A partir de 1978, passa a lecionar no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Entre as suas mostras temos: Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro, de 1964 a 1966; Bienal de Paris, 1965; Opinião 65 e 66, no MAM/RJ, 1965/1966; Bienal Internacional de São Paulo, 1965/1979; Tradição e Ruptura - Síntese de Arte e Cultura Brasileiras, na Fundação Bienal, 1984; Bienal Brasil Século XX, São Paulo, 1994; Espelho da Bienal, no MAC/Niterói, Niterói, 1998.
Considerado pela crítica nacional como um dos mais importantes artistas surgidos ultimamente na Bahia, Caetano Dias começou a expor individualmente a partir de 1989, recolhendo apreciações críticas das mais sugestivas, onde se destacam, entre outras, a voz de Denise Mattar - "opta pela tessitura da matéria que ele vai habilmente adensando até fazer dela um corpo.
Algumas vezes esse corpo se torna tão presente que se abre em feridas, feridas dentro das quais entrevemos cores vivas, meio em segredo... Sua obra é aparentemente contida, seus tons suaves, mas dentro dessa suavidade podemos ouvir um grito silencioso, um grito que nos desperta para nossa condição humana".
Caetano Dias nasceu em Feira de Santana, 1959, tendo participado de exposições importantes representando a Bahia e o Brasil como XVIII Festival de La Peinture (França), The Brazilian Northeast Festival Contemporary Art (Portugal), Feira Internacional de Arte (Estados Unidos), e entre individuais e coletivas realizou mostras no Brasil - Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, João Pessoa, Belém, Brasília, Feira de Santana, Recife, Santos, São Félix, Curitiba -, e no exterior - New York (Neuhoff Galery), Paris (Galerie Vivendi), Havana (Casa das Américas).
Conversa com Caetano Dias.
1) Sua pintura sempre corporificou a cor, através da inserção de ranhuras e entranhas sobre o espaço da tela, formando com isto sugestão de imagens -fósseis, plantas, etc. Permanece a sua pintura percorrendo este caminho?
CD - Não somente a pintura, mas em tudo mais que eu tenho produzido. O vídeo e a fotografia, de certa forma, passam por estas mesmas questões da cor e de imagens residuais; o que chama de fósseis, prefiro chamar de imagens residuais, são fósseis do presente. Continuam a aparecer sim na pintura, mas principalmente têm aparecido em fotos, vídeos e instalações, como no caso da Casa de Cupim, em que transformo um cupinzeiro em um fóssil de casa humana, ou fóssil de arquitetura. Ou mesmo entregar livros importantes para a humanidade para que os cupins os reescrevam.
2) Outro dado da sua pintura é que ela sempre colocou a cor sobre cor, uma superfície sem enfeites, com textura da matéria. Continua este processo?
CD - Meu processo é absolutamente dinâmico e processual, não posso afirmar se mantenho o mesmo processo de criação. Pelo fato de ser dinâmico e de estar sempre trocando informações, meu processo sofre mudanças continuamente, numa espécie de instabilidade, que potencializa a criação. Sempre pensei, e continuo pensando, que é importante chegar ao osso das coisas para que a poesia aconteça - no osso da idéia, do tema, da cor, etc. Enfim, chegar aos pontos essenciais, para que a poética possa se dar de forma mais clara, mais transparente, já que os trabalhos que tenho feito não se preocupam tanto com as questões formais, e sim questões ligadas ao conceito, mesmo que aparentemente esteja tratando da forma. É a forma através do conceito. O que faço é uma espécie de prospecção, no caso da pintura, a prospecção é da cor, criando uma espécie de pele, ou seja, um corpo sensível, onde a cor aparece como algo orgânico ou uma simulação disto. Na superposição de camadas, quando faço as ranhuras - como rasgos na pele - estou propondo este possível corpo pictórico, que de uma certa forma sangra continuamente. Neste sentido, o que tento é chegar a uma pintura que, de certa maneira, está viva, pulsa, como se esse sangue fluísse continuamente. Então, a superexposição cromática ocorre como uma tentativa de uma pintura orgânica e pulsante.
3) Ainda na cor, sua pintura possui tons suaves, ocres, beges, até os vermelhos. Segue este procedimento? O que o levou a ter uma identificação com estes tons e estas cores?
CD - Não sei dizer exatamente porque, mas no início, a pintura era bastante colorida e pode ser que um dia volte a ser. Sempre tive interesse pelas obras monocrômicas - ou quase; por outro lado, me recordo da minha vivência de infância no Lapão, nas plantações de milho e de algodão, campos imensos e monocrômicos. Ou nos depósitos onde ficam guardadas as colheitas, aquelas "piscinas" enormes. Eu subia no último fardo e observava este imenso acúmulo de material orgânico como se fosse pintura, no caso do algodão, e de vez em quando eu mergulhava nele, literalmente. Também, em lembranças mais recentes, de quando eu trabalhei em uma fábrica de cobre, os tons e cores que vi se fazem presentes até hoje. Lembro agora das caldeiras de cobre derretido jorrando e sendo jogado nas formas, como se fosse um rio de fogo. Acho que o artista é uma espécie de colecionador de imagens e sentidos, de coisas que vão sendo acumuladas ao longo da vida, criando uma espécie de vocabulário, e em última instância serve para construir a gramática que é a obra. A obra, enquanto composição de um ideário, ou mesmo a tentativa de construir uma nova forma de ver, sentir e falar das coisas do mundo. Em um recorte pessoal, onde eu apresento minhas coisas com este vocabulário, através de uma possível língua, é uma tentativa de falar das coisas do mundo de forma diferente. Nesta medida, a obra fala de seu recordar pessoal e do que vive no presente - e insisto que trabalho nas coisas do presente, pois é também uma obra que se interessa pela vida numa relação orgânica, direta, para tentar falar das coisas que nos rodeiam, para tentar compreender este enigma que é a vida.
4) Você considera a sua pintura uma abstração livre?
CD - Certamente é uma abstração livre. Mas creio que estas denominações enclausuram os processos criativos do artista. Quanto à liberdade de leituras pelo público, eu acho que não é importante ficar enquadrando a obra desta ou daquela forma. No processo histórico, talvez isto ajude a classificar a obra do artista por fase, por momento, ou o que quer que seja. Para mim, agora, acho que não seja importante estar pensando nisto. Tanto que me sinto completamente livre para fazer o que a arte me pede.
5) Há uma luz interna que vem das cores e da composição. Como vê esta luz na sua pintura?
CD - A luz na cor é fundamental, e de certa forma estou sempre buscando a luz que valorize, no caso da pintura, a vibração da cor. No caso das monocrômicas, a luz é fundamental, pois ela cria a vibração cromática e ajuda na construção de um clima para passar as idéias que eu filtro através da pintura.
6) A origem de sua pintura reside na própria pintura?
CD - Reside no interesse pela arte como um todo e acho que não posso falar de minha obra somente pela pintura, já que ela é complexa e diversa, e daí tenho que falar das fotografias, dos objetos de açúcar ou mesmo falar dos vídeos. Nas formas também estão presentes a mesma luz existente na pintura. A minha obra reside sob a luz da minha relação com a arte e com a vida.