Uma decisão errada pode comprometer até sua base aliada, em 2022, ano eleitoral
Ao que tudo indica diante das declarações do governador Rui Costa (PT) e do prefeito Bruto Reis (DEM), Salvador não terá Carnaval, em 2022, que se inciaria no dia 23 de fevereiro (quarta do Circuito Sérgio Bezerra, Barra) e vai até 1º de março, pelo menos nos moldes da grande dos carnavais de rua do passado recente nos circuitos Dodô (Barra/Ondina) e Osmar (Campo Grande/Castro Alves) diante dos temores do reaquecimento da pandemia.
O governador ficou irritado com uma decisão tomada pela Câmara de Vereadores de Salvador que exigiu das autoridades governamentais, até o próximo dia 15, uma decisão se haverá ou não o Momo.
Rui se pronunciou: "Olha, eu não aceito ultimato de ninguém quando se trata de vida humana. Não aceito e não aceitarei ultimato de ninguém. Reconheço a legitimidade de quem é investidor e de quem tem no Carnaval a sua atividade econômica, quem investe em camarotes, blocos, quem teve resultado positivo de R$ 5 milhões, R$15 milhões, acho que isso faz parte da atividade econômica da Bahia, gera emprego, gera renda. Mas, do outro lado, eu tenho 15 milhões de pessoas que eu tenho que cuidar da saúde".
Já o prefeito Bruno Reis foi enfático: "A prefeitura sozinha não tem condições de realizar o Carnaval, por mais que seja o principal executor. Mas não há como se falar do Carnaval sem a participação do governo do Estado. Vamos ter conversa, eu e governador, sem pressão dos setores, sem agonia dos envolvidos".
O vereador Cláudio Tinoco (DEM) presidente da comissão da CMS que cuida do Carnaval, ressalta que o documento é uma recomendação e um resultado das opiniões ouvidas nas duas audiências públicas realizadas. Portanto, as medidas não são obrigatórias ou arbitrárias. “Este é o prazo limite para que as providências no âmbito do poder público e da iniciativa privada tenham condições de serem executadas. Uma licitação pode levar 90 dias para ser concluída, sem contar com o lançamento e comercialização dos blocos e produção”, explica Tinoco. De segunda (15/11) até 23 de fevereiro, data do Carnaval 2022, o período é de 100 dias.
Ou seja, Tinoco comenta (noutras palavras) que nem Rui; nem Bruno devem entender o assunto como uma pressão aos poderes executivos, uma vez que, em tese, o tema já vem sendo debatido há algum tempo, e eles têm conhecimento. Portanto, não se trata de pressão e sim de urgência, uma vez que o Carnaval de Salvador tem uma engrenagem imensa e são necessários prazos e clareza de decisões.
De fato, pelo andor da carruagem e se o governador não tomar uma decisão pelo menos até o final de novembro, o Carnaval ficará inviável. E, para Rui tomar essa decisão, com a pandemia do coronavirus ainda tendo 2.480 pessoas ativos infectados e uma média de 30/50 mortos por semana, é muito difícil e arriscada. Então, independente da postura do governador em sentir-se pressionado, Rui tem razão ao dar tempo ao tempo para tomar uma decisão, e o prefeito Bruno Reis, idem.
O Carnaval de Salvador - reconhecidamente violento - sem segurança não existe. E quem dá essa segurança é a PM. E quem comanda a PM é o governador.
Lembrando, ainda, que 2022 é ano eleitoral para o governo da Bahia, Senado, Câmara Federal e Assembleia Legislativa e uma tomada de decisões de Rui, se for errada, prejudicará imensamente o candidato da sua base aliada à sua sucessão. Vê-se, pois, pertinentes as preocupações (e cautela) do governador. E a julgar pelo tempo que falta até o 'start' do momo (pouco mais de 100 dias) aquele 'carnavalzão' de rua dificilmente acontecerá, mesmo obedecendo todos os protocolos de quem já foi vacinado e controle nos postos de acesso à festa.
Controlar 1 milhão de pessoas come o virus solto no ar, invisível, é uma tarefa quase impossível. O Carnaval de Salvador, por posto, traz, ainda, muita gente de outros municípios e estados. (TF)