Dunga está agredindo os jornalistas na Copa
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Sem papa na língua, Dunga perde o controle emocional e agride a imprensa |
Com a tropa sob seu comando, obediente, a turma cumprindo o dever no campo de jogo, eis que o sargentão Dunga elegeu como inimigo, fora do gramado, o pelotão de cerca de 400 jornalistas que, por dever de ofício, busca as notícias da seleção brasileira para transmiti-las aos ouvintes, leitores, telespectadores, internautas, torcedores ...
Dunga já transformou cada entrevista numa batalha. Rolam provocações, desafios, impropérios, olhares de raiva, juras de vingança, xingamentos, ameaças veladas... Difícil é estabelecer os motivos de tanta encrenca, com o time vencendo, atuando a contento, os jogadores alegres e unidos, os ventos soprando a favor, tudo fluindo.
Mas Dunga anda cada dia mais zangado. Mágoas guardadas e incontidas? Ou seria uma forma de disputar espaço na mídia internacional com o milongueiro Maradona?
Todos sabemos que há repórter chato, provocador, despreparado, irresponsável, intriguento, baba-ovo, perturbado, mal intencionado... e há também bons profissionais, que merecem todo o respeito. Aliás, como em todo lugar, em qualquer profissão. Há bons e maus técnicos, jogadores, médicos, advogados, policiais, professores, executivos, juízes, padres, pastores... Vê-se de tudo no jogo da vida.
O inconcebível é que um profissional que tem por obrigação, também, lidar com a mídia se comporte de forma tão desequilibrada diante de câmaras e microfones, criando um clima de conflito que pode influenciar o grupo inteiro, que como objetivos definidos e claros: ganhar uma Copa do Mundo em campo e, se possível, jogando um belo futebol.
Ele, o comandante, que tem a imensa responsabilidade de cuidar de manter o foco de todo o grupo nas metas a serem alcançadas. Essa é a prioridade. Criar desavenças nada constrói, só desmotiva. O comando deve congregar e não criar atritos.
Até porque todos, inclusive os jornalistas/repórteres que Dunga acha inoportunos, estão também trabalhando e torcendo pela vitória brasileira, para que a seleção chegue bem na final, pois há contratos, interesses comerciais em jogo para todo mundo, ninguém vai remar contra nessa hora, a mídia joga e ganha ou perde com o time, ora bolas!
Compreendemos que Dunga se preserve e preserve o grupo, evitando intrusos, coibindo festejos e farras prejudiciais ao desempenho da equipe. Conhecemos esse enredo e o final não foi feliz. Entendemos até mesmo que aconteçam treinos secretos, fechados, para aprimorar jogadas e não entregar o ‘ouro' ao inimigo.
Até concordamos com Dunga, de verdade, quando ele retirou os privilégios que tinha no passado a poderosa Rede Globo - sempre obteve notícias e entrevistas ‘exclusivas'.
Nada de exclusividade, o que é pra um é pra todos, salve Dunga!
Mas a rixa, o clima pesado, a troca de farpas, a imprensa tratada como inimiga... Isso é burrice. Tem sido desagradável . E mais: é um problema que pode e deve ser imediatamente resolvido por alguém acima do ‘sargento', com patente superior. Antes que o gênio irado de Dunga ponha tudo a perder. Porque, sabemos, uma Copa do Mundo se ganha dentro do gramado; mas se perde, muitas vezes, fora do campo de jogo.
A maior qualidade de um campeão é a sabedoria.
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Jabulani e globalizaçãoA grande decepção nessa primeira etapa da Copa Africana tem sido, infelizmente, a atuação dos times do continente negro. O mundo esperava ver em campo um futebol parecido com a alegria, a cultura festeira e colorida dos povos da África. Um futebol solto, jogado sem amarras, como correm os bichos na savana, com toda a força física que possuem os negões, mas também com liberdade, ousadia, um pouco de irresponsabilidade sadia, até.
Mas não. Os técnicos brancos europeus, importados pelos países do continente, em função de resultados e possíveis conquistas, domaram , descaracterizaram o futebol dos negros africanos. Tiraram-lhes a graça, o gosto da brincadeira. Em função da tal disciplina tática - que termina igualando todos - acabaram com a alegria e a criatividade dos africanos em campo. Todos eles agora jogam como se estivessem atuando num clube inglês ou italiano, alemão.
