Cultura

COORDENADOR EXECUTIVO DA AGECOM ENSINA A FAZER "BOM JORNALISMO"

É isso aí. Novo manual no jornalismo baiano.
| 08/03/2008 às 12:03
   Veja a quanto anda o bate-cabeça na Agência de Comunicação do governo do Estado, Agecom, órgão que cuida da imagem do governo e da política de comunicação de sua equipe.
 
   Um jornalista chamado Mauri de Castro, de um jornal do interior, mandou uma mensagem para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba) dizendo o seguinte: "Pessoal, não é a primeira vez que tento contato, por e-mail, com as assessorias de imprensa dos órgãos estaduais aí em Salvador, desde a
Agecom ou qualquer outro. Alguém já passou por isso, em não ter resposta? Ou estou equivocado na forma de comunicação com as assessorias. Quem puder me dá uma luz sobre o problema, agradeceria muito. "


    Ai, quando foi informado dessa reclamação Ernesto Marques, coordenador Executivo da Agecom enviou a seguinte recomendação para os assessores e outros, bastante presunçosa por sinal, entendendo ele que "demoramos muito a se chegar a uma conjuntura política que se pratique bom jornalismo", como se o bom jornalismo fosse praticado a partir de um conceito dessa natureza, totalmente engajado e deformado.

   A CIRCULAR
   DE ERNESTO

 
   1. Imagino que a maioria saiba que estou na coordenação executiva
da Agecom e sempre à disposição dos colegas das redações. Meus
contatos: 9984-5160, 3115-9843 e ernesto@...

   2.Fui assessor de uma secretaria (Desenvolvimento Social e Combate
à Pobreza) desde a posse até meados de janeiro passado e conheço bem
as dificuldades de quem está nas ASCOMs. Cada um tem de administrar
o contrato da propaganda, cuidar do planejamento das ações de
comunicação institucional, cobrir as atividades de toda a secretaria
e atender a imprensa. Resumindo: é pauleira.
 
   3.Isso explica, mas não justifica demora ou não atendimento.
Independente das nossas dificuldades, não podemos nos esquivar dessa
obrigação. O problema é que está se tornando cada vez mais frequente
um tipo de solicitação que nos cria uma dificuldade a mais: cada vez
mais se faz reportagem por telefone e sempre na urgência. Ontem, por
exemplo, a TV Bahia me ligou minutos antes de o BA TV entrar no ar,
para colher uma declaração do governador sobre as representações que
a bancada da oposição encaminhou ao MP. Sob a pressão do "tem que
ser agora porque a matéria vai entrar no ar daqui a pouco".
Convenhamos: ai é demais, não acham? Mesmo assim, conseguimos
atender. Nem sempre é possível nesse tempo tão curto. Ademais, o
outro lado - no caso, o governo - deveria ser procurado pela
reportagem, e não pelo editor aos 47 minutos do segundo tempo.

   Outra: a matéria cometeu uma imprecisão gravíssima ao dizer que a
oposição denuncia que o governador usou a revista Bahia de Todos Nós
(balanço do primeiro ano de governo) para fazer promoção pessoal.
Absurdo! A imagemn mostra um informativo da SUDESB e até os
deputados oposicionistas deram a informação correta ao MP. 
 
   Resolvi encaminhar esta mensagem não para defender a AGECOM, nem
as ASCOMs, nem os governos. Entendo que estou defendendo o
jornalismo. Demoramos muito tempo até chegarmos a uma conjuntura
política que permite que se pratique o bom jornalismo. Temos todas
as condições para isso e acho que devemos exercitar a nossa
capacidade crítica para refletir sobre a nossa profissão.
 
   O assunto é rico demais para ser tratado em umas poucas e mal
traçadas linhas. Espero que a gente tenha oportunidade de debater
mais o tema. Da nossa parte - agora falando como coordenador da
AGECOM - estamos sempre à disposição dos colegas, conscientes das
nossas obrigações e sem desconhecer as obrigações de quem está nas
redações. Acredito que numa redação de empresa privada ou numa
assessoria de órgão público, temos as mesmas obrigações éticas. O
que sempre reivindiquei como assessor - função aliás de muito me
orgulho - é nada mais, nada menos que o bom jornalismo. Crítico,
investigativo e até mordaz, mas feito com correção e lealdade não ao
colega, mas à sociedade com a qual temos compromissos claramente
definidos.
 
Abraços,
Ernesto