Zappeando os canais de televisão neste sábado (25), deparei-me com o programa Beija Sapo, da MTV, apresentado pela Daniela Cicarelli. Depois do susto, veio a contemplação. Essa geração merece admiração. É preciso ser muito homem, aliás, homem com agá maiúsculo, para ir num programa de TV e assumir sua homossexualidade beijando outro na boca. Alguns mandavam beijos para mães e tal, sinal de que têm apoio dos familiares. Caí na real. Estamos vivenciando a chegada de uma nova geração adulta que assume sua opção sexual sem culpas. Bem diferente dos que viviam (talvez alguns ainda vivam) no armário, como se diz na gíria GLS. Esses devem sofrer dramas, pressões e traumas. Imagino que viver no "armário" seja literalmente sufocante. Quando vi esses rapazes assumindo suas opções alegres e naturais, percebi que eles vivem a verdade pessoal de cada um. É virtuoso viver o que se é realmente. A verdade sobre si mesmo, a satisfação pessoal, a compreensão do que se gosta e assumi-la de forma normal fazem parte da formação de personalidades coerentes. Isso vale para todas as pessoas, de qualquer opção sexual. Eles são apenas exemplos de que a verdadeira liberdade é a verdade. Perdoem-me os gays que ainda se camuflam ou os bissexuais que não se assumem. Não cabem mais, nos dias atuais, os armários e os casamentos por conveniência. Isso me faz lembrar os tais "homens" que ajudam a alimentar a prostituição pegando rapazes pelas ruas da Pituba ou Dois de Julho, em Salvador, com seus carrões, pra fazer programa. Depois seguem para o seu lar, ou pior, para suas esposas. Essas pessoas vivem a mentira. Viver a mentira, acredito ser uma deformação. É desvirtuoso e aprisionante, nada tem a ver com liberdade por mais que eles pensem ser livres. Fazer algo só para seguir as regras da sociedade, indo de encontro a si próprio, é inserir-se atrás de grades invisíveis. Tenho a impressão que a privação da liberdade deforma vidas e também cria o ciclo vicioso do faz de conta. Ainda mais numa sociedade em que as regras e o estado se mostram cada vez mais fragilizados, com elos corrompidos, não só pela mentira, mas pela violência e por condutas inadequadas. Essa geração de rapazes que beijam na boca do programa da Cicarelli me traz uma ponta de esperança de um futuro construído por pessoas com personalidades forjadas na verdade. Não falo só de gays, mas de heterossexuais ou bissexuais. A sexualidade é que menos importa, mas sim pessoas verdadeiras e honestas com si mesmo que sejam capazes de ser assim com o próximo. São pedras polidas e preciosas. Esse País precisa de pessoas primorosas assim, capazes de reconstruir as bases corroídas da sociedade, de viver e aplicar a verdade, de abandonar as grades do faz de conta e da mentira em favor da justiça, da verdade e, principalmente, da honestidade. | |
Cíntia Melo |