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Zé de Jesus Barrêto

Toque de bola da Espanha, uma estratégia vencedora

Jogão de bola de se ver. Bom para Neymar porque Jord Alba sobe bastante
29/06/2013 às 12:45
Será às 19 hs, no Maracanã, a final da Copa das Confederações 2013, com o clássico Espanha X Brasil. Pus a Espanha na frente por ser ela a atual Campeã do Mundo, bi-campeã da Europa, 26 partidas oficiais invicta, tida por todos como a melhor seleção do planeta no momento, com seu futebol de toques. 

Eles próprios confessam que era um sonho enfrentar o Brasil, cinco vezes campeão do mundo, uma escola de futebol na qual os espanhóis se espelharam para chegar a esse auge.  

No mesmo domingo, a uma da tarde, na Fonte Nova Uruguai e Itália disputam a terceira honrosa colocação no torneio. 

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  Chatice ou estratégia ? 

   Entendo que os espanhóis desenvolveram um estilo próprio, a partir do Barcelona, o orgulho da catalunha. O fundamentos básico do atual futebol espanhol é a valorização absoluta da posse de bola. 
Ora, repetem, só quem tem a bola nos pés joga, quem não tem... ou espia ou corre atrás para retomá-la. Básico. 

   Então, eles marcam adiantados, sempre no campo adversário, e buscam retomar a pelota sempre que a perdem, com toda dedicação, em grupo, sem faltas, de preferência o mais próximo possível da área adversária, sufocando. Se não conseguem, de pronto, matam a jogada com faltas técnicas, para evitar os contragolpes, já que a defesa, quase sempre fica desguarnecida.  

   Já com a bola nos pés, os espanhóis trocam passes à exaustão. Às vezes de forma irritante, mas é melhor tocar atrás e recomeçar tudo do que entregar a posse da pelota ao adversário. Isso desgasta muito as pernas, a cabeça e os nervos do adversário. Daí, evitam dar chutões, giram a bola, trocam de posição, sem que seja preciso correr muito, pois é a bola que gira, tocada de prima, curto, preciso, pra lá e pra cá... até que se abra um espaço para o bote, aquela enfiada certeira e o chute fatal em gol. Repetem o tempo todo esse jogo por  estratégia, é um jogo de inteligência, artimanhoso, traiçoeiro. 

   Claro, para que isso dê certo é preciso muito treinamento, duradouro entrosamento e jogadores bem dotados de técnica e habilidade. Eis o problema ... 
Repito, por exemplo, que o Barcelona é melhor que a seleção espanhola. Até porque possui no elenco o argentino fora-de-série  Messi, e o lateral brasileiro Daniel  ...  Enquanto que a seleção joga com Arbeloa pelo lado direito, um lateral fraco, limitado;  e não possui um grande centroavante: David Villa está fora de ritmo desde que se machucou gravemente, no ano passado; Torres é um engodo e Soldado, tecnicamente, não chega a um Fred. 
 
  O time espanhol  teve sérias dificuldades contra a Itália porque, além do calor, mostrou-se vulnerável nas costas do lateral esquerdo Alba (que é um ala no Barça, avança bem e marca mal), não teve jogadas pelo lado direito (Arbeloa não evoluía) , e tentou o tempo inteiro entrar tabelando pelo meio da bem povoada e segura zaga italiana, sem muito êxito.   

O primeiro passo para se enfrentar de igual para igual a Espanha é marcar bem, sem dar espaços, sem deixar que pense o meio campo deles, com Xavi, Iniesta e Busquets, por onde rola a trama do jogo espanhol.  

  
   Habemus time ? 

   O Brasil tem time para enfrentá-los? Em tese, sim, desde que Felipão arme uma boa estratégia de marcação, o campo inteiro, o tempo todo, e engatilhe contragolpes em velocidade  nas costas dos laterais adversários, com Neymar e Hulk (porque não  o rápido Bernard? ) azucrinando a defensiva deles. 
O Brasil ainda leva a vantagem, considerável, de estar mais descansado; jogou na quinta, viajou pouco, enquanto a Espanha saiu arrebentada do duelo contra a Itália, que parecia não acabar nunca, num calor de 30 graus, e ainda  viajou, após a partida, de Fortaleza até o Rio. Ufa! Terão fôlego para os 90 minutos? Aguentam correria ou vão tentar cadenciar o jogo?  

   *
   Entendo que Felipão encontrou a base do time e o jeito de jogar. Faltam alguns ajustes. Gosto da zaga : Tiago e David Luiz, apesar do vacilo de cada um no jogo contra o Uruguai. Aprenderam. Tiago, que tem horas também pra dar bicão e David Luiz que não deve entrar na catimba dos adversários. 
Os laterais são os melhores que temos.  Dani pelo lado direito, um pouco mais preocupado na marcação, sem se soltar tanto como no Barcelona, onde às vezes é o ponta-direita aberto; e o habilidoso Marcelo, pela esquerda, que avança muito e precisa, quase sempre, de boa cobertura nas costas. Tenho apreciado muito a dedicação e a precisão na marcação, nos passes e na saída de bola dos apoiadores Luis Gustavo (o canhoto) e Paulinho,  mais livre.  
   
