A DITADURA DE MARACAJÁ

Nestor Mendes Jr.
28/09/2007 às 11:50

Por Nestor Mendes Jr.

 

Em 1972, o Brasil vivia os "anos de chumbo".

A ditadura militar instalada em 1º de abril de

1964 completava oito anos e, na sua infância

perversa e pervertida, já havia calado - ou pelo

menos tentado - todos os críticos. Pela tortura,

pelo exílio, pela cassação, pela exterminação, a

Redentora destruía todos os seus opositores.


E é no longínquo, e nada saudoso, 1972 que

se instaura no Esporte Clube Bahia a era Paulo

Virgílio Maracajá Pereira.

Segundo Tyrso, o

nosso endiabrado ponta-direita Chiquitinha,

ele dirigia um fusca e fazia os serviços de leva-etraz

de alguns jogadores na porta da Fazendinha.


Advogado, formado em 1966, Maracajá se

aproximou de Osório Villas-Boas - o cartola

que dominava com mão-de-ferro o Esporte

Clube Bahia desde a década de 50, idolatrado

pela massa tricolor pela ousadia de conquistar,

em 1959, a Taça Brasil e o título de campeão

brasileiro contra o todo-poderoso Santos, o

esquadrão monumental de Pelé e Pepe.

Com o passar do tempo, a cria superou o criador. Osório

mandava, Maracajá fingia. Osório nunca

passou do Paço, Paulo Virgílio Maracajá Pereira

foi vereador e, 10 anos depois, em 1982,

chegou à Assembléia Legislativa sufragado por

40.744 votos. Era a torcida do Bahia retribuindo

uma década de títulos: heptacampeão

baiano de 1973 a 1979.


Paulo Virgílio Maracajá Pereira, filho do

padre Pereira e ex-sócio da I. Pereira e da

Manopel, deixou uma frota de táxis em chamas

e alçou da baixa classe média para integrar

a elite do poder carlista na Bahia.


Em 35 anos, Paulo Virgílio Maracajá Pereira

conquistou inúmeros títulos. Dezenas de certames

baianos e o título de Campeão Brasileiro

de 1988.

No mesmo período levou o Bahia à

bancarrota: deixou um time inteiro ir para o rival

porque assinou sem ler, deu o primeiro tricampeonato

ao rubro-negro, reduziu o clube a um

quadro minguado de associados.

É responsável direto por dois rebaixamentos para a 2ª Divisão,

por dois anos na 3ª Divisão, por uma dívida de

R$60 milhões e por um futuro nebuloso.


Sem estrutura, sem planejamento, sem visão

estratégica, o Bahia está condenado a viver de

hemoptises. Grande parte da Fiel abandonou os

estádios. A minoria que vai à Fonte Nova ainda

assim faz do clube um dos campeões brasileiros

de público e renda. Os netos e bisnetos dessa

massa fantástica estarão na Fonte Nova em 2031,

no centenário do Tricolor?


Paulo Virgílio Maracajá Pereira fala manso.

Não briga. No mesmo diapasão em que a ditadura

silenciosa torturava os inimigos do regime no

pau-de-arara, impiedosamente, silente, ele destrói

os rivais. Usa o poder com a sutileza de uma

torquês na cutícula. Alguém está sempre pronto

a assumir-lhe a feição torquemada.

Se acha que lhe ofenderam a honra, o ventríloquo usa o

boneco para pedir reparação. Elimina, sem que

o semblante denuncie alguma contração, todos

aqueles que podem fazer-lhe sombra no projeto

megalomaníaco de ser o "eterno presidente".

E para ser eterno, o presidente se escudou

em medíocres.

O Bahia que jogou no Estádio

(sic) Floro de Mendonça, no Amazonas,

é o retrato impiedoso desse paradoxo: um

clube gigante apequenado pela mesquinhez.


Em 35 anos, Paulo Virgílio Maracajá Pereira é o

déspota dessa ditadura no Fazendão. Talvez sem

os métodos diretos de um Idi Amin Dada, de um

Ceausescu, de um Trujillo, mas com todos os seus

resultados.

Um homem que - só ele - se acha

invisível, mas que a Bahia e o Brasil inteiro sabem

que é o detentor absoluto da responsabilidade

pela falta de democracia, transparência, profissionalismo

e planejamento no Esporte Clube Bahia.


Com a obrigação de tirar o clube da 3ª Divisão,

disse que está pronto a disputar uma eleição direta

em 2008. O comandante-em-chefe supremo

da vergonha e da humilhação tricolores quer ser

o herói macunaímico de uma possível volta à

Série B, quando o caso é de indagar: "Quem

nos tirou da A?".


Como todo ditador tem um pouco de mágico,

Mister M quer agora hipnotizar o mundo

inteiro: quer ele próprio - "o eterno presidente"

- sepultar o "grande coveiro", como estava escrito

em uma faixa na Fonte Nova, desagradável

epíteto que já incorporou à sua biografia, iniciada

em 26 de março de 1944.


Repetindo Shakespeare, que o jornalista Gilson

Nascimento, de forma brilhante, escreveu,

como gostwriter, para um discurso proferido

recentemente no Tribunal de Contas dos Municípios:

"O tempo é muito curto para os que

festejam".


A ditadura, com certeza, ruirá.