Lula reconheceu a corrupção e tentou fazer um mea-culpa jogando toda a responsabilidade em Moro
A entrevista do ex-presidente Lula da Silva no Jornal Nacional aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos, nesta noite de quinta-feira, 25, foi bem comportada, politicamente com alguns deslizes, em especial classificar o presidente Jair Bolsonaro de "Bobo da Corte" e menosprezar o "Centrão.
Repetiu muitos chavões do seu linguajar petista como ser o melhor presidente que o país já teve, elevar de 3 milhões para 8 milhões o número de universitários no seu governo, elogiar o MST e dizer que uma "enxurrada de velhos amigos vão reaparecer" se ele for eleito, ou seja, os ditadores da América Latina e outros, dentro do conceito de respeito a autodeterminação dos povos.
Vale observar que os apresentadores, sobretudo Bonner, a quem um dia Lula disse que lhe devia desculpas, não deu moleza ao ex-presidente e pegou-o na veia com perguntas sobre corrupção - mensalão e petrolão -, recessão no governo Dilma, hospitlidade de petistas históricos a Alckmin, agronegócio, MST, ditaduras latino-americanas, "Centrão" e economia nacional.
Dentro de sua ótica, bem treinado e usando uma "pesca" escrita em mãos, Lula respondeu a todas as perguntas, mas, obviamente, não convenceu. Nem aos apresentadores que replicaram várias questões e o grande público, salvo os petistas apaixonados.
"Durante cinco anos eu fui massacrado e estou tendo hoje a primeira oportunidade de poder falar disso abertamente ao vivo com o povo brasileiro. Primeiro: a corrupção, ela só aparece quando você permite que ela seja investigada." Ora, não foi bem assim o enredo que se viu ao longo da história. Foi investigada porque a imprensa não deu mole e a sociedade gritou e exigiu apurações. Sem saída, o governo teve que aceitar as investigações.
O ex-presidente também falou sobre o Mensalão e a Lava Jato. "Em 2005, quando surgiu a questão do Mensalão, eu cheguei e disse o seguinte: 'só existe uma de alguém não ser investigado nesse país: é não cometer erro'. Se cometer erro, vai ser investigado. E foi isso que nós fizemos. Se alguém comete um erro, alguém comete um delito, investiga-se, apura, julga, condena ou absolve e tá resolvido o problema. O que foi o equívoco da Lava Jato? É que a Lava Jato enveredou para um caminho político delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política. E o objetivo era o Lula. O objetivo era tentar condenar o Lula."
Também óbvio que o objetivo central não era condenar o Lula uma vez que o mensalão era mais abrangente, recaindo sobre o líder nacional a maior responsabilidade.
Adiante, Lula disse que "(Eu) poderia ter escolhido um Procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe e que nenhum processo vai pra frente? Eu poderia ter feito isso e não fiz. Eu escolhi da lista tríplice. Eu poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. E permiti que as coisas efetivamente acontecessem do jeito que precisava acontecer."
Questionado sobre as acusações de adversários políticos de que ele apoiaria ditaduras de esquerda na América Latina, Lula afirmou que, para um democrata, é preciso respeitar a autodeterminação dos povos.
"Cada país cuida de seu nariz. Assim que quero para o Brasil e assim que quero para os outros", disse ele. "Se eu ganhar as eleições, você vai ver a enxurrada de amigos que estão desaparecidos que vão voltar a visitar o Brasil. Porque o Brasil vai ser amigo de todo mundo", afirmou depois.
Isso significa dizer que a política exterior dele (caso eleito) será assemelhada ao praticada pelo chanceler Amorim.
Sobre o MST e a preocupação reinante de invasões de terras foi só elogios e disse que o Movimento não oupou terras produticas e hoje tem várias cooperativas, defedendo o direito dos pequenos e médios produtores de sobreviverem com dignidade.
Pelo sim; pelo não Lula saiu-se razoável na entrevista, mas, abaixo do que se esperava dele. Um dos temas mais importantes - a fome de 33 milhões de brasileiros - esqueceu de falar. Poderia também ser mais enfático e esclarecer em relação ao "Orçamento Secreto". (TF)