Às vezes saio do estádio com o sentimento doce-amargo de que não sou mais gente deste mundo.
O Bahia voltou a vencer na Fonte Nova, despachou o lanterna Náutico por 2 x 0, fez a festa do torcedor e está com 23 pontos ganhos, na sétima colocação na tabela de classificação do Brasileirão, Série A. O Vitória, que levou 2 x 0 do Santos no sábado, na Vila Belmiro, tem um ponto a menos, caiu para 8ª posição, colado no rival tricolor.
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Deu Bahêa
Menos de 12 mil pessoas foram ver o Bahia enfrentar o Náutico do Recife, clássico nordestino, com o time baiano estreando um uniforme estranho - de um azul escuro nos ombros até um ‘degradé’ de rosa da cintura pra baixo -, e o Timbu pernambucano de treinador novo, o Jorginho, que na temporada passada esteve no próprio Bahia. Não foi um grande jogo, de boa técnica, mas valeu o mando de campo, os gols bonitos e o placar favorável para o time da casa. O Náutico continua penando na última colocação da competição.
O primeiro tempo foi ruim de ver, um jogo muito marcado, duro, com passes errados em sequência e muitos chutões, pouquíssimas jogadas trabalhadas e raras emoções. Mas o Bahia foi melhor, chegou bem mais na área adversária, buscou mais o gol.
Aos 2 minutos Fernandão testou um cruzamento de escanteio e a bola passou perto. Aos 11’ a torcida cobrou a marcação de um pênalti quando a bola bateu e desviou no braço do defensor pernambucano, na linha da pequena área, mas o árbitro fez que não viu. O tricolor criou outras chances de chegar ao gol aos 14’, com o goleiro saindo bem aos pés de Fernandão; aos 18’: Fernandão se embolou com o zagueiro, a bola sobrou e Wálisson , de frente, bateu para fora; aos 31’, Marquinhos levou a zaga e bateu forte, mas errou o alvo; Diones, que acabara de entrar no lugar de Rafael Miranda, também de frente, solto, na meia lua, pegou um rebote, bateu forte mas por cima do travessão.
A segunda etapa foi mais bem jogada e os gols saíram. Certamente por orientação do treinador Cristóvão, o Bahia voltou pressionando, tentando por a bola no chão, chutando de fora da área, tentando finalizações aos 4, 7, 8 e 9 minutos, todas para fora. Mas aos 11’, a marcação afrouxou na meiúca e Hélder dominou, levantou a cabeça e arriscou um belo chute de longe, acertando o ângulo: o goleiro Ricardo Berna só espiou: 1 x 0, golaço.
O treinador Jorginho fez substituições e pos a equipe mais na frente, buscando o empate. Mas, aos 31 ‘, numa boa troca de passes, Diones virou da direita para esquerda e achou Wállisson, que dominou e lançou na cabeça de Fernandão: a testada saiu certeira, triscou no pé da trave esquerda de Berna, que só olhou a bola na rede: 2 x 0. O tricolor fechou-se e o Náutico não conseguiu furar o bloqueio. Obina, que entrou no lugar de Fernanadão, ainda perdeu um gol fácil depois de ótima jogada pela esquerda de Wálisson: dominou mal, demorou e a zaga salvou o terceiro. Placar justo, venceu o melhor em campo.
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No tricolor, destaque para Hélder, sobretudo pelo golaço; foram bem Raul, Lucas e mais Diones e Feijão que entraram na segunda etapa.
No Náutico, a garra de Jones Carioca (aquele mesmo que atuou no Bahia), e mais os meias Martinez e Tiago Real, os mais técnicos.
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Overdose de Lusa
O tricolor baiano volta ao gramado da Fonte Nova na quarta-feira à noite, quando enfrenta a Portuguesa no segundo jogo pela Copa Sulamericana; o Bahia leva vantagem, pois venceu o primeiro duelo no Canindé, no meio da semana por 2 x 1. No fim de semana, dessa vez pelo Brasileirão, o Bahia volta a enfrentar a Portuguêsa, a Lusa, no Canindé, valendo três pontos. Overdose de Lusa, três jogos seguidos.
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Peixe indigesto
No começo da noite de sábado, o Vitória engasgou-se com uma espinha de peixe, na Vila Belmiro, levou 2 x 0 da garotada do Santos, em mais um resultado negativo fora de casa. A equipe rubro-negra só consegue atuar bem e vencer no Barradão, onde é ousado, goleia. Quando sai, não se encontra, amedronta-se, entrega. Um visitante acanhado.
Certo que a escalação do time foi mexida: Ayrton estreou na lateral direita, Reniê formou a dupla de zaga com Fabrício, e o meio campo mostrou-se desarrumado. Sem o frente de zaga Michel, fora de combate, Luis Alberto atuou mais atrás, com o paraguaio Cáceres saindo mais para o jogo pela direita. Cajá não reencontra o futebol jogado no ‘baianão’ e Vander não consegue fazer o papel de Escudero pelo lado esquerdo, pois tem outras características. Na frente, Dinei anda meio desligado e Bianchucci tem sofrido com marcações mais duras, mais em cima, briga só.
Ou seja, o time que atuou na Vila Belmiro foi pouco parecido com a equipe voluptuosa que atua na ‘toca do leão’. Fora, o Leão é manso, não consegue rugir.