É a tal globalização, que plastifica e transforma tudo em mercadoria. Só o resultado importa. Mas futebol é cultura! O jeito de se jogar bola deve (devia?) mostrar o fazer de cada gente, a ginga do jogo da vida de cada povo.
Mas, hoje em dia, com tantos atletas pra lá e pra cá, transações milionárias, a cata de garotos que possam render fortunas, os treinadores preocupados com títulos e com o emprego, milhões em jogo a cada chute ... e a gente vê nessa Copa do Mundo da África do Sul como todos, digo todos, estão jogando tão parecidos.
Sobrou da milonga argentina um toque de Veron, uma arrancada de Messi. Resta da artimanha brasileira uma ou outra pedalada de Robinho, cada dia mais contido, um lampejo de Luis Fabiano, um toque aqui e ali de Daniel, de Maicon... Todos já quase europeus, pouco molejo, objetivos. Até os japoneses, do outro lado do mundo, estão jogando parecido.
Prevalecem os jogadores alto, taludos, disciplinados, todos cuidando dos espaços, tocando sempre de lado para não perder o domínio da bola e do jogo, mais preocupados em não errar do que arriscar alguma coisa para chegar ao gol. Ora, dizia o mestre Evaristo, ‘quem tem medo de perder não ganha'. Os treinadores das divisões de base já selecionam seus atletas pela altura, não mais pela intimidade com a pelota. É assim.
E o fantástico ‘jogo de bola' vai se transformando num espetáculo chato, de cruzamentos, chutões para o alto, cabeçadas, choques, passes laterais, jogadas ensaiadas com as tais ‘bolas paradas'. O gol sai muito mais como fruto de erros do adversário do que da jogada intuída, imprevisível. Cobra-se eficiência e não habilidade. Opta-se pela competitividade e não pelo jogo bem jogado, belo, com curvas e artimanhas. Vê-se mais disputas acirradas e, cada vez menos habilidade, nenhuma magia.
Digo aos mais jovens: nos tempos de Pelé, Garrincha, Di Stéfano, Didi, Puskas, Zizinho... jogadores como Kaká, Cristiano Ronaldo e mesmo Messi seriam considerados normais, nada extraordinários.
Têm boa técnica, sim, mas pouco encantamento.
Ainda bem que inventaram essa manhosa
Jabulani para reinar nessa Copa Africana: ela exige ser bem tratada, ou escapa, foge, arredia. Não gosta de chutões. Ela quer ser tocada, gosta de rolar pelo chão, macia, é chegada num dengo, num efeito. Tem exigido muito mais intimidade dos que pensam que sabem domá-la. A
Jabulani pode fazer a diferença, e tem feito, nessa Copa.
Fico lembrando o tudo que faziam em campo Mário Araújo, Kleber Carioca, Valtinho, Armandinho, Roberto Rebouças... com aquelas bolas de couro em gomos, pesadonas, grosseiras... e tento imaginar o que eles fariam com chuteiras tão leves e bolas tão perfeitas, tão redondas, tão sinuosas, macias.
O que jogariam Pelé, Didi, Gerson, Rivelino, Tostão ... com a Jabulani!
Quem sabe, com o reinado da Jabulani, o futebol retome sua arte, seja mais jogado na grama, mais tocado. Volte a ser um jogo em que prevaleçam mais a habilidade, a técnica, o drible, o lançamento em curva, o chute de efeito, a tabela rápida, a criatividade do atleta em campo; e menos a tática, os esquemas rígidos, a marcação, as trombadas na grande área.
E que cada povo, de cada canto do planeta, possa exibir seu jeito próprio de jogar, de brincar de bola, livremente, sem amarras.
A ‘jabulani', mesmo de longe, me faz sonhar.
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Décevant, la France !Decepção, em todos os sentidos, foi a França. Um timeco em campo, uma guerra de egos dentro e fora dos gramados, agressões entre jogadores e comissão técnica, um técnico ruim e mal educado, fiasco total. Borrou-se na entrada e na saída.
Pegou mal para as tradições da ‘civilidade' francesa, para um time que já foi campeão do mundo e possuiu jogadores do nível de um Kopa, La Fontaine, Platini, Tigana, Zidane ...
La merde!
* Viva São João, salve Xangô Menino !