Cultura

FREI BAIANO COSTESTA BAHIAJÁ E DEFENDE DECLARAÇÕES DO FREI ITALIANO

A observação do frei Paolo Lombardo foi pertinente - defense frei Ruy Lopes
| 23/03/2007 às 09:18
 

        Li, hoje cedo, com acurada atenção, o que foi postado site BAHIA JÁ a respeito do frei Paolo Lombardo. Tomo a liberdade, oriundo da admiração que tenho por seu trabalho, em tecer algumas considerações:


        Utilizando-me do aspecto franciscano que, sem conhecer o frei Paolo Lombardo, me faz seu irmão e, ainda, pelo fato de ser um leitor diário do site Bahia já, expresso a minha opinião sobre o artigo postado na Opinião do site.


         Desde a idade média (1182-1226) o nosso Seráfico pai, São Francisco de Assis, reconhecia na pobre e humilde Igrejinha de São Damião, a presença do Filho de Deus. Ali ouviu ressoar uma voz que o convocava: " Vai Francisco, e restaura a minha casa que está em ruínas". Na verdade, foi toda a Igreja Católica que o pobrezinho de Assis restaurou com o seu testemunho de minoridade e liberdade.

         
        A observação sobre o estado precário e degradado que o frei Paolo tornou conhecida das autoridades e do povo foi muito pertinente... Quantas igrejas em nossa Salvador estão em ruínas? De quem é a responsabilidade, afinal? 

         Da proprietária, que de todos os modos tem investido  na promoção social, na emancipação da pessoa e na preservação da dignidade da vida, sem recorrer a expedientes de "tomar" dinheiro dos pobres? Dos fiéis que freqüentam estes templos e que deles se servem para suntuosos casamentos, ou mesmo nas suas reconfortantes orações diárias?

         Do poder público que para mostrar o atrativo turístico e cultural da Bahia, apresenta em seus cartões postais as 365 igrejas que a Bahia têm, segundo Dorival Caimmi? Dos estrangeiros que apenas, em poucas ocasiões, contemplam a beleza e, estupefactos, se dão conta do descaso que temos com o nosso patrimônio artístico, cultural e histórico?

           Nestes dias estamos a restaurar a Cúpula da secular Igreja da Piedade, palco de tantos acontecimentos e manifestações da sociedade baiana. Basta lembrar que ali, antes de partir para a guerra do Paraguai, os militares baianos rezaram  e os que regressaram também se reencontraram para agradecer. A contrapartida do poder público é mínima, apesar da sensibilidade que tiveram o ex-Governador Paulo Souto através do Secretário Paulo Gaudenzi e do ex-Prefeito Antonio Imbassahy.

          Questiono-me sempre se devo recorrer a instituições internacionais ou aos meus amigos italianos para restaurar um patrimônio que é dos baianos, que fala eloquentemente da nossa história, da beleza dos artistas da terra e que é usufruída diariamente por todos os transeutes católicos, ateus, agnósticos e de vários credos religiosas.

            Sim, a observação do frei Paolo Lombardo foi muito pertinente... Ele foi genuinamente franciscano, foi zeloso para com um patrimônio que se deteriora pela falta de iniciativa pública e privada, da falta de consciência também dos católicos de nossa terra. Houve arrogância na afirmação ou tocou os brios daqueles que, apesar do estado de falência das diversas políticas públicas, não aceitam as críticas feitas por quem de fora?

          
          A Irmã Lindalva, uma simples freirinha de caridade, naquele lugar deu a sua vida em benefício de outros tantos que são excluídos pela sociedade. Naquela capela seus "restos" mortais se encontram depositados. Sua beatificação imortaliza o seu gesto de amor. Cuidou de nossa gente, dos nossos parentes e não dos seus conterrâneos e amigos do Rio Grande do Norte. Seu sangue foi derramado pela sublime causa do amor ao próximo.

         Permanecerá ela na história da nossa terra. Seu gesto, para o nosso bem, jamais poderá ser esquecido. Será que isto não merece o nosso apreço e admiração? Ou vivemos a nos deleitar com as crônicas negras que diariamente falam dos que saqueiam os cofres públicos e daqueles que assinam covardemente e matam crianças indefesas e freiras altruístas?

         
         Penso que nós baianos não devemos dar lugar às constatações negativas que os estrangeiros costumam fazer da nossa terra e de nossa gente... Vamos arregaçar as mangas e seguir um conselho que o próprio São Francisco dava aos seus frades: " Irmãos, comecemos tudo de novo, pois até agora pouco ou nada fizemos".


           


                   Frei Ruy Lopes, dos frades menores Capuchinhos da Bahia e Sergipe