A Bahia nunca teve uma Mônica Veloso
Em conversa com uma coleguinha da imprensa escrita local, dizia-me que a imprensa baiana é tão pobre de espírito que seque consegue produzir uma Mônica Veloso, companheira de jornada que esteve envolvida com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e fez tremer um dos pilares do poder republicano.
Não teríamos, assim, uma vamp. Uma arrasa corações, embora, em tempos idos, alguns casos efêmeros aconteceram na cidade do Salvador, mas, nada que abalasse os alicerces do poder.
Fiquei acá com meus botões, como dizem os portugueses, remexendo o baú da história, até porque sou um confrade do século passado, e, de fato, mesmo com o auxílio de colega excepcional de memória, não conseguimos anotar jornalistas baianas que tenham feito a República Baiana trincar.
A rigor, a presença de mulheres nas redações dos jornais, emissoras de rádio e TV na Bahia advém da década de 1960 pra cá. Ainda assim, nas décadas seguintes ao pioneirismo, se instalaram nas colunas sociais, nas revisões e em alguns departamentos de segundo caderno.
Com o advento da TV e a liberação sexual e cultural dos anos 1970, empurrados pelos movimentos mundiais dos anos 60, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, as mulheres invadiram os espaços das redações e seguiram ocupando novos nichos, na reportagem, na produção, na apresentação e assim por diante.
Temos, ainda hoje, exemplares do século passado da década de 1960 atuando; e a novíssima geração formatada nos anos 1990 que avança a cada dia em todos os segmentos.
Mas, como disse a coleguinha no início dessa conversa, nada que tenha abalado os pilares do poder baiano, salvo uma apresentadora de TV que fez um tremendo sucesso lá pelos anos 1980, a qual, andou se entusiasmando com um político que, hoje, atua no radialismo.
Agora, igual a Mônica Veloso, não temos. Sequer os jornalistas fazem mais aquelas antigas farras do Baile das Atrizes, no Vila, ou animaim corações adormecidos.
Vive-se uma nova época. O Sinjorba vai promover eleições e sequer existem candidatos disputando ou se interessando por ele. Até as ex-combativas militantes pela causa dos tempos das assembléias do Bráulio Xavier aposentaram-se, esmoreceram.
Evidente que uma coisa não tem nada a ver com a outra, como diria Evaristo de Macedo, no aspecto profissional. Ou seja, não é preciso produzir uma Mônica Veloso para distringuir-se no mercado.
O propósito destas linhas é apenas analisar o momento em que aparece uma jornalista como protagonista de um escândalo, e pincelar sobre o marasmo em que vive a categoria em Salvador, a qual, embora abandonada, ainda resiste e faz valer a sua voz.
Jornalista, de fato, raramente é notícia. Acompanha as notícias, analisa os acontecimentos, interpreta os fatos, mas, não está isento (a) de uma ou outra derrapagem na sua tragetória profissionai.
Situação muito mais dramática vivem os profissionais da imprensa na Venezuela com o fechamento da RCTV e o fim das liberdades de expressão.
No Brasil, apesar do anúncio da nova TV chapa fria do governo resiste-se às prováveis mudanças que viriam (ou virão) cerceando a liberdade de imprensa.
Daí que, vamos seguindo o nosso curso, resistindo a esse tipo de ameaça, fazendo o nosso feijão com arroz que é bem a cara da Bahia. (TF)