TALVEZ TENHA VALOR A DIGNIDADE

Frei Ruy Lopes
08/12/2007 às 09:04
 



                 Talvez pelo desconhecimento do significado e valor do termo, nem seja bom tentar explicá-lo. Talvez pela cultura vigente do país, onde quem ‘se dá bem' é quem não tem cultura, melhor deixar de lado as digressões filosóficas e ir direto ao assunto. Talvez sejamos melhores, na era do consumismo, em compreender o significado do ‘quanto vale'.


                 Talvez seja melhor perguntar à mídia, aos formadores eletrônicos de ‘opinião', os educadores da televisão, quais são os parâmetros para se avaliar a dignidade. Talvez eles nem saibam o significado...


                  Talvez seja necessário perguntar aos intelectuais, mas eles a relativizaram e nos deixaram sem referências.


                 Talvez se possa recorrer às instituições, afinal elas existem para proteger a dignidade dos cidadãos... Mas, elas estão em crise e já não ‘dignas' de confiança.


                  Talvez seja necessário recorrer à moral, mas ela foi execrada do quotidiano e banida das rodas sociais. Restou algum indício da ética. Não por um talvez, esta  sim ainda possa nos ajudar.


                  Existe dentro de cada um de nós uma ‘estrutura vital, primitiva' a que chamamos de ‘ethos'. Lá no fundo da consciência, onde a boca cala e a alma fala, ouvimos o que não gostamos ou deixamos de apreciar. Grita forte o que foi considerado certo, digno... mesmo que a nossa cultura proclame o contrário.


                  A antiga  ‘Voz da Consciência', haverá de nos falar sobre o que é dignidade e então, perceberemos que a ética precisa acontecer, mais do que um discurso retórico e mais do que uma bravata política. E por mais que a massificadora imprensa divulgue, espalhe; por mais ainda que todos os sites proclamem e os microfones não se calem; no fundo, bem no mais secreto e íntimo do ser humano que se desumaniza, esta voz não deixará de gritar num silêncio elouquente.


                  Ela vale, não porque se lhe atribua alguma medida, mas porque o seu valor é insuperável e imensurável! Queríamos dizer a ela e, ao invés, ela é que nos diz...e nos questiona implacavelmente!


                 Nos pergunta se o ‘achincalhe' moral  sofrido por um sacerdote em São Paulo, era proveniente da sua obra entre os pobres ou de um ‘suposto' erro de conduta pessoal que não foi comprovado e menos ainda divulgado pela imprensa que o condenou... Nos pergunta se a morte de um rio e seus afluentes, vale mais que a vida de um Bispo... Nos pergunta se para levar um processo à Brasília e julgar implicados é necessário aprisionar um Presidente de um Tribunal de Contas de um Estado... Nos pergunta se para aprovar a CPMF e ‘distribuir' dinheiro para os pobres e para a débil saúde pública, é necessário ‘absolver' o tal do Renan.


                 Mas, afinal, o que é dignidade? Quem é digno? É aquele que se prevalece dos defeitos alheios para demonstrar a sua pseudo-grandeza? Existe na lá no velho e antiguíssimo Livro, das Sagradas Escrituras, aquele caso de alguém que disse ao Mestre: -"Eu não sou digno, mas... diga só uma  Palavra..."


                 Talvez, seja certo, que ninguém seja tão digno. Mas, é absolutamente certo que precisamos ser reconhecidos em nossa dignidade humana. Igualmente certo que precisamos trabalhar para construir a dignidade. Absolutamente certo que a última palavra é misericórdia.


                 Somente assim, poderemos saber o que é e demonstrar que estamos indignados. Somente aqueles que se dão o respeito, sabem respeitar o outro, sabem respeitar a vida. Isto está se tornando privilégio de poucos. Células base do vital humano estão sendo destruídas num processo de auto-mutilação pelo mau uso da liberdade. Para onde estamos encaminhando?


                 Talvez por isso, que a dignidade tenha pouco valor e a vida valido nada...