O conselheiro Badu, o intelectual de bigode, recomenda jogar na mega e o Rasta só compra inhame pra esposa
Chego em casa após um dia estafante de trabalho e eis que encontro dona Céu, minha digníssina esposa, assistindo a posse de Emmanuel Macron, novo presidente da França, emolduradada com bandeiras da França e do Brasil e com o rosto todo enlameado parecendo uma múmia. Tomei aquele susto inicial que quase o saco de pães que havia comprado em Pepe Galego cai no chão.
- Endoidou, mulher! - admirei-me querendo saber que loucura era aquela e até temendo que pudesse pegar alguma doença com tal estripulia.
- Você não viu no Fantástico aquele povo chic da Itália banhando-se em lama vulcânica na Sicília, um ótimo rejuvenescedor da pele, estou usando o mesmo método, comentou.
- E onde diabos conseguiste essa lama vulcânica? - questinoei.
- Minha amiga Tati Pão que me deu e disse que era um santo remédio. Onde ela conseguiu eu não sei. Agora que é boa é. E alivia a face, complementou.
- Sabe lá se não retirou de um pé de talha, de um desses potes gigantes comprados em São Joaquim?
- Tati é fashion e jamais faria isso. Acho melhor v fazer o café que estou assistindo a posse de Macron, completou.
Questionar o que, né!. Fui pra cozinha fazer o café e presenti que a madame ainda continua com a cabeça fixa na possibilidade de passar uma temporada de estudos em Paris. Mas, nada comentei, e fui preparar nosso inhame com ovos e mais o pão de Pepe para o jantar.
- Tá pronto, gritei da porta da cozinha, pode vir madame saborear do bom e do melhor.
- Fizeste o que? - perguntou sem tirar os olhos na TV.
- Uma surpresa, comentei.
Quando a mulher chegou na cozinha e viu na mesa os ovos mexidos, quatro pedaços de inhame com margarina e a perfumoso café Tangará replicou: - Ninguém merece uma miséria dessas. É inhame todos os dias. Que surpresa você aprontrou filho de Cristo?
- Os ovos foram mexidos na menteiga de Sergipe, comentei.
- Só indo morar em Paris porque desse jeito não tem ser humano que aguente. Se ainda tivesse uma Josefinha da Frivaca com um cuscuz de leite, menos mal.
- Na próxima semana, se as vendas no Pelô melhorarem eu prometo, confessei dando uns beijos na esposa, e destacando que, infelizmente, ela não teve a sorte de casar-se com um Batista e sim com um Santos.
No outro dia, quando dirigia-me ao trabalho, liguei para nosso conselheiro Badu, o intelectual de bigode, para comentar que a mulher estava muito exigente e até querendo passar uma temporada em Paris.
Badu retrucou: - Ora, essa de morar em Paris é antiga e já disse ao amigo que sou favorável a que vocês passem um tempo fora do país. Agora, quanto as novas exigências de dona Céu, não vejo nada demais, até porque, ele pede muito pouco.
- Pouco? Com essa crise que ronda o país estou na pindaiba e o dinheiro dá mal pra comer inhame e pães, frisei.
- Você não viu nada. Crise está aqui em Brasilia com o presidente mais enrolado do que bobina de papel para imprimir jornal depois que foi grampeado pelo caipiras dos bois.
- Ora, quem mandou ele conversar com o Jeca. Os matutos desde os tempos de Mazzaropi que se passavam por bestas mas são os mais sabidos povos do país.
- Pois é, nosso presidente caiu numa esparrela com todo seu saber juridico.
- Nosso presidente, não! Lá dele ou lá seu....comenti.
- É apenas uma força de expressão como diria o rei Sol quando ameaçou em palanque prender juizes e, depois, no interrogatório recuou.
- E que cocô - desculpe a expressão - vai dar isso aí em Brasília? - perguntei enfático.
- Sabe Deus. Os netinhos do velho mineiro de Sâo João Del Rey, ministros, politicos de todos os partidos, um procurador da PGR, tá todo mundo argolado, fritos nas calabresas e salames, e as frigideiras estão a ponto de explodirem.
- Mr Badu, gostaria de entender que crise é essa em que vivemos, nós aqui comendo inhame e esse pessoal daí de Brasília, carregando malas de dinheiro vivo pra lá e pra cá, propinas onde só se falam em milhões de reais e de dólares?
- Olha, Sêo Rasta! Crise é coisa da classe média porque os pobres já estão na crise desde Cabral, o descobridor, e não o tal que embolsou milhões, e malas repletas de dinheiro só chegam para eles mesmos, frisou o conselheiro inquirindo se eu já tinha recebido uma mala com 1 milão em notas de 100 reais.
- Ô! louco! a última nota de 100 reais que coloquei no bolso foi durante o último Carnaval quando toquei tamborim por toda uma noite na Orquestra de Sêo Reginaldo de Xangô, comentei.
- E o que fizestre com ela?
- Comprei inhame, pães, margarina e biscoitos cavacos que a mulher adora. O resto paguei a água da Embasa que veio com aumtnto de 8.8% e só caiu 15 dias do mês.
- Você deveria ter comprado uma lagosta e uma garrafa de vinho para fazer a festa com dona Céu, sorriu Badu ao telefone.
- Você tá zombando de mim. Lagosta é comida pros Neves, pros Batista, pro Funaro e não pra nós.
- Assim fica dificil vocês passarem uma temporada em Paris pensando com essas cabeças de pobre e vão viver o resto da vida aí na Caixa D'água, pegando ônibus na Baixa dos Sapateiros e vendendo toucas no Pelourinho.
- É, pode ser Sêo Badu, a gente vai ficando por aqui, mas, em compensação, podemos andar pelas ruas, frequentar a Cantaina da Lua, ir a missa da Benção no São Francisco, comer o feijão de Dona Alaide e ninguém chama a gente de ladrões.
- Bye bye, disse Badu fazendo último apelo: - Joguem na mega sena.
Ó coitado! Nem sabe que dona Céu toda semana faz uma fezinha na mega e põe o jogo embaixo de uma imagem de São Expedito protegida por uma Torre Eifel de alumininio que sua irmã Cervejão lhe presenteou.
É reza semanal junto dessa torre, mas os números que ele joga, nunca combinam com os sorteados.