Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br
Jolivaldo Freitas , Salvador |
21/12/2018 às 08:16
Othon fechado
Foto: BJÁ
“Salvador dos infernos”, diria Carola
O fechamento do hotel Pestana, do Othon e dezenas de outros nas proximidades do verão, época em que o número de visitantes que fogem do frio do Hemisfério Norte que nem aves migratórias e das férias escolares que trazem gente de outras regiões do Brasil e do interior do estado, chamou a atenção por uma provável atitude empresarial nefasta por parte dos gestores das famosas e antigas redes hoteleiras.
Mas, o que muitos não sabem é que outros estabelecimentos de porte menor, e portanto, sem a visibilidade dos dois icônicos hotéis, cerraram suas portas nos últimos anos.
O que ouvi de alguns especialistas da área de turismo é que Salvador é uma cidade inviável para se aventurar no mercado turístico e foram muitas as explicações, algumas das quais plausíveis e outras exóticas, mas que vou contar por aqui e o senhor e a senhora que depois avaliem e digam alguma coisa. Antes, porém, quero fazer um desabafo, pois acho que Salvador perdeu uma das maiores chances da sua história de alavancar o turismo.
Veja que durante o ano inteiro a TV Globo comemorou a imensa audiência da novela “Segundo Sol”, aquela que Carola com ódio grita “Marisqueira dos infernos...” bordão que adorei, dos mais interessantes da teledramaturgia brasileira. A novela mostrou Salvador – mesmo que de forma enviesada e que gerou críticas – em sua essência arquitetônica.
Graças aos drones que priorizaram as praias, o Centro Histórico, a orla (claro que o drone esqueceu de passar sobre os telhados do Nordeste de Amaralina, do Vale das Pedrinhas, do Vale da Muriçoca, do subúrbio ferroviário) e parte da cultura: música, gastronomia, dança.
Mas eu pergunto, cadê que não houve uma Bahiatursa, uma Setur, uma ABIH, uma Abav ou outras misérias quaisquer – como dizem os baianos – que se arvorassem a fazer uma boa campanha publicitária chamando os brasileiros para virem conhecer ao vivo e a cores o que a novela estava mostrando.
O sucesso da novela era a personagem Beto Falcão. Bastava colocar em rede nacional um Vt de 15 segundos ou peças impressas com o seguinte apelo: “VENHA CONHECER SALVADOR. A TERRA DE BETO FALCÃO”.
Com certeza haveria um impacto positivo, mas não. Culpa dos organismos públicos. Culpa dos gestores públicos, mas também muita “boca de espera” – como dizemos nós baianos – do trade que fica esperando somente uma ação oficial para sair comemorando. É igual a pescador preguiçoso. Um pescador pesca de bomba e os outros depois caem na água para pegar o peixe morto e boiando. “Pescadores dos infernos! ”, diria Carola.
Mas, voltando aos motivos para que os estabelecimentos de hospedagem venham fechando suas portas me disseram que foi o fato de não termos estrutura de um centro de convenções – o que pode até ser, mas o Othon tinha um excelente centro.
Que Salvador tem a paisagem de orla mais bonita do Brasil onde pode-se apreciar o sol nascer de um lado e adormecer do outro do lado do mar, mas em contrapartida tem a estrutura de orla mais feia do Brasil – coisa que concordo, pois até Natal, cidade muito menor que Salvador e até o Delta lá pelas bandas do Piauí tem estrutura melhor para receber o turista que vai se banhar, pegar um sol.
Também argumentam que em Salvador o turista só tem de ver o Pelourinho, bem ou mal. Ir ao Porto da Barra. Comer mal e porcamente na Ribeira. Ser assaltado em Itapuã – pois até a estátua de Vinícius de Moraes já tentaram levar -, ou correr perigo na Lagoa de Itapuã, que de lagoa ficou apenas o nome face ao assoreamento e poluição. Depois restam os shoppings e o Rio Vermelho.
Enquanto Salvador se amofina, se esconde, turistas de tudo que é canto chegam no aeroporto e se jogam de malas e cuias para o Litoral Norte. Outros passam por cima da capital e seguem para Porto Seguro, Caraíva, Trancoso, Maraú e seguem em frente. Todas estas locais com grande estrutura de atendimento, lazer e oferecimento. Pensar que já fomos o segundo destino turístico do país. “Gestores e trade dos infernos”, diria Carola.