Cultura

SÓ 10% DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO SE SENTEM SEGUROS NA ESCOLA

Ainda assim, as estatísticas sobre agressões a professores são imprecisas
| 28/09/2007 às 13:21

 Apenas 10,6% dos professores da rede pública do Estado de São Paulo se sentem seguros no trabalho. A estatística foi resultado de uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), que ouviu 684 docentes no final do ano passado. A rede tem 250 mil professores.

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  A situação na Bahia deve ser assemelhada, pois, em todo o Brasil, multiplicam-se os casos divulgados de violência na escola, como o assassinato de um professor no Espírito Santo ou o caso de uma estudante que esfaqueou a colega. Sem contar nas ameaças virtuais, cada vez mais presentes. É agressão contra professor, docente que ofende aluno, briga entre estudantes, problemas na relação dos pais com a instituição escolar, enfim, parece que a agressividade vem de todos os lados e dispara num círculo vicioso.

  Mas, segundo especialistas não é possível dizer que o número de atos violentos aumentou. Isso porque não há números precisos e porque, o que era considerado indisciplina no passado, hoje é classificado como agressão. Daí, qualquer ofensa vira caso de polícia e não é trabalhada pedagogicamente. 

   ESTATÍSTICAS

  Segundo a socióloga Caren Ruotti, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência e co-autora do livro "Violência na escola - um guia para pais e professores", as estatísticas sobre casos de agressões são imprecisas. "Não é possível dizer que aumentou a violência. Os levantamentos que existem não são contínuos no tempo e é difícil ter a dimensão real do assunto. O que tem são relatos", afirma.

  Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Júlio Groppa Aquino, a violência na escola virou uma "crença performativa", ou seja, as pessoas acreditam que ela existe, acabam produzindo mais violência e fazem com que, de fato, a violência se torne verdade.


  A CULPA?


  Achar um culpado é uma medida que, segundo Caren, não ajuda a resolver o problema. "Não adianta culpar o professor, o aluno, a escola, a família. Só o trabalho conjunto para a prevenção é que pode ajudar. É preciso agir antes de a violência ocorrer", diz.

  Ela pondera que dizer que a família é que não educa as crianças também é uma saída fácil e só mascara o quadro. "Muitas mães estão mais ausentes, porque têm de trabalhar. Mas não é só por isso que acontece a violência. Muito disso também é preconceito", afirma.


 Como melhorar?

Para mudar o quadro, Groppa é enfático: é preciso um grande pacto civil. "São necessárias alianças em favor da escolaridade, para a valorização da escola. É necessário saber que a escola é o melhor lugar do mundo", diz. Para ele, os problemas da escola deveriam ficar na escola, e não virarem caso de polícia ou questão para psiquiatra.

O professor também é contra o discurso de que a família tem de ser mais acolhida na escola, pois, para ele, os problemas da escola são pedagógicos. Nesse ponto, sua opinião é diferente da de Caren. "São necessárias medidas que aproximem aluno de professor, a família da escola. Abrir de fim de semana é uma coisa boa? E como o pai é tratado durante a semana? Ele só é chamado quando o filho faz alguma coisa?", questiona.