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Tasso Franco

DESAFIOS DE NETO PARA CHEGAR A GOV PASSA POR FISSURAR BASE DE RUI

Veja comentário do jornalista Tasso Franco sobre o principal ponto para Neto ter êxito, em 2022
03/12/2021 às 10:48
    O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, lançou oficialmente ontem seu nome como pré-candidato a governador da Bahia pelo DEM com apoio de outros partidos. Neto, em seu discurso no Centro de Convenções de Salvador, falou o que se esperava dele, em especial, críticas ao modelo petista de governar a Bahia - o que já vem acontecendo há 15 anos - sobretudo as áreas mais frágeis - educação, economia/desemprego e segurança; reconheceu que o modelo PT e agregados fizeram coisas relevantes; disse que a eleição estadual não se mistura com a presidencial, daí não temer a possível influência de Lula; e que, se eleito for, tem capacidade para governar com qualquer presidente eleito, quer seja Bolsonaro, Lula, Moro ou Ciro.

  De resto, disse que fará uma campanha propositiva, evocou a imagem e a memória do seu avô ACM com o jingle "ACM Meu Amor" que usará e colocou Deus e os baianos à frente de todos, o que significa dizer, com suas próprias palavras, "Se Deus permitir e os baianos confiarem em mim,  não me contentarei com nada menos do que ser o melhor governador de todo o Brasil".

  O importante destacar neste comentário é que ACM Neto se apresenta como o candidato da oposição ao governo petista na Bahia mais competitivo dentro aqueles que já disputaram o governo do estado e foram batidos por Jaques Waghner e Rui Costa, mas, ainda assim, embora seja apontado na inicial como favorito - as pesquisa apontam nessa direção - será uma eleição muito dificil para ele, uma vez que o segundo governo Rui Costa está bem avaliado. A dúvida em relação ao grupo político comandado por Wagner/Rui é se, de fato, Wagner será o candidato a governador, em 2022; ou o senador Otto Alencar (PSD); e ou o vice-governador João Leão (PP).

  No momento, Wagner é apenas o pré-candidato do PT, mas, a decisão sobre a base política (PSD, PCdoB, PP, PSB, Podemos e outros) ainda não foi tomada. E, ao que se diz, nos bastidores, Lula gostaria de ter na cabeça da chapa Otto Alencar garantindo Rui Costa no Senado. Esse decisão da constituição da chapa governista só se dará, ao que tudo indica, em março próximo. 

  Neto, aparentemente, leva vantagem na inicial uma vez que, agora, é pré-candidato oficial a governador, porém, ainda falta 'costurar' a composição da chapa, ao que tudo indica com José Ronaldo de Carvalho numa das posições diante sua liderança em Feira de Santana, o segundo mais importante colégio eleitoral do estado.

  Parece-nos, que a questão primordial na campanha Neto é, de fato, sua orfandade (até agora) com a aliança a um pré-candidato a presidência da República, uma vez que Lula apoiará o candidato da base Rui; e Bolsonaro, a possível candidatura de João Roma. Mas, uma coisa é Roma com a caneta de ministro e Roma sem a caneta a partir de maio de 2022, se candidato for.

   Quando Neto diz que a campanha presidencial não inbcluencia a estadual, na Bahia, historicamente, ele tem razão. Veja, por conseguinte, as últimas campanhas que aconteceram no estado após a redemocratização do Brasil: Waldir Pires foi eleito governador, em 1986, sem essa interferência. Num erro de Waldir, ACM voltou ao poder, eleito em 1989, distante de Collor o eleito presidente; em 1994, Paulo Souto é eleito governador e FHC, eleito no Brasil, não conhecia uma buxada de bode: César Borges, em 1998, a mesma coisa; Paulo Souto de novo, em 2002, quando Lula foi eleito presidente; Wagner, quando foi eleito, em 2006, nem Lula acreditava. Foi uma vitória da insatisfação com o 'carlismo' e graças as alianças feitas por Wagner; Wagner reeleito em 2010 com 63.83% dos votos; depois elegeu Rui, em 2014, e o PT baiano era mais importante do que o nacional, no estado, para a eleição de Dilma; e Rui foi reeleito, em 2018, quando quem ganhou foi Bolsonaro.

   Hoje, segundo as pesquisas, Lula lidera a corrida sucessória, mas, pra valer a corrida nem começou. Ainda está na fase do aquecimento. Portanto, o candidato da base Rui, não pode ficar se fiando em Lula e sim arranjar uma estratégia propositiva uma vez que, embora Rui esteja bom posicionado como governador, a insatisfação com o petismo é crescente no Estado. É nesse ponto que ACM Neto entra. Se ele conseguir alianças que possam engordar sua candidatrua (como fez Waldir, em 1986; e Wagner, em 2006) ele leva. 

   Para isso, precisa dessarrumar a base do petismo no estado onde não há sinais de fissuras. A base está unida e Rui vem fazendo um esforço enorme para mante-la unida. O ponto de inflexão é esse, mais importante do que Lula ou Bolsonaro. Se Neto não quebrar esse ponto de inflexão ficará muito dificil sua vitória.