Colunistas / Filosofia Popular
Rasta do Pelô

Mulher do Rasta aposta no capilé da professora para promover seu verão

Cunhada do Rasta vem do interior com boa poupança para fazer a felicidade dele e de dona Céu
05/12/2016 às 12:05
   Diria aos meus nobres leitores, às minhas doncelas leitoras, nem todas, que a crise financeira nos abalou bastante, mas, onde há vida há esperança, o glorioso prefeito diz que vai criar um órgão para cuidar do Centro Histórico, e nós esperamos que não seja apenas mais um cabide de empregos. 

   Os turistas estão recomeçando a andar pelo Pelô, a temporada de ensaios pré-carnavalescos já começou e as vendas estão numa lua crescente tanto para mim que comercializo quadros, toucas e colares; quanto para minha esposa, dona Céu, a qual tem sua tenda de tererê embaixo de um toldo dos grandes.
  
   Conte-se também que faço meus bicos tocando tamborim, sou bom também de surdo, e dona Céu está intressadissima na área de estética facial e maquiagens e quem sabe, daí, pode fazer bons negócios e engordar nosso orçamento. Se o verão na Bahia em alguns locais é o 'inferno', pra nós é o 'céu'.
  
  E, vou segredar mais uma coisa, isso por acaso, uma vez que convidei dona Céu pra a gente ir ao Restaurante do Senac, aqui mesmo no Pelô, que tem uns quindins maravilhosos e 40 pratos da comida baiana, mas, como nosso capilé é curto e precisaríamos de R$112,00 pro casal, num almoço, fora a gelada, ela ponderou: - Fique tranquilo que quando a professora chegar do interior pro verão a gente vai lá".

   Fiquei alegre com a resposta, sabendo que a tal professora citada por Céu é a sua irmã Rilza Cervejão, caixa forte, mulher de uns 20 louboutins no mininmo, porém, ponderei que o verão ainda demoraria para chegar, todo mundo já estava comprando panetones para o Natal, o Senac tava com uma boa promoção e quem sabe, a gente pudesse ir logo às moquecas.
  
   - Tenha caalma, quando a professora chegar, a gente vai às moquecas, às carnes, aos frutos do mar, vai naquele show do Armazém Hall que você prometeu e nunca levou, e, tenho fé em Nossa Senhora da Ajuda que também vamos a Aracaju, que é o meu sonho.

   - Então, vamos ficar dependendo desse capilé gordo da professora ou não há um outro jeito da gente fazer nossa festa particular? - questionei.
   
  - Jeito tem, se você falar com seus amigos ricos, com o conselheiro Souza, com o doutor Zéu, com aquelas meninas chiques da Casa das Leis, com o marketeiro Mendes Júnior, com o marquês da Placa Ford, aí quem sabe, a gente pode degustar um cordeiro harmoinizado com um tinto.
  
 - Olha! Eu é que não vou falar com nenhum deles, ainda mais que o marketeiro perdeu a boca no governo, e doutor Zéu prometeu um tinto faz tempo, é só dizendo que partiu da Espanha, de navio, e até hoje não chegou.

   - Pode ter vindo de camelo, atravessado o Saara e está embarcando em Tenerife - brincou Céu.

   - É, pode ser! O melhor, mesmo, é aguardar a chegada da professora que a gente tira a barriga da miséria, iremos juntos ao Armazém, quiçá ao Barbacoa, e conheceremos Aju, a ponte do Imperador, Atalaia Velha, a Zé Sarney avenida, o caranguejo da Cely e assim por diante.
  
 - Você também já está querendo demais. A professora vem com capilé reforçado mas não é um saco de verdinhas.

   - Tá bom, desculpe, vamos cortar os programas pela metade.

   Depois fui assistir ao programa do Ratinho, no SBT, o meu predileto, o apresentar agora colocou umas moçoilas mais esbeltas no balé, e dormir cedo. No outro dia seria domingo, dia Santa Bárbara no Pelô e o movimento de baianos e turistas seria grande. 

   E foi mesmo. Uma beleza de festa e aproveitei o momento e além de quadros vendi também toalhinhas com a efígie de Santa Bárbara para enxugar o rosto dos fieis e imagens da santa. Dei-me bem e foi a Cantina da Lua, à noite, tomar uma gelada onde encontrei-me com Beto Macacão e Dick Jones. 
  
  Noite agradável com Bárbaras e Iansãs frequentando a Lua e clareando nossos olhares. Daí liguei para nosso conselheiro Badu, o intelectual de bigode, para saber das novidades do DF e se teria participado da passeata em defesa do Juiz Sérgio Moro e da Lava-Jato.
 
  - Como estão as coisas por Brasília, perguntei.

   - A situação está critica. Hoje teve uma forte manifestação na Esplanada dos Ministérios em defesa da moralidade - respondeu. - Espero que o amigo tenha participado de protesto semelhante aí em Salvador, aduziu.
   
   - Ô Sêo badu! Hoje é dia de Iansã, de Santa Bárbara.  Tó aqui é tomando uma gelada e vou comer é uma moqueca de arraia mais tarde. Político só faz enrolar a gente. Hoje, não apareceu nenhum deles na procissão da santa.
 
  - Você e dona Céu é que são felizes. A propósito, diga a ela que o verão está chegando e em janeiro apareço por aí pra comer aquela moqueca que me ofertou ano passado.
 
  - Pode vim. Ainda mais neste 2017 que teremos o capilé da professora - comentei.
 
  - Que capilé é esse? Dinheiro não tá fácil! É de alguém envolvida na Lava Jato? - ponderou.
  
 - Nada de Lava Jato nem de Lava Pés. É capilé de economias, juntada de licença prêmio, grana gorda e vamos nos dar bem neste verão. Camarões só graúdos, posta de peixe só robalo, dendê só de Valença. Vai ser demais, afiancei.
 
  - E vai ter um charutinho pra nós? Um cointeeau?

   - Só cubanos, Cohiba Behike. Licores sul africanos, familia Amarulla.

​   - Esse capilé da professora parece que é gordo mesmo! Beza-te Deus - admirou-se Badu.

   - Eparrei Iansã.