Com dois gols de cabeça do zagueirão Luis Otávio, escorando cobranças de escanteio, nos minutos finais do jogo, o Ceará derrotou o Tricolor (2 x 1 ) de virada, em Pituaçu, frustrando o torcedor que quase encheu as arquibancadas e já comemorava o triunfo. Mas a defesa deu mole e os cearenses acreditaram, lutaram até o final e mereceram.
Vimos um Bahia apático na primeira etapa e com a defensiva desatenta nos minutos finais. Alguns atletas renderam muito abaixo do esperado, desligados, errando muito. Daí, o castigo no final. Teve jogador reclamando, estranhando o gramado de Pituaçu; e teve torcedor dizendo que as manhas pretas no manto tricolor pesaram, deram azar. Será?
Os dois jogos que o Bahia perdeu em Salvador, na competição, até aqui, aconteceram em Pituaçu (contra o Santos e, agora, o Ceará).
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Com o resultado, o Ceará foi a 29 pontos e escapou da zona de degola no final da rodada; já o Bahia estacionou nos 41 pontos, em 8º lugar; se vencesse, estaria em 5º. Mas não jogou pra isso.
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Ações afirmativas
- Os atletas do Bahia entraram em campo com as camisas (padrão tricolor) manchadas de preto, uma alusão e protesto, um alerta para o desastre ambiental que vem acontecendo há mais de 40 dias nas praias do litoral de todo o nordeste do país - do Maranhão à Bahia –, tomadas por camadas de um óleo negro viscoso (petróleo, betume?), do qual não se sabe a origem, o local, a extensão e a causa do vazamento ou derrama, até agora. Toneladas dessas manchas de petróleo têm sido retiradas da areia e das pedras, diariamente, nas localidades atingidas por agentes públicos e voluntários, que tentam mitigar os prejuízos. A mancha já atingiu mais de 180 municípios da região nordeste.
Em nota, o clube se manifestou oficialmente: “O problema é seu. O Problema é nosso. Quem derramou esse óleo? Quem será punido por tamanha irresponsabilidade? Será que esse assunto vai ficar esquecido?”
É mais uma ação, um posicionamento do Núcleo de Ações Afirmativas do E C Bahia. Mas, e o futebol em campo?
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Na ‘maldição’ de Pituaçu
- Duelo, clássico nordestino, tradição de rivalidade. Jogo duro. O Bahia, com 41 pontos, em oitavo lugar buscando ficar entre os seis primeiros colocados, almejando uma vaga para disputar a Libertadores das Américas paroano; o Ceará, 26 pontos, em 17º lugar, buscando fugir da zona de rebaixamento.
- Noite primaveril de quase verão, céu limpo, casa cheia. O ‘Vovô’ todo de branco, com detalhes em preto. Os atletas cearenses entraram em campo com uma luva preta em uma das mãos, aderindo ao protesto do Tricolor contra a poluição, o desastre nas praias/litoral nordeste.
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Com a bola rolando ...
- A partida começou com as duas equipes cautelosas, marcando muito, sem dar espaços ao adversário, ritmo cadenciado. Aos 11’, a primeira boa investida do Tricolor, com Guerra acionando Élber na esquerda; o cruzamento saiu rasteiro mas Gilberto foi travado por Luis Otávio na hora do arremate. Só aos 28’ o Ceará chutou uma, de longe, para Douglas trabalhar um pouco. Um jogo em banho-maria.
- Aos 35’, Nino achou Gilberto em condições na área inimiga, mas novamente o avante foi travado na hora do arremate pelo becão Luis Otávio. Dois minutos depois, Guerra tentou da entrada da área, um peteleco nas mãos do goleiro Diogo Silva.
- O Vô, quando recupera a bola, periga. Aos 40’, batendo falta da direita, o lateral João Lucas buscou o ângulo, mas Douglas salvou voando e triscando com a ponta dos dedos pra escanteio. Foi o lance de maior perigo na primeira etapa.
- Um Bahia travado e pouco inspirado; alguns jogadores meio sonados, com as pernas pesadas, como Gilberto, Artur, Élber, Guerra... Estariam estranhando o gramado de Pituaçu ou as manchas pretas na camisa estariam pesando? Os cearenses pareceram mais ligados, mais acesos, com mais apetite. Não foi um bom primeiro tempo.
