Cultura

PINHEIRO NO TERREIRO E O COMPORTAMENTO DE A TARDE, POR JOSIAS PIRES

Josias Pires é jornalista
| 29/07/2008 às 18:15

A "contaminação" do processo eleitoral em Salvador pela dimensão religiosa pode ser considerada uma das novidades deste início da campanha.

De fato, as atitudes tomadas pela administração do atual prefeito que levaram à demolição de um templo religioso e a má vontade com a regularização fundiária das casas-de-santo - numa cidade negra em que o candomblé sempre foi um fator de resistência étnica, religiosa e cultural - ajudaram a botar mais lenha na fogueira da intolerância religiosa, uma praga que ninguém de bom senso pode querer para Salvador, cidade que já tem problemas em demasia para resolver.


O grande Caetano Veloso já cantou o seu desejo de que um prefeito desse um jeito na Cidade da Bahia. Certamente precisaremos de gerações de bons prefeitos para que a nossa cidade saia do caos econômico e social em que se encontra.
 
Acredito que nós, jornalistas, podemos fazer alguma coisa em benefício da cidade, na medida em que cumpramos o nosso papel, transmitindo informações de qualidade, bem apuradas e bem escritas. Sabemos que nem sempre isto acontece e precisamos estar vigilantes para corrigir erros e continuar perseguindo os acertos.


O que me parece inaceitável na reportagem do jornal A Tarde sobre a visita de Pinheiro ao terreiro Maraió Lage é que o repórter "informa" que a yalorixá teria autorizado fotografias no interior do templo e que o candidato é que teria se recusado a ser fotografado.
 
Conversei hoje pela manhã com Mãe Jojó que assegurou ser "mentira" - ela jamais teria autorizado isto, inclusive porque nunca procedeu desta forma e não seria agora, em plena campanha eleitoral, que iria mudar o seu comportamento. É proibido, sim, fazer fotografias no interior do terreiro - é uma regra básica daquela Casa. A postura de Pinheiro foi respeitar o desejo da mãe-de-santo.


Outro aspecto que pode ser apontado como desmedido foi o tamanho da foto. É a primeira vez que o jornal publica uma foto daquela dimensão de um candidato na atual campanha. Uma foto do candidato saindo do terreiro depois de ter conversado com Mãe Jojó. O significado da foto foi construído pelo texto - este é um caso em que as palavras falam mais do que uma imagem.

Por fim, acredito que este tipo de jornalismo é uma contribuição para atiçar o clima de intolerância religiosa que grassa em alguns setores da nossa cidade. Quem ganha com isto?