A cantora e pop-star da música axé da Bahia, Daniela Mercury, está sendo censurada por setores da comunidade negra porque se fantasiou de nêga maluca, figura do folclore brasileiro, durante um dia no Carnaval de Salador. Depois de Luis Caldas, também censurado porque compôs a Nêga do Cabelo Duro, música que praticamente iniciou a onda axé e emprega milhares de afros-baianos, agora foi a vez de Daniela e também do folclore brasileiro cairem no malho do patrulhamento que se instalou na Bahia, particularmente, em Salvador.
A colunista Terezinha Muricy, que cuida das socialites e afins, diz que Billy Archimino, considerou a atitude de Daniela uma ofensa porque "feriu sua comunidade".
Há uma corrente de indos-euro-afrodescendentes baianos com matrilínea predominante afro - Jorge Papapá, Antonio Godi, Ana Célia, Ruy Braga, Anderson José, Armando Clcântra - que "iniciou uma reflexão sobre o tema" - segundo Terezinha - e está utilizando a internet para espinafrar a cantora. E daí, como acontece quem cai na rede, a onda está se disseminando em outras comunicades e a cabeça de Daniela foi posta à forca.
No site de Daniela ainda não há uma resposta sobre o seu comportamento. Mas, segundo fontes próxima a cantora, se ela teve coragem de responder ao Vaticano, também o fará com os afro-baianos e afro-internacionais.
FOLCLORE NA MIRA
A nêga maluca é uma figura do folclore brasileiro desde os tempos da velha República inspirada no momento do colonialismo português no Brasil, mas, sobretudo a partir de início do século XX.
Assim são, também, o sambista, a mulata boazuda, a tia Anastácia, o saci Pererê e tantos outros personagens do imaginário nacional em relação aos negros. Mas, isso não ocorre somente com os negros. Existem o a dona Benta, o senhor do engenho, Seo Manoel e muitas outras figuras populares.
Fernando Lobo e Evaldo Rui, só para citar uma dupla fantástica de compositores, compôs o samba Nêga Maluca. Artur Ramos, Sílvio Romero, Hildegardes Viana e outros folcloristas e antropólogos brasileiros esvreveram diversos trabalhos sobre o tema, não ncessariament falando da Nêga Maluca, mas, abordando a importância do folcore (como história) na vida de um país.
OPINIÃO BAHIA JÁ
Por a cabeça da cantora Daniela Mercury à forca por uma questão dessa natureza significa uma falta de compreensão e discernimento do seu papel para a música baiana, empregadora em sua maioria da comunidade afro, mas sobretudo em relação ao folclore nacional. Evidente que os protestos contra a cantora são válidos e servirão até como reflexão para ela. Estranha-se, no entanto, que essa mesma comunidade não tenha elogiado a cantora ou mesmo citado Daniela como uma das pessoas que tem trabalhado no sentido de divulgar as referências da comunidade afro-baiana. Aliás, foi graças a Daniela que a música em que revencia o Ilê Aiyê, essa instituição foi conhecida em várias partes do Brasil e da Europa.