Nara Franco é jornalista
Nara Franco , da redação em Salvador |
11/05/2025 às 18:24
Choro no Eixo
Foto: NF
Gosto de chorinho. Talvez por influência da madrinha da minha irmã Daniela, Maria Ernestina. Quando criança, eu ficava na casa dela e seu pai e irmão eram músicos e ensaivam para uma única plateia: eu. E também eram comuns os saraus de choro na casa da família na Tijuca.
Morando em Brasília descobri que aqui é a terra do choro , ritmo brasileiríssimo. Supresa! Como pode? Brasília não é a terra do Rock dos anos 80? De Renato Russo, dos Paralamas? Sim. E também é a terra do chorinho.
Lá fui eu para a Wikipedia descobrir que inicialmente "o choro não aparece como um ritmo, mas como "forma de tocar", por volta de 1870. Sua origem, portanto, está no estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro imprimiam à execução das danças de salão europeias, principalmente as polcas, a dança mais popular no Brasil desde 1844".
A maestrina abolicionista Chiquinha Gonzaga é a pioneira do choro no Brasil. Melhor dizendo, a criadora. Autora da mais popular marcha carnavalesca com letra ("Ó Abre Alas", 1899) foi a primeira mulher a reger uma orquestra popular no Brasil. Foi também pioneira na defesa dos direitos autorais de músicos e autores teatrais. E considerada a mãe do choro, enquanto Pixinguinha é o pai.
Do Abre Alas a Pixinguinha chegando ao cerrado. Que caminho é esse? Pois bem.. escrevo do Choro no Eixo, evento que acontece no Eixo Norte da capital, altura da 207, no Eixão do Lazer. A avenida que corta Brasília fazendo o corpo do famoso avião que desenha a cidade, fica fechada aos fins de semana. No Eixo Norte, nos espaços gramados, há barracas com cerveja artesanal, torresmo de rolo (proibitivo) e espetinhos e choro!
Mas vamos voltar ao choro. Em fevereiro de 2024, o choro foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural do Brasil. Celebrado muito mais aqui em Brasília que no Rio de Janeiro não são poucas as rodas de choro na capital, que conta ainda com um Clube do Choro que promove aulas e uma feijoada aos sábados ao som dos clássicos do gênero.
Brasília fica tão restrita ao dia a dia do Congresso que pouco se fala da riqueza cultural da cidade. Um clube de choro no centro oeste do Brasil? Pois é. Saiba que em um domingo de sol basta levar uma canga para o eixo norte e curtir o fino do choro com músicos de primeira linha que mantém a tradição da gente boa brasileira.
Além das cervejas artesanais, pode-se degustar espetinhos, batata frita e beber um belo gin ou caipirinha.
Choro no Eixo tem perfil no Instagram e é um passeio muito diferente em Brasília. Sossegado, repleto de famílias, organizado e de graça. O que é o melhor.