Talvez pelo desconhecimento do significado e valor do termo, nem seja bom tentar explicá-lo. Talvez pela cultura vigente do país, onde quem ‘se dá bem' é quem não tem cultura, melhor deixar de lado as digressões filosóficas e ir direto ao assunto. Talvez sejamos melhores, na era do consumismo, em compreender o significado do ‘quanto vale'.
Talvez seja melhor perguntar à mídia, aos formadores eletrônicos de ‘opinião', os educadores da televisão, quais são os parâmetros para se avaliar a dignidade. Talvez eles nem saibam o significado...
Talvez seja necessário perguntar aos intelectuais, mas eles a relativizaram e nos deixaram sem referências.
Talvez se possa recorrer às instituições, afinal elas existem para proteger a dignidade dos cidadãos... Mas, elas estão em crise e já não ‘dignas' de confiança.
Talvez seja necessário recorrer à moral, mas ela foi execrada do quotidiano e banida das rodas sociais. Restou algum indício da ética. Não por um talvez, esta sim ainda possa nos ajudar.
Existe dentro de cada um de nós uma ‘estrutura vital, primitiva' a que chamamos de ‘ethos'. Lá no fundo da consciência, onde a boca cala e a alma fala, ouvimos o que não gostamos ou deixamos de apreciar. Grita forte o que foi considerado certo, digno... mesmo que a nossa cultura proclame o contrário.
A antiga ‘Voz da Consciência', haverá de nos falar sobre o que é dignidade e então, perceberemos que a ética precisa acontecer, mais do que um discurso retórico e mais do que uma bravata política. E por mais que a massificadora imprensa divulgue, espalhe; por mais ainda que todos os sites proclamem e os microfones não se calem; no fundo, bem no mais secreto e íntimo do ser humano que se desumaniza, esta voz não deixará de gritar num silêncio elouquente.
Ela vale, não porque se lhe atribua alguma medida, mas porque o seu valor é insuperável e imensurável! Queríamos dizer a ela e, ao invés, ela é que nos diz...e nos questiona implacavelmente!
Nos pergunta se o ‘achincalhe' moral sofrido por um sacerdote em São Paulo, era proveniente da sua obra entre os pobres ou de um ‘suposto' erro de conduta pessoal que não foi comprovado e menos ainda divulgado pela imprensa que o condenou... Nos pergunta se a morte de um rio e seus afluentes, vale mais que a vida de um Bispo... Nos pergunta se para levar um processo à Brasília e julgar implicados é necessário aprisionar um Presidente de um Tribunal de Contas de um Estado... Nos pergunta se para aprovar a CPMF e ‘distribuir' dinheiro para os pobres e para a débil saúde pública, é necessário ‘absolver' o tal do Renan.
Mas, afinal, o que é dignidade? Quem é digno? É aquele que se prevalece dos defeitos alheios para demonstrar a sua pseudo-grandeza? Existe na lá no velho e antiguíssimo Livro, das Sagradas Escrituras, aquele caso de alguém que disse ao Mestre: -"Eu não sou digno, mas... diga só uma Palavra..."
Talvez, seja certo, que ninguém seja tão digno. Mas, é absolutamente certo que precisamos ser reconhecidos em nossa dignidade humana. Igualmente certo que precisamos trabalhar para construir a dignidade. Absolutamente certo que a última palavra é misericórdia.
Somente assim, poderemos saber o que é e demonstrar que estamos indignados. Somente aqueles que se dão o respeito, sabem respeitar o outro, sabem respeitar a vida. Isto está se tornando privilégio de poucos. Células base do vital humano estão sendo destruídas num processo de auto-mutilação pelo mau uso da liberdade. Para onde estamos encaminhando?
Talvez por isso, que a dignidade tenha pouco valor e a vida valido nada...
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/12/08/talvez-tenha-valor-a-dignidade,150,0.html