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26/08/2007 às 10:14

RAPAZES DO BEIJA SAPO GAY SÃO EXEMPLOS DE HOMENS COM H

Cíntia Melo é jornalista baiana

Cíntia Melo

Zappeando os canais de televisão neste sábado (25), deparei-me com o programa Beija Sapo, da MTV, apresentado pela Daniela Cicarelli.

  Na primeira cena, tomei um susto, tratavam-se de beijos entre homossexuais, rapazes provavelmente com menos de 20 anos. 

  Não conhecia o Beja Sapo Gay. No primeiro momento, pensei em minha filha de quatro anos que não poderia ver aquilo, afinal eram 18h, fim de tarde. Bom, também ela não deveria estar assistindo se fossem beijos de casais heterossexuais. Isso é questão de bom senso nas escolhas dos horários apropriados para os programas de televisão.


   Depois do susto, veio a contemplação. Essa geração merece admiração. É preciso ser muito homem, aliás, homem com agá maiúsculo, para ir num programa de TV e assumir sua homossexualidade beijando outro na boca.

   Com seus brincos, piercings e look contemporâneo de boa parte dos jovens de hoje em dia, eram rapazes, sem afetação, estavam lá fazendo o jogo do programa e escolhendo parceiros ou ficantes entre príncipe e sapos. Beijavam na boca de forma calorosa, por que não dizer, gostosa.


   Alguns mandavam beijos para mães e tal, sinal de que têm apoio dos familiares. Caí na real. Estamos vivenciando a chegada de uma nova geração adulta que assume sua opção sexual sem culpas. Bem diferente dos que viviam (talvez alguns ainda vivam) no armário, como se diz na gíria GLS. Esses devem sofrer dramas, pressões e traumas. Imagino que viver no "armário" seja literalmente sufocante.


   Quando vi esses rapazes assumindo suas opções alegres e naturais, percebi que eles vivem a verdade pessoal de cada um. É virtuoso viver o que se é realmente. A verdade sobre si mesmo, a satisfação pessoal, a compreensão do que se gosta e assumi-la de forma normal fazem parte da formação de personalidades coerentes. Isso vale para todas as pessoas, de qualquer opção sexual. Eles são apenas exemplos de que a verdadeira liberdade é a verdade.


  Perdoem-me os gays que ainda se camuflam ou os bissexuais que não se assumem. Não cabem mais, nos dias atuais, os armários e os casamentos por conveniência. Isso me faz lembrar os tais "homens" que ajudam a alimentar a prostituição pegando rapazes pelas ruas da Pituba ou Dois de Julho, em Salvador, com seus carrões, pra fazer programa. Depois seguem para o seu lar, ou pior, para suas esposas. Essas pessoas vivem a mentira.


  Viver a mentira, acredito ser uma deformação. É desvirtuoso e aprisionante, nada tem a ver com liberdade por mais que eles pensem ser livres. Fazer algo só para seguir as regras da sociedade, indo de encontro a si próprio, é inserir-se atrás de grades invisíveis. Tenho a impressão que a privação da liberdade deforma vidas e também cria o ciclo vicioso do faz de conta. Ainda mais numa sociedade em que as regras e o estado se mostram cada vez mais fragilizados, com elos corrompidos, não só pela mentira, mas pela violência e por condutas inadequadas.


  Essa geração de rapazes que beijam na boca do programa da Cicarelli me traz uma ponta de esperança de um futuro construído por pessoas com personalidades forjadas na verdade. Não falo só de gays, mas de heterossexuais ou bissexuais. A sexualidade é que menos importa, mas sim pessoas verdadeiras e honestas com si mesmo que sejam capazes de ser assim com o próximo. São pedras polidas e preciosas.


  Esse País precisa de pessoas primorosas assim, capazes de reconstruir as bases corroídas da sociedade, de viver e aplicar a verdade, de abandonar as grades do faz de conta e da mentira em favor da justiça, da verdade e, principalmente, da honestidade.

Cíntia Melo


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