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- O Tricolor voltou dos vestiários com Marco Antônio no lugar de Guerra, que já estava com cartão amarelo. Em tese, uma modificação mais ofensiva, mais dinâmica.
- Aos 5’, Lima livrou-se da marcação, já dentro da área tricolor, e deu um bico; a bola desviou em Juninho e raspou o poste, quase ! Na cobrança do escanteio, bate-rebate e Douglas salvou. Na sequência, Marco Antonio acionou Élber, na esquerda, ele cruzou do fundo e Artur chegou batendo, de frente, por cima, perdendo grande chance. Ficou animado, de repente. Lá e cá, aberto. Mais corrido.
- O Vovô em cima, apertando, querendo mais, dando trabalho à defensiva baiana, ganhando mais os rebotes e as divididas. Roger tirou Élber, desligado, e pôs Arthur Caíke; aos 18 minutos, lançou Fernandão no lugar de Gilberto, estranhamente fora do ar, sem tempo de bola, errando tudo.
- Aos 22’, Marco Antonio puxou um bom contragolpe, enfiou para Arthur Caíke que entrou de cara, dividiu com o goleiro, trombou e a bola foi a escanteio. O torcedor acordou e o time em campo reagiu, foi pra cima, respondeu. Mas, aos 27’, batendo falta, Pedro Ken assustou.
- Gol ! 1 x 0 Bahia, Artur, aos 30 minutos. Marco Antonio bateu falta da direita, e o baixinho Artur foi mais rápido que a zaga cearense, antecipou-se, testando, fulminante. O gol incendiou as arquibancadas.
- Mas o Ceará não esmoreceu, estava vivo. Aos 34’, Douglas fez milagre, espalmando uma cabeçada, a bola entrando pelo alto. O Vô em cima, o Bahia atrás, segurando...
- Gol ! Ceará, 1 x 1, aos 41 minutos. O zagueirão Luis Otávio, de cabeça, escorando o escanteio cobrado da direita. Subiu mais que a zaga baiana e testou pra baixo, indefensável. Cochilo na marcação.
- Aos 43’,Marco Antonio limpou de fora e bateu, por cima, com perigo. Aos 45’, depois de outro vacilo da zaga tricolor, quase o Ceará fez. Nino salvou. Aos 47’, depois de uma rebatida errada de Geovanni, Ricardinho pegou de fora e Douglas salvou.
- Gol ! 2 x 1 , a virada do Ceará, aos 48 minutos. Novo escanteio, outra cabeçada de Luis Otávio, dividindo com Douglas e zagueiros pelo alto.
Vaias do torcedor, no final, desolado. O Ceará mereceu, pela garra, porque acreditou até o final. E saiu da zona do rebaixamento com o resultado. Já o Bahia... um time sem inspiração.
Destaques
No Bahia, Douglas fez duas ou três defesas espetaculares. Flávio, o mais vibrante. O miolo de zaga falhou, entregou no final. Giovanni não existe, Guerra também nada jogou. De um modo geral, atuações individuais abaixo do esperado.
No Ceará, a fibra, a vontade. Luis Otávio pelos dois gols e pela atuação defensiva, o melhor em campo.
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Escalações
- Bahia : Douglas, Nino, Lucas Fonseca, Juninho e Geovanni; Flávio, Gregore e Guerra; Artur, Gilberto e Élber. Técnico, Roger Machado.
- Ceará : Diogo Silva, Cristóvam, Luis Otávio, Tiago Alves (Valdo) e João Lucas; William, Ricardinho e Pedro Ken (Leandro Carvalho); Bergson, Lima (Matheus) e Felipe Silva. Treinador, Adilson Batista.
Arbitragem paulistana, com VAR; no apito, Luis Flávio de Oliveira.
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Na próxima rodada, sábado à noite, às 19h, já de volta à Fonte Nova, o Tricolor recebe o Internacional (RS).
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No outro jogo da noite de segunda, fechando a 27ªrodada, Botafogo 2 x 1 CSA.