, a ideia e o significado da árvore. Portanto, nomeei a exposição de Ulla de “Árvore de Mim”.


Há, na proposta curatorial, um sentido em pensar essa árvore pela sua simbologia e também pela noção de que a imagem final de uma árvore, ou seja, ela já adulta, compreende e carrega em si a própria semente que foi sua origem, embora essa não esteja mais ali enquanto forma específica. Esse emaranhado me conduz a pensar a memória como uma vida morta: viva porque desse grande baú cintilam tudo aquilo que se guarda nele: as experiências, as histórias vividas e as escutadas. E, ao mesmo tempo, é morta porque se não há uma vontade ou esforço para adentrar nesse baú e dele recuperar as coisas que interessam, nada daquilo se manifesta.


Optou-se, na exposição, por fotografias que não sejam emolduradas, mas estejam livres no espaço a fim de promover uma vontade de aproximação com quem visitar a mostra. A moldura define uma fronteira e coloca o trabalho como um objeto ao qual se deve uma reverência ou diante do qual se deva entrar um estado contemplativo. Eliminar esse limite torna possível, em “Árvore de Mim”, conectar imagens e pessoas. Mas, acima de tudo, dá a ver um ponto interessante à reflexão: deixar com que as imagens sejam vento, movimento que conduz e transforma e, por isso mesmo, vivas.


“Árvore de Mim” é uma ação singular a partir da história e das experiências próprias da artista que bem podem ser próximas da de outras tantas pessoas, transformando-se em uma árvore de nós. No entanto, nós também são aquelas amarrações firmes sobre as quais Ulla se debruça para desfazê-las e encontrar-se consigo.


Sobre Ulla von Czékus


Ulla von Czékus nasceu em Salvador. Da mãe herdou o prazer e o fascínio pelo cultivo das plantas. Influenciada por seu pai – fotógrafo por hobby que adorava produzir imagens dos momentos familiares –, desde criança, aproximou-se da visualidade da fotografia. Quando adulta, conjugou esses dois fazeres em um só para reflexionar sobre a transformação da vida mesma.


 Explora, em seus trabalhos, não apenas imagens em estúdio do universo da botânica, mas também uma conversação entre a característica indelével do tempo e a impermanência da vida humana – idêntica às das folhas, frutos, sementes que fotografa. Hoje, seu trabalho se debruça sobre pensar a vida como experiência contínua diante de suas resplandecências e, concomitantemente, de sua marcante efemeridade.

 

Serviço :

“Árvore de Mim” – exposição de Ulla von Czékus

Curadoria: Fábio Gatti

Local: A Galeria, Ativa Atelier Livre - Rua Tupinambás, 432 - Rio Vermelho - Salvador, BA

Abertura: 02/04, das 16h às 21h

Período da exposição: 03 a 24/04/2022 - visitação: de quarta à sexta das 15 às 19h, e aos sábados das 09 às 12h


O evento de abertura obedece às regras da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador em relação à pandemia do novo coronavírus e, para ter acesso ao vernissage ou visitar a exposição é necessária a apresentação do passaporte vacinal. Todas as atividades relativas à mostra Árvore de mim são gratuitas e abertas ao público.

 

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