A partida até começou solta, aberta, mas, já aos 8 minutos o time santista tramou bem na frente da área rubro-negra e a bola sobrou para o pé esquerdo do garoto (16 anos) Gabi, que bateu de canhota, mascado, mas o goleirão Wilson (que era dúvida, há mais de semana machucado) tentou pegar o frango pelo rabo, aceitou: 1 x 0. Aos 22’, o mesmo Wilson redimiu-se tocando com a ponta dos dedos para escanteio um bico certeiro do mesmo Gabi. A partir dos 30 minutos o rubro-negro adiantou-se mais e equilibrou, mas a melhor chance foi de o Santos ampliar , aos 44’, num chute de Montillo que Wilson salvou. O time peixeiro foi melhor, teve o controle da bola e da partida.
Na segunda etapa a postura do Santos foi de fechar-se em seu campo e explorar o contragolpe, sempre puxado pelo talento do gringo Montillo. Aos 10’, Cícero entrou tabelando pelo meio e, já de cara com o goleiro, não perdoou: 2 x 0. A partir dos 15’, os treinadores mexeram, fizeram as substituições a que tinham direito, sem grandes mudanças no andamento do jogo em campo. O time baiano lançou-se mais à frente, sem muita inspiração, e quando tentou definir errou ou a pelota parou nas mãos do goleiro Aranha. O time peixeiro paulista criou também algumas chances de ampliar, mereceu o placar.
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Destaques no Santos para o meia argentino Montillo, o baiano Cìcero, o zagueirão Dracena e uma garotada que promete.
No Vitória, Wilson falhou feio no primeiro gol, o estreante Ayrton não mostrou muita coisa, a zaga com Reniê e Fabrício assustou-se e o meio campo não funcionou; só Luis Alberto, com a faixa de capitão e mais lúcido, tentou jogar.
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O elenco do Vitória nem retorna a Salvador, segue direto de Santos/SP para Curitiba, onde, na quarta-feira, enfrenta o Coritiba pela Copa Sulamericana, jogo decisivo e eliminatório, com a vantagem de ter vencido a primeira por 1 x 0 no Barradão. No fim de semana que entra, já pela 17ª rodada do Brasileirão Série A, o rubro-negro se pega com o Criciuma, já na ‘toca do Leão’.
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Feriadão
Dia 7 de setembro, sábado próximo, feriadão da Independência do Brasil, e dois eventos esportivos a destacar:
- O amistoso de seleção brasileira, Campeã da Copa das Confederações, contra a equipe da Austrália, no gramado ruim da nova arena de Brasília, o estádio Mané Garrincha. Vamos apreciar como andam os pupilos do Felipão, alguns deles com vida nova pela Europa, como Neymar e Paulinho. Outros estão de volta à equipe, como o lateral Maicon e o meia Ramirez. O amistoso já está na conta da preparação com vistas a Copa do Mundo 2014.
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- As primeira eleições livres e diretas da história do E C Bahia, fundado em 1931, time de maior torcida no Estado. O pleito acontecerá das 9 às 17 horas, nas dependências da Fonte Nova. Até então, quatro candidatos despontam para um mandado de 16 meses, até o final de 2014: o ex-presidente Fernando Schimidt, o radialista Antonio Tillemont, o vereador Euvaldo Jorge e o pecuarista/empresário Rui Cordeiro. O eleito tomará posse já na segunda seguinte, dia 9 de setembro. Um marco, sem dúvidas.
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Auditoria
Nossos aplausos para a postura do advogado interventor do E C Bahia, Dr Rátis, pelo empenho, pela seriedade e serenidade com que conduziu o processo difícil de ‘democratização’ do clube.
Mas ficaram ainda muitas coisas, ‘negociatas’, a esclarecer. Exemplos:
- A venda do menino Gabriel para o Flamengo. De quanto foi o negócio e cadê o dinheiro? ; a ida do atacante Maranhão para o México, o Bahia ganhou quanto e pra onde foi a grana? ; a venda obscura da revelação Felipe para a Itália, com participação de empresa-fantasma e outras lambanças.
Mais, quem foi mesmo o responsável pela saída do garoto quarto-zagueiro Maracás, da divisão de base? ; por que e quanto o empréstimo do zagueiro capitão da base Robson para o Japão ?
E o Marcone foi vendido por quanto, cadê a grana?; o que aconteceu, de fato, na saída de Newton Motta?
Quanto custou a passagem do Sr Paulo Carneiro (argh!) pelo Bahia ? ; e as ‘lambanças’ e armações do Sr Paulo Angioni no departamento de futebol vão passar em branco ?
A torcida quer explicações. As auditorias responderão ?
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Irados costumes
Sou torcedor de arquibancada, fui pela primeira vez à Fonte Nova em 1953, já tricolor, nasci Bahia. Ainda sou daqueles que jamais atiçaria a camisa do time do coração no chão, mesmo se fosse pela comemoração de um gol (por mim feito).
Nunca vaiei ou vaiarei meu time do peito, paixão pura, nem a um jogador vestido com o manto tricolor. Sequer nos instantes de maior dor.
Orgulho-me das estrelas no peito, na camisa, do hino, das cores, choro em decisões e quando ouço o hino do professor Adroaldo Costa cantado no estádio, e costumo respeitar qualquer adversário, que não se trata de um inimigo a ser exterminado mas de um competidor a ser vencido em campo, na bola ! Com malícia e arte.
A postura do torcedor nas tais ‘arenas’ de hoje me assustam. Olho em volta e vejo mais ódio, mais rancor do que amor.
Às vezes saio do estádio com o sentimento doce-amargo de que não sou mais gente deste mundo.