O argumento é de que há uma saturação de público e o trecho de orla atlântica que vai do Centro de Convenções de Salvador, na Boca do Rio, até a entrada da Avenida Pinto de Aguiar, em Patamares, seria uma alternativa para trazer mais conforto a moradores e visitantes, melhor estrutura para mobilidade, acessibilidade e serviços públicos em geral.
O prefeito Bruno Reis salientou que o documento agora será avaliado pela equipe técnica da Prefeitura. “Vamos discutir internamente os detalhes e a viabilidade de execução dessa proposta. A intenção é dar o parecer com maior brevidade possível”, assegurou.
Em nossa opinião, se houver essa mudança será uma bola murcha. Lembrando, ainda, que estamos em ano eleitoral de qualquer turbulência na trajetória do candidato a governador ACM Neto, ex-prefeito da capital e carnavalesco, podem trazer consequências desagradáveis.
Mudanças no Carnaval de Salvador sempre ocorreram desde sua implantação oficial, em 1884, até os dias atuais. Elas ocorreram, no entanto, obedecendo o traçado histórico da cidade, inicialmente no Pelourinho com os "entrudos" e as melanças com bisnagas de limão registradas até pelo cientista inglês Charles Darwin, autor de "A Origem das Espécies"; depois tendo como epicentro a Rua Chile, até a década de 1960, o coração da folia; posteriormente no circuito Campo Grande-Av Sete-Praça Castro Alves, com apogeu nas décadas de 1970/1980; no circcuito Barra/Ondina iniciado nos anos 1980 e consolidado no final da década de 1990; e a releitura do circuito Batatinha, no Pelourinho, também a partir dos anos finais de 1990.
Tudo está integrado praticamente dentro de um mesmo espaço histórico que vai da Barra ao Pelourinho com uma infra-estrutura já montada há anos, logistica de segurança já testada, aprovada e reestruturada com os portais de controle eletrônico, rede de hotéis, bares e restaurantes consolidada com centenas de pontos, shoppings, comércio, estacionamentos, cenários maravilhosos, enfim, uma base sólida para permanecer onde se encontram os 3 circutos: Pelourinho, Campo Grande, Barra.
Veja que as mudanças que aconteceram de 1884 para hoje não sepultaram a história e sim adicionaram. No momento em que se propõe acabar um circuito de grande sucesso e criar um outro no "Deserto do Saara" rompe-se esse elo, nega-se a história e desgruda-se o contexto histórico num mesmo quadrilátero territorial (Pelourinho/Campo Grande/Barra) para algo fora do esquadro (Pelourinho/Campo Grande/Patamares).
Ora, que mal faz o Carnaval da Barra/Ondina o mais querido da cidade? Nenhum. A questão é de ordenamento, de disciplinamento, fazendo um equilibrio do uso dos espaços com o Circuito Osmar (Campo Grande a Castro Alves com nova dinâmica na Carlos Gomes). Trata-se, pois, de uma organização mais adequada e não de saturação.
No "Deserto do Saara" será preciso montar toda uma infra que não existe, criar uma nova logística de segurança, matar o que ainda resta no turismo do circuito Dodô, até de certa maneira rejunescido com o Calçadão da Barra e os mais de 20 novos prédios que sobem no bairro. Ou seja, tirar o evento onde há vida, há movimento, para um local ermo, seria um grave erro. Seria matar a galinha dos ovos de ouro. (TF)