Para contato zedejesusbarreto@uol.com.br
Foto: ASCOM Bahia |
|
Muita alegria e pouco futebol para honrar a camisa do Bahia |
Desde que me reconheço como gente, sou Bahia. Não digo ‘torço' pelo Bahia.
Sou Bahia, nasci Bahia, herança de outras vidas... que sei? Não sei em mim qual paixão nasceu primeiro, se pela bola ou pelo Bahia. Bola e Bahia parecem a mesma coisa em meu mundo.
Paixão de sofrer, de doer, deprimir, tirar o sono, ocupar o tempo, fazer pensar, sonhar, ser feliz, entrar em estado de graça. Pedaço de vida, devoção, pura emoção, daquelas que faz chorar, sem controle. Desde pequenino até hoje, jovem ancião. Só sentimento, não tem razão. É, fazer o quê?
Gosto do futebol apenas o jogo, a trama do que acontece em torno da bola durante os noventa e poucos minutos, a arte da disputa no campo, o drama, a manha, o imprevisível, o encantamento.
Não gosto, e só procuro saber por obrigação profissional, do sub-mundo do futebol, fora de campo. Administrações, armações, diretorias, grana, torcidas uniformizadas ... nada.
O encanto é somente a bola.
*
Domingo foi um dia especialmente aziago para o velho torcedor do Bahia.
Pela primeira vez vi o tricolor levar uma goleada, cinco gols de um time do interior do Estado. Gols (5 x 3) e banho de bola humilhantes, surra de um time recém chegado a primeira divisão do campeonato baiano. Em pleno Pituaçu, as arquibancadas quase às moscas.
Um fanático bradava, as veias do pescoço quase pocando: ‘No terceiro gol deles o cara deu uma cotovelada no rosto do meia do Bahia arrancando-lhe a bola antes do chute fatal, foi na cara do árbitro; e no quinto gol não aconteceu o pênalti marcado'.
Até concordo com os motivos da lamúria, mas o time em campo não fez por merecer um placar melhor, foi uma caricatura grotesca de um time profissional. E há muito tempo as arbitragens deixaram de olhar o Bahia como um time grande... hoje todos querem tirar uma lasquinha do tricolor, que, fora de campo, não têm quem o defenda, que o faça respeitar. Quem é mais esse ‘bahêa?'
Aliás, as camisetas remendadas que vestem esses atletas tricolores desde o início do campeonato são bem a cara desse ‘bahêa' de mentira. Uma vergonha. Não tem vintém para comprar um padrão novo, decente? Nunca tinha visto isso, a não ser nos campinhos de várzea. E, em campo, o ‘bahêa' se apresenta mesmo como um timeco de várzea, desses administrados e escalados entre uma rodada de cerveja e outra, na mesa de um boteco de praia.
*
Tem jogador do ano passado, no elenco, com salários atrasados desde novembro 2009. Saco vazio não se põe em pé. Nem corre.
*
O episódio da estréia de Edílson foi patético. O ex-atleta de 40 anos de idade, apresentado como o ‘grande investimento do clube na temporada', teria sua estréia nesse domingo em função de uma ação de
marketing que chamaria o torcedor ao estádio. Fora umas faixas medonhas esticadas na arquibancada, tipo ‘Edilson que o Bahia gosta', nada mais de apelo, chamariz, atrativo. Fracasso.
Iniciado o jogo, o que se viu? Edílson no banco, o time atarantado em campo, mal posicionado na defesa, sem jogadas pelas laterais, um monte de meiocampista que apenas corre e dá chutão pra cima, e nenhum esquema tático. Pobreza individual e coletiva.
*
Para piorar, uma arbitragem de má qualidade técnica, um campo de jogo em péssimo estado, onde a bola não rola, saltita. Os tufos de grama, os montinhos de areia e os remendo grosseiros de alguns buracos com placas secas atrapalham o domínio e a sequência natural do jogo.
O que aconteceu com o gramado de Pituaçu, Bobô ?
E como é que o presidente Ednaldo, da FBF, faz um campeonato em campos tão ruins como os nossos?
*
Após o jogo, a triste notícia:
O anãozinho Evilásio, torcedor-símbolo da paixão tricolor, morreu atropelado na avenida Bonocô, quando já ia de volta do estádio para casa, amargurado com a derrota na sua pequena/grande tristeza, desligado do mundo. Foi-se, todo vestido de Bahêa.
