Relato do livro A Capitania de São Jorge e a década do Açúcar, de Luiz Walter Coelho Filho
O causo de hoje está relacionado com a história do Brasil. Mem de Sá foi o terceiro governador geral do Brasil, ambicioso, empreendedor, era o anverso do seu irmão Francisco Sá de Miranda, o grande poeta português Sá de Miranda.
Pois dito essas primeiras linhas, a memória disponível sobre a vida de Sá de Miranda - o relato é do historiador Luiz Walter Coelho Filho - relata que após a morte do seu pai enjeitou ofícios no Desembargo, alta corte de justiça, e consumiu-se no estudo da Filosofia Moral e Estóica.
Para afastar a inquietação acerca do que não conhecera, peregrinou por várias cidades da Itália, retornando a Portugal por volta de 1526 ou 1527. Em Coimbra, sua terra natal, encontrou-se com a corte de Dom João III. Casou-se, por volta de 1529, com dona Briolanja de Azevedo e, por desconhecidas razões, pouco depois afastou-se da esposa e foi viver numa localidade perto de Braga, no Minho.
A mudança coincide com a nomeação, em 1532, de Mem de Sá para o cargo de Desembargador da Casa de Suplicação. No ano seguinte, 1533, o poeta recebe a comenda de Santa Maria de Duas Igrejas, consagrando-se à vida no interior. Nesse ponto, cada um tomou seu rumo, atendendo os desígnios de sua personalidade.
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Francisco Sá de Miranda continuou poeta (poderia ter sido governador geral do Brasil se tivesse aceitado o cargo de desembargador); e Mem de Sé tornou-se, então, o 3º governador geral.
Agora, veja o que aconteceu ao poeta na narrativa de Luiz Walter Coelho Filho:
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Ao encontrar pela primeira vez a mulher com quem se casou, Sá de Miranda lhe disse: "Castigai-me, senhora, com este bordão, porque vim tão tarde!". O encanto, a paixão ou a dependência por dona Briolanja de Azevedo pode ser aquilatada pelo impacto que teve sua morte, ocorrida em 1555.
Contam os relatos que Sá de Miranda, de olhos verdes bem assombrados e grandes, melancólico na aparência, mas fácil e humano na conversação, começou também a morrer. Viveu mais três anos, durante esse tempo compôs apenas um soneto, quase réquiem em tom de epitáfio. Declaram as pessoas que o conheceram que ele nunca mais saiu de casa, senão aos ofícios divinos, não aparou a barba, não cortou as unhas, não respondeu as cartas que lhe enviaram, até que se acabou de todo.
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Causo retirado do livro A Capitania de São Jorge e a Década do Açúcar, de Luiz Walter Coelho Filho.