   Na armação, Oscar não se mostrou ainda o meia ideal, o homem que gira a bola, pensa o jogo; não tem feito uma grande copa, até aqui. Hulk atuando de falso ponta pela direita é só força física, tem pouca inteligência e briga com a bola, não consegue dominá-la, dar um tapinha de primeira, erra passes, mata jogadas de contragolpes, deixa Dani Alves sem opção muitas vezes.  
Fred tem feito gols, possui boa técnica, mas pouca mobilidade, não é o avante pra ser lançado em velocidade nas costas do zagueiro, não tem pernas pra isso. Sou mais Jô, é mais lépido.
 E Neymar, enfim, com Felipão, está jogando mais para a equipe, está amadurecendo, faz seus melhores jogos pela seleção nessa Copa. Desequilibra. A matada no peito, naquele lançamento longo de Paulinho, tirando dois  zagueiros uruguaios... ah, lembrou-me Pelé.       

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   Quero dizer com essa análise individual que a equipe é boa, tem cacife, pode ser campeã no domingo, mas tem também seus problemas, seus defeitos. Às vezes povoa mal o meio campo e isso é fatal contra uma Espanha. Marca frouxo na intermediária, deixa uma espaço, abre uma distância enorme entre o setor defensivo e os atacantes, o que facilita a defesa adversária. Então, confiamos tudo ao talento individual. 
Neymar fará a diferença?  Enfrentará seus futuros parceiros de time, no Barcelona(Piquet, Alba, Xavi, Iniesta ...). Quem vai marcá-lo. Se for Arbeloa, do Real Madrid, ótimo. 

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   Bem, será um jogão de bola. América do Sul X Europa.  Com duas equipes de peso, camisas consagradas, estilos de jogo diferentes (um mais de bolas compridas, outro de toque curtos e precisos), craques incontestáveis, boa técnica e estratégias  de treinadores experimentados dentro do gramado (Felipão X Del Bosque, bigodudos).  Jogo bem jogado, sem faltas, com boa arbitragem e gols, muitos gols ... é o que esperamos.   

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   Mama mia ou los hermanos ? 

   Ah, não esqueçam.  Às 13 hs (sim senhor, estranho horário Fifa), na Fonte Nova (Salvador-Ba),  tem um ótimo aperitivo, esfria-sol, o clássico  Itália X Uruguai  (Europa X América do Sul) pela disputa do terceiro lugar, honroso.  O Uruguai fez um bom jogo contra o Brasil, marcou muito, correu, dificultou e quase vence, perdeu por detalhe. O ponto forte é o ataque com Cavani (que joga na Itália), Forlán e o inquieto e perigoso Luiz Suarez, três goleadores. É uma equipe que marca duro, briga muito pela bola.

   Os italianos vêm meio esfalfados da batalha contra a Espanha, que teve um 0 x0 no tempo normal, outro empate sem gols nos trinta minutos de prorrogação e mais o desgaste emocional das penalidades que decidiram pela vitória espanhola.  
A Itália fez um ótimo jogo, surpreendeu mesmo os espanhóis, tiveram chances de golear na primeira etapa, marcaram sob pressão, atacaram com bolas longas e alta velocidade pelas laterais e com bolas alçadas na área adversária. Até que cansaram.   Os destaques são o defensor Cjiellini, o marcador De Rossi, o veloz Giacherinni e o apoiador Pirlo, maesto da equipe que, infelizmente, está fora do jogo; a idade pesa, as lesões atormentam. O negão Balotelli faz muita falta no ataque.

  Jogão de bola bom de se ver, sem prognóstico.  Se fizer sol, o Uruguai levará ampla vantagem, pois está mais descansado, chegou antes ao local da partida e já atuou na Fonte Nova, terá o público em seu favor, certamente. . 

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Pipocas da Copa 
 O ex-jogador (Flamengo, Real Madrid, Barcelona, seleção brasileira) e ex-treinador (Bahia, seleção ...) Evaristo de Macedo, 80 anos de idade, será homenageado no jogo de domingo, no Maracanã. Pra quem não sabe, Evaristo tem o recorde de gols marcados numa só partida com a camisa da seleção brasileira: fez cinco numa goleada sobre a Colômbia, antes da Copa de 1958. 

Era o titular da equipe, antes de ir jogar na Espanha, um contrato milionário na época. Pelé ainda não tinha 17 anos e só sonhava com a camisa 10 que o consagrou como Rei. Evaristo, por tudo o que jogou e pela sabedoria que acumulou e repassou, no mundo da bola, mercê todas as homenagens. Grande mestre !  


- Do ex-craque de bola, atual craque das letras, nos comentários, Tostão:
 “Um dos mistérios do futebol é não saber o que vai ocorrer na frente, em um instante ou daqui um ano. Um lance pode mudar toda a história. Tudo está indefinido. Assim é também na vida”