Colunistas / Política
Tasso Franco

A PEC DA REELEIÇÃO DA ADOLFO PRESIDENTE DA ALBA E O CAVALO SELADO

Veja como se deu a queda de Marcelo Nilo e o pacto PSD e PP na Assembleia Legislativa
10/11/2023 às 11:43
 Há em andamento na Assembleia Legislativa da Bahia um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) organizado por deputados do Partido Progressista (PP) visando voltar ao passado, da era Marcelo Nilo, em que o presidente da Casa Legislativa tinha a prerrogativa de reeleger-se quantas vezes quizesse.
  
    Ora, só refrescando a memória dos leitores, em 2006 houve uma mudança expressiva na política baiana com a eleição de Jaques Wagner (PT) a governador do Estado, obviamente com um impacto espacial nos demais poderes do Estado - Legislativo e Judidicário - que também mudaram, mas, nada diferenciado do que acontecia ma era ACM. Ou seja, esses dois poderes seguiram gravitando em torno do Poder Executivo.
  
   Na Assembleia, elegeu-se presidente da Casa para o período 2007/2009, o deputado Marcelo Nilo (PSDB) ligado a Jutahy Magalhães e oposição a ACM. Wagner, claro, afiançou sua eleição. O primeiro vice-presidente era Angelo Coronel. 

   O barco seguiu, Wagner com maioria apertada na ALBA, e Nilo segurou muitas barras reelegendo-se para um segundo mandato com Rogério Andrade na vice. Em 2010, deu-se a reeleição de Wagner governador, mais uma vez contra Paulo Souto, e como Nilo vinha ajudando-o, teve raia livre para se manter na presidência da Assembleia.
  
   Marcelo, então, emplacou um terceiro mandato entre 2011 e 2013, a essa altura no PDT, desde 2009, quando migrou e permaneceu até 2016, transferindo-se para o PSL na brigas internas com o deputado federal Félix Jr. 
  
   Wagner ficou no governo até 2014 e elegeu-se Rui Costa (PT) seu substituto. A essa altura Marcelo já emplacara o 4º mandato (2013-2015) e o PT emplacou a vice-presidência com Yulo Oiticica. 

   Mas, a essa altura, ainda no segundo mandato de Wagner, o deputado Rosemberg Pinto (PT) tentou sua eleição à Presidência da Casa, articulou, articulou, mas não teve o apoio de Wagner, embora ambos fossem do mesmo partido. 

   Mas, por que Wagner não apoiou Rosemberg? Simples: Se Nilo tinha controle da base, fazia gestão que aprovava todos os os projetos do governo, por que mudar? Não havia necessidade. Seria correr riscos uma vez que o PT nunca agregou a base como um todo sob o seu comando.

  É uma coisa curiosa, porém, real. Desde a época de Waldenor Pereira, lider do bloco da Maioria na era Wagner, passando depois a Zé Neto e agora Rosemberg Pinto a base governista (vários partidos) aceita o comando de um petista no plenário, mas não para ser presidente da Assembleia.

  Então, Marcelo Nilo (como diz a música "foi ficando, foi ficando" e emplacou um 5º mandato (2015-2017), Adolfo Menezes, como vice. Tinha um bom controle da Casa mas sofria do "desgaste de materiais" e o deputado Angelo Coronel (PSD), que não era assiduou no plenário, lançou-se candidato a presidência da Assembleia.

   Teria, então, ocorrido um pacto entre Otto Alencar e o vice-governador João Leão para derrubar Marcelo. Rui Costa era o governador e lavou as mãos. Marcelo estava aparentemente eleito até a véspera do pleito. Promoveu um almoço no Barbacoa da Tancredo, convocou a imprensa e levou um grupo de deputados. Discursos maravilhosos, tudo organizado. A imprensa, no entanto, ficou com a pulga atrás da orelha porque houve falhas (ou ausência de alguns deputados).
  
   Nilo passou o restante da tarde e noite dando telefonemas e fechando os apoios finais e percebeu que houve declinações. Sentiu que iria perder e renunciou a candidatura. 

   Em fevereiro de 2017, Coronel assumiu a presidência e logo depois, em 2018, seria a reeleição de Rui Costa e de 2/3 do Senado, as vagas de Walter Pinheiro e Lidice da Matta. 

   Ao contrário de Marcelo Nilo que chegou a ser tudo, na intenção, "governador", "vice-governador" e "senador" - e não foi nada, Coronel imprensou as lideranças do PT que comandavam o estado (Wagner e Rui) e disse: "Eu quero ser senador".

   E se havia duas vagas, uma que seria ocupada por Wagner; a outra seria dele. E foi. E Lidice perdeu o posto e foi candidata a deputada federal, eleita.

  No pacto firmado entre PSD e PP (veja que PT, PCdoB, PSB, etc ficaram de fora) os presidentes da Casa Legislativa seriam PSD/PP e depois PP/PSD. E assim seguiu: Quem substituiu Coronel foi o deputado pepista Nelson Leal (presidente de fev de 2021 a fev 2023) e agora é Adolfo Manezes (PSD) fev 2023/fev 2025.

  Quando houve a queda de Nilo os parlamentares votaram uma PEC acabando com a reeleição "ad-infinitum" e estabeleceu-se dois anos para cada presidente. Vários foram os discursos defendendo a democracia e a alternância de poder.

  Acontece que, na eleição de 2022, João Leão, que era o vice-governador do Estado, manifestou o desejo de ser candidato a governador com apoio do PT. Rui Costa, que estava bem avaliado como gestor e tinha o controle da base estadual fez de conta que não era com ele e sinalizou que seu nome, como de fato foi seria um petista, e emplacou Jerônimo Rodrigues passando por cima até de Jaques Wagner. 

  João leão, então, se juntou a chapa de ACM Neto colocando o seu filho nesta coligação como candidato ao Senado, o qual já saiu derrotado porque do outro lado estava o municipalista Otto Alencar, candidato à reeleçião. Acontece que, já nesta eleição, vários deputados do PP não seguiram Leão e direcionaram suas bases para Jerônimo.

  Eleito Jerônimo o jogo segue o mesmo e são algns desses deputados pepistas que estão organizando a PEC voltando o esquema na Assembleia à época de Marcelo, uma vez que o pacto que derrubou Nilo e elegeu Coronel, extingiu-se. Esquecem os discursos da democraia e da alternância do poder.

  Se ainda estivesse sido mantido o pacto, o novo presidente da ALBA seria do PP, mas como não existe mais, abriu-se a janela para a reeleição de Adolfo, o qual, hoje, emitiu uma nota dizendo que ainda é cedo para se discutir a sua sucessão, mas, não desautorizou o movimento da PEC que, como ele é o atual presidente, cairá no seu colo. O deputado Rosemberg Pinto (PT) segue no seu sonho de ser o presidente.

  Na política há um velho ditado (que vale também para outros segmentos) que diz o seguinte: "Se o cavalo passar selado não perca a montaria". E, pelo exposto, Adolfo vai montar nesse cavalito.