*
O jogo do Vitória em Feira de Santana, contra o Fluminense, foi violento dentro e fora das quatro linhas.
Nas arquibancadas, os alucinados das chamadas torcidas organizadas (Imbatíveis e Touro do Sertão) trocaram sopapos e cacetadas, indiferentes ao jogo, gato e rato com os policiais. Eles gostam de se atracar, bagunçar, quebrar... Tão nem aí pro jogo.
Jogo, aliás, o que árbitro, Marielson Silva, deixou correr frouxo. A tevê mostrou um lance em que um atleta do Fluminense, caído, foi agredido sem bola, no meio campo, com chutes nas costelas por dois jogadores do Vitória. O árbitro fez que não viu e ainda deu cartão amarelo pro atleta do Flu que reclamou. O couro comeu de um lado e outro.
O pênalti marcado sobre Berola foi uma vergonha.
Aliás, no jogo anterior do Vitória o árbitro inventou e marcou dois pênaltis em Shwenck que decidiram o jogo.
O Vitória, time de primeira divisão, diretoria atuante e forte, tem tido um tratamento especial por parte dos árbitros baianos. Não é de hoje isso. Vem dos tempos do Carneirão, lá no Barradão. A pressão é grande fora de campo. Hoje, o rubronegro manda no pedaço.
*
A arbitragem baiana, de um modo geral, é lastimável. Sem critérios, sem segurança, amedrontada, acovardada. Imaginem que o coroa Rosalvo da Silva Mota ainda apita, ao estilo Clinamulte Vieira França, anos 60 do século passado.
*
Vendo de perto os jogos do campeonato baiano, há momentos que , parece, as equipes em campo estão disputando outro tipo de esporte, bem diferente do futebol que vemos o Barcelona, o Real, o Inter de Milão, o Chelsea da Inglaterra jogarem pela tevê.
Eles jogam futebol e nós batemos um babinha.
*
A Copa da África, disputada em Angola, acabou. Foi mais notícia o atentado ao time de Togo, antes do primeiro jogo, em Cabinda, do que a competição em si, tida como muito fraca, tecnicamente.
O Egito ganhou, de novo, o título de campeão da Copa da África. É o melhor time africano mas não vai estar na Copa do Mundo da África do Sul, em junho. Não conseguiu a classificação nas eliminatórias que terminaram ano passado.
Futebol é momento e ninguém ganha jogo de véspera. Atenção, seleção de Dunga!
*
No escrete de Dunga, três jogadores disputam as vagas mais cobiçadas: Adriano, o Imperador, que joga no Flamengo, tem de perder peso, entrar em forma, ganhar velocidade e fazer gols para se habilitar como reserva de Luis Fabiano, o dono da camisa 9. Ainda no ataque tem uma vaga à espera de Robinho ou de Ronaldinho Gaúcho.
Robinho voltou para o Santos, a Vila Belmiro que o projetou, no intuito de jogar e se credenciar com brilhantes atuações. É a grande atração do paulistão. No time da Inglaterra, o Manchester City, que detém seu passe, não vinha sendo escalado. Falam que o menino anda muito mascarado, o dinheiro farto subiu pra cabeça. Sem jogar...
Dunga não convocaria, ficaria de fora da Copa. Então, que se motive no Santos, onde foi apresentado por Pelé. .
Por fora, em busca de espaço, corre o genial Ronaldinho Gaúcho que há uns quatro anos deixou de jogar competitivamente, coletivamente. Mas, com a possibilidade de ir á Copa, voltou a ser titular do Milan e tem até corrido mais em campo, vez por outra mostrando um pouco daquilo que todo mundo sabe: se quiser voltar a jogar com vontade, motivação, é ainda o melhor do mundo. Terá ainda tesão pra isso?
*
Dizem que, passado o carnaval, vão começar a derrubada, a demolição, a explosão da velha Fonte Nova.
Evitarei passar pelas proximidades... não quero ver. Quando os entulhos forem recolhidos, então, acompanharei os lances da Nova Arena da Fonte. Tentarei criar uma nova empatia, olhando de parte. Se vai rolar a paixão antiga só saberei quando a bola rolar de novo pelos gramados de lá. Quem sabe num BaVi, casa